Startup australiana amplia monitoramento espacial para órbitas altas e mira até asteroides

Tecnologia

Sydney, Austrália – A HEO, empresa australiana especializada em capturar imagens de outros satélites a partir do espaço, anunciou planos para estender seu serviço de monitoramento além da órbita baixa da Terra (LEO) e alcançar tanto a órbita geoestacionária (GEO) quanto objetos que se aproximam do planeta, como asteroides.

Serviço de inspeção ganha fôlego após 4 000 missões concluídas

Durante um evento paralelo ao Congresso Internacional de Astronáutica, o cofundador e diretor-executivo da HEO, Will Crowe, apresentou o avanço da companhia no segmento conhecido como non-Earth imaging – a captura de imagens de naves espaciais por outras naves em órbita. Segundo Crowe, a HEO já realizou cerca de 4 000 “missões” (passagens de satélites com sensores por um alvo de interesse) e registrou mais de 800 veículos espaciais, incluindo constelações Starlink, satélites Project Kuiper e a estação chinesa Tiangong.

A empresa não possui constelação própria. Em vez disso, faz parcerias com operadoras de sensoriamento remoto que cedem tempo de uso dos satélites quando estes atravessam áreas sem demanda, como oceanos. “Isso reduz drasticamente o custo para nossos clientes”, afirmou Crowe, destacando a colaboração como peça-chave para manter o serviço financeiramente acessível.

Os resultados evoluíram rapidamente. A HEO classificou a qualidade de imagem obtida em 2023 como “nível 5” em uma escala de 1 a 10. Em 2024, o uso de câmeras de desenvolvimento interno elevou a nitidez para “10+”, permitindo identificar detalhes de módulos da Tiangong e o posicionamento de seu braço robótico. “Quase dá para ler a inscrição na lateral”, comentou o executivo.

Diagnóstico em órbita ajuda a recuperar satélites avariados

Imagens de alta resolução já evitaram perdas milionárias, segundo relatos de operadoras. Em um dos casos citados, um satélite em rotação descontrolada foi detectado; com o diagnóstico, a equipe em solo realizou manobras de estabilização e retomou a missão. Em outro exemplo, percebeu-se que um painel solar não havia se aberto, permitindo correção antes que a falha comprometesse o sistema de energia.

Atualmente, as câmeras da HEO conseguem observar satélites em altitudes de até 700 km. O próximo passo é instalar novos sensores em plataformas capazes de subir a 1 200 km. “Há ativos críticos nessa faixa e crescente preocupação sobre tudo que está sendo lançado ali”, explicou Crowe, em referência ao aumento de tráfego e às disputas por recursos orbitais.

Expansão para GEO tem início previsto em 2027

A meta mais ambiciosa, entretanto, é chegar à órbita geoestacionária, localizada a cerca de 35 786 km de altitude. De acordo com o executivo, clientes pedem a cobertura de GEO “há muito tempo”, principalmente para monitorar satélites de comunicações que movimentam bilhões de dólares em receita anual.

Para atingir essa região, a HEO firmará parceria com empresas que já operam espaçonaves próximas à faixa geoestacionária, instalando câmeras e sistemas de propulsão que permitam manobras de inspeção pontuais. O serviço comercial deverá estar disponível em janeiro de 2027, e a companhia afirma já ter encomendas fechadas.

Especialistas em segurança espacial observam que a iniciativa reforça o conceito de space situational awareness (SSA), vital para prevenir colisões e identificar anomalias em tempo real. Relatórios da Agência Espacial Europeia indicam que objetos não monitorados em GEO representam risco crescente, pois permanecem ali por séculos sem reentrar na atmosfera.

Olho em asteroides que cruzam a órbita geoestacionária

O plano de longo prazo da HEO vai além do monitoramento de satélites. A empresa estuda utilizar plataformas em fim de vida útil em GEO para observar asteroides que passem “perto” dessa região. Segundo estimativas internas, ao menos 30 asteroides com mais de 19 m de diâmetro devem atravessar a vizinhança da órbita geoestacionária nos próximos anos.

Em 2023 ocorreram quatro oportunidades desse tipo. A ideia é aproveitar o combustível remanescente, que normalmente seria usado para enviar o satélite a uma órbita-cemitério, e redirecionar a nave para captar imagens científicas dos corpos celestes. O exemplo mais emblemático é o asteroide Apophis, que deverá passar dentro da faixa GEO em abril de 2029. “É uma chance que não podemos perder”, ressaltou Crowe.

Impacto para operadores e usuários

A possibilidade de inspeção visual de alta qualidade em diversas órbitas tende a reduzir custos de manutenção, evitar perdas de satélites e aumentar a previsibilidade de serviços como internet via satélite, telefonia e TV. De acordo com analistas de mercado, a combinação de monitoramento regular e acesso mais barato a dados pode ainda estimular novos modelos de seguro para operadoras.

Para o usuário final, a expectativa é de maior confiabilidade nos serviços conectados, refletindo em menor número de interrupções. Além disso, o incremento de informações sobre detritos em órbita fortalece esforços internacionais de mitigação de lixo espacial, tema considerado prioritário pela ONU.

Curiosidade

O termo “non-Earth imaging” utilizado pela HEO é relativamente novo. Ele surgiu na última década para diferenciar a observação de objetos artificiais no espaço da tradicional “Earth observation”, voltada ao monitoramento do nosso planeta. A sigla NEI vem sendo discutida em conferências globais como um dos mercados emergentes mais promissores da indústria espacial.

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