Startup americana fecha 12 lançamentos com a SpaceX para fabricar semicondutores no espaço

Ciência

A Besxar, jovem empresa sediada em Washington (EUA), assinou acordo com a SpaceX para embarcar 12 cargas experimentais em foguetes Falcon 9. Os voos começam ainda este ano e devem se estender por 12 meses, permitindo à companhia testar um novo processo de fabricação de semicondutores no vácuo espacial.

Como funcionarão os voos de teste

Cada lançamento levará dois módulos chamados “Fabship” presos ao primeiro estágio do foguete. Esses módulos, com dimensões próximas às de um forno de micro-ondas, permanecem acoplados ao propulsor durante toda a missão. Após o lançamento, o Falcon 9 realiza o retorno controlado habitual, pousando cerca de dez minutos depois e trazendo de volta as cargas intactas.

De acordo com a fundadora e diretora-executiva Ashley Pilipiszyn, o objetivo inicial é verificar se as lâminas de silício resistem às condições de subida e reentrada sem deformações, rachaduras ou contaminação. A executiva compara o experimento a um “desafio do ovo”, referência a testes acadêmicos em que se tenta proteger objetos frágeis de quedas.

A Besxar batizou essa primeira geração de cargas de “classe Clipper”. A escolha de múltiplos voos consecutivos permitirá ajustes rápidos no design, reaproveitamento de hardware e redução de custos, estratégia semelhante à adotada pela SpaceX em seus protótipos de pouso do Starship.

Motivação: o vácuo natural do espaço como sala limpa

Embora diversos projetos de manufatura orbital apostem na microgravidade, a Besxar mira principalmente o vácuo profundo acima da atmosfera. Segundo a empresa, a ausência quase total de partículas pode substituir parte da infraestrutura caríssima exigida pelas chamadas salas limpas em fábricas terrestres de chips.

Dados públicos indicam que a TSMC investe cerca de US$ 50 bilhões em novas plantas avançadas, valor em grande parte destinado a equipamentos de filtragem e controle de contaminação. A startup norte-americana argumenta que, no espaço, essa condição se estabelece naturalmente, potencialmente cortando gastos e elevando a pureza dos waferes.

“Microgravidade é um bônus, mas o elemento crítico para nós é o vácuo”, afirma Pilipiszyn. A meta de longo prazo é incorporar os chips produzidos orbitalmente à cadeia nacional de suprimentos, mantendo a competitividade dos EUA frente à China.

Estratégia comercial e financiamento

A assinatura dos 12 voos coloca a Besxar numa posição singular: a companhia tem, hoje, mais missões contratadas do que funcionários. O capital inicial veio de investidores-anjo estratégicos e fundos institucionais. Os valores não foram divulgados, mas, segundo a CEO, o montante cobre toda a campanha da classe Clipper.

Especialistas em economia espacial apontam que a iniciativa reflete uma mudança de paradigma: o principal custo deixa de ser o preço por quilograma em órbita e passa a ser o tempo de ciclo entre lançamentos. Ao reutilizar tanto os propulsores do Falcon 9 quanto parte das cargas, a Besxar pretende iterar seus protótipos em ritmo acelerado, algo difícil de atingir em lançamentos tradicionais destinados a colocar satélites em operação.

Próximos passos dentro de um ano

Os voos da classe Clipper servirão para validar materiais, processos de deposição e a robustez dos equipamentos. Concluída essa etapa, a empresa planeja avançar para uma nova fase, ainda sem detalhes públicos. O cronograma divulgado sugere que as primeiras cargas experimentais podem ultrapassar o estágio de validação de voo já em 2025, abrindo caminho para lotes de produção piloto.

Relatórios do setor indicam que a demanda por chips de alta pureza deve crescer com aplicações em 5G, IA e computação de alto desempenho. Se a Bexsar conseguir provar que o espaço pode oferecer vantagens competitivas, fornecedores tradicionais poderão rever seus planos de expansão em terra.

Impacto para o mercado e para o consumidor

Para a indústria de tecnologia, fabricar semicondutores fora da Terra pode significar redução de contaminação, economia de recursos e ganhos de escala inéditos. No médio prazo, essas eficiências têm o potencial de baixar custos de componentes e acelerar o lançamento de dispositivos mais poderosos. Para o consumidor final, isso pode se traduzir em smartphones, computadores e carros conectados com maior desempenho e menor preço.

Curiosidade

Em 1967, a missão Apollo 4 já testava escudos térmicos para proteger equipamentos eletrônicos na reentrada, mas ninguém imaginava fabricar chips no espaço. Mais de 50 anos depois, a Besxar retoma o conceito de aproveitar o ambiente extraterrestre — não para proteger, mas para criar semicondutores de forma mais pura que qualquer sala limpa terrestre.

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