O planeta Vênus voltou a não contar com nenhuma nave em operação. A Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA) declarou, em 28 de outubro, o fim oficial das atividades da sonda Akatsuki, também conhecida como Venus Climate Orbiter. O anúncio foi feito mais de um ano após a perda de comunicação definitiva com o artefato, registrada em 29 de maio de 2024.
Missão superou falha inicial e triplicou vida útil prevista
Lançada em 2010 com orçamento estimado em US$ 300 milhões, Akatsuki tinha como principal objetivo estudar a dinâmica atmosférica de Vênus, caracterizada por temperaturas capazes de derreter chumbo e pressões que destroem sondas de superfície em minutos. A meta inicial era cumprir 4,5 anos de serviço em órbita; contudo, a nave permaneceu funcional por quase 14 anos, segundo dados oficiais da JAXA.
A trajetória da missão foi marcada por uma falha crítica ainda no primeiro ano. Um problema no motor principal impediu a manobra de inserção orbital em 2010, obrigando o veículo a permanecer em órbita solar durante cinco anos. Em 2015, num esforço considerado inédito, a equipe recorreu a pequenos propulsores de controle de atitude — menos potentes que o sistema original — e conseguiu colocar a sonda em órbita de Vênus. O procedimento nunca havia sido tentado da mesma maneira, ressaltou a agência.
Apesar das dificuldades, Akatsuki entregou 178 artigos científicos publicados e manteve funcionando quatro de seus seis instrumentos até o encerramento. As duas câmeras infravermelhas falharam em 2016, mas os demais sensores seguiram operacionais até a interrupção das transmissões em 2024.
Descobertas sobre “super rotação” e ondas gravitacionais
Entre os principais resultados, a sonda ajudou a elucidar o fenômeno conhecido como super rotação, em que ventos na alta camada de nuvens circulam o planeta em cerca de quatro dias terrestres — 60 vezes mais rápido que a lenta rotação venusiana de 243 dias. De acordo com análises de imagens sucessivas, a aceleração dos ventos varia com o horário solar local, sugerindo que o aquecimento pelo Sol é o motor que mantém essa velocidade extrema.
Akatsuki também registrou uma formação atmosférica em forma de arco que persistiu por ao menos quatro dias terrestres. Pesquisadores associam a estrutura ao relevo montanhoso do planeta, que induziria ondas gravitacionais capazes de transportar massa de camadas inferiores até altitudes superiores — fenômeno observado em escala bem menor na Terra.
Especialistas apontam que essas descobertas têm reflexos na busca por planetas habitáveis fora do Sistema Solar. Vênus apresenta rotação lenta e quase bloqueada, cenário semelhante ao de muitos exoplanetas identificados em zonas habitáveis. Caso a redistribuição de calor por ventos super-rotacionais seja comum, mundos teoricamente hostis poderiam manter atmosferas estáveis.
Futuro da exploração venusiana depende de novos projetos
Com a extinção de Akatsuki, Vênus fica novamente sem sondas ativas. Entre as missões em desenvolvimento, a NASA planeja a sonda atmosférica DAVINCI e o orbitador VERITAS, enquanto a Agência Espacial Europeia (ESA) trabalha no projeto EnVision. Relatórios indicam, entretanto, que cortes orçamentários nos Estados Unidos colocam o cronograma de DAVINCI e VERITAS em risco, o que pode prolongar o hiato de observação direta do planeta.

Imagem: Elizabeth Howell published
Segundo pesquisadores, a ausência de dados contínuos compromete a compreensão dos processos climáticos venusianos e limita comparações com dinâmicas terrestres. Além disso, Vênus é frequentemente citado como exemplo extremo de efeito estufa descontrolado, servindo de alerta para modelos de mudança climática aplicados à Terra.
Impacto para o leitor: sem uma sonda em operação, novidades sobre Vênus tendem a diminuir nos próximos anos, o que pode atrasar avanços em pesquisa climática, desenvolvimento de tecnologias de resistência a altas temperaturas e estudos sobre habitabilidade em exoplanetas.
Curiosidade
Embora Vênus tenha perdido sua última missão ativa, o planeta já foi destino de mais de 40 sondas desde a década de 1960. A União Soviética conseguiu, em 1982, pousar a Venera 13, que resistiu apenas 127 minutos na superfície abrasadora. Em comparação, Akatsuki operou quase 5.000 dias em órbita, mostrando como a tecnologia espacial evoluiu para enfrentar condições extremas, ainda que desafios persistam.
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