MOUNTAIN VIEW, Califórnia — Empresas do segmento espacial comercial começaram a tratar a cibersegurança como parte essencial do negócio, e não mais como simples despesa, segundo executivos reunidos no MilSat Symposium em 29 de outubro. O movimento reflete o crescimento de constelações interconectadas, a sofisticação das ameaças virtuais e o impacto financeiro de incidentes recentes.
Disparidade entre prioridades governamentais e comerciais
Joe Bravman, engenheiro-chefe da Lynk Global, destacou que as exigências de defesa do governo diferem significativamente das metas do mercado privado. Enquanto órgãos militares precisam blindar satélites para cenários de guerra, operadoras comerciais sem contrato governamental tendem a investir apenas no que consideram indispensável. “Se não houver obrigação, a verba não aparece”, afirmou.
O custo de tecnologias de criptografia é apontado como barreira central. Equipamentos certificados por agências como a NSA exigem validações extensas, produção em lotes pequenos e auditorias de terceiros, fatores que elevam o preço final. “São produtos excelentes, mas caros demais para boa parte do setor”, acrescentou Bravman.
Modelo reativo mostra sinais de esgotamento
Talbot Jaeger, fundador e diretor-tecnológico da fabricante NovaWurks, observou que a indústria sempre tratou a proteção digital de forma reativa, concentrando defesas em estações em solo e agindo apenas após invasões. Segundo ele, arquiteturas espaciais projetadas antes da onda atual de ciberataques não contemplam riscos emergentes.
Fatores como cadeia de suprimentos fragmentada e requisitos inconsistentes entre contratos civis e militares agravam o problema. “Sem padrões mínimos obrigatórios ou incentivos diretos, a integração de segurança continuará desigual”, alertou Jaeger.
Além da criptografia: proteger roteamento e TT&C
Embora a criptografia garanta confidencialidade de dados, especialistas lembram que ela cobre apenas parte do risco. Bravman chamou atenção para a necessidade de resguardar também o roteamento e os sistemas de Telemetria, Rastreamento e Comando (TT&C), canais que permitem monitorar e controlar os satélites. “Se alguém comprometer seu TT&C, o satélite pode ser perdido”, disse.
Para contornar custos elevados, o executivo sugeriu adotar padrões do 3rd Generation Partnership Project (3GPP), responsável por protocolos de comunicações móveis. Esses referenciais, segundo ele, estão evoluindo para incluir camadas de segurança que dispensam hardware de criptografia de alto valor.
Indústria antevê onda de requisitos formais
A demanda crescente beneficiou empresas como a Innoflight, fabricante de eletrônicos espaciais com múltiplas camadas de proteção e criptografia compatível com normas militares. O presidente da companhia, Jeffrey Janicik, disse esperar “uma onda de exigências” vindas tanto de clientes públicos quanto privados. Ele defendeu um sistema de certificação que estabeleça notas mínimas — seja para a arquitetura, seja para o veículo ou a estação de controle — como condição de elegibilidade em licitações.
Na avaliação de Janicik, sem um critério uniforme, o mercado continuará propenso a falhas. “Tem de chegar ao ponto em que, sem a classificação adequada, a empresa não pode concorrer. Não há outra saída”, comentou.
Integrar segurança desde o projeto reduz custos futuros
Todos os palestrantes convergiram na ideia de que inserir cibersegurança na fase de concepção do satélite é mais econômico que remediar vulnerabilidades depois do lançamento. Relatórios do setor indicam que violações podem causar perdas financeiras significativas, inclusive paralisação de serviços e danos reputacionais.

Imagem: Internet
Ferramentas de inteligência artificial começam a aparecer como aliadas. Segundo Bravman, algoritmos de detecção comportamental ajudam a identificar anomalias de tráfego em tempo real, reduzindo a janela entre invasão e resposta.
Impacto para empresas e usuários finais
Na prática, o avanço de requisitos obrigatórios tende a elevar o custo inicial de novos satélites, mas também amplia a confiança de clientes que dependem de conectividade global, streaming ou operações de Internet das Coisas. Para o consumidor, a expectativa é de serviços mais estáveis, com menor risco de interrupções causadas por ataques cibernéticos.
Segundo analistas, companhias que “pagarem agora” — investindo em arquitetura segura — poderão evitar prejuízos operacionais e multas regulatórias no futuro. Já quem insistir no modelo reativo corre o risco de enfrentar custos muito superiores.
Curiosidade
Embora a preocupação com segurança pareça recente, o primeiro satélite a empregar criptografia avançada foi lançado em 1992, no âmbito de um programa militar norte-americano. Desde então, a capacidade de processamento dentro dos veículos passou de quilobits para gigabits por segundo, permitindo integrar camadas múltiplas de defesa sem comprometer a telemetria. O desafio atual é replicar essas soluções de forma acessível ao mercado comercial.
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