K2 Space, fabricante de satélites sediado na Califórnia, confirmou o lançamento da missão Trinity para 2027 a bordo de um foguete SpaceX Falcon 9. A operação prevê colocar três espaçonaves em regimes orbitais distintos — baixa (LEO), média (MEO) e órbita de transferência geoestacionária (GTO) — com o objetivo de validar uma plataforma única capaz de operar em diferentes altitudes.
Três órbitas em um único lançamento
De acordo com a empresa, dois satélites serão inicialmente liberados em LEO. Um permanecerá nessa altitude por um período para, em seguida, elevar-se gradualmente a MEO; o outro iniciará a subida imediatamente, com meta de concluir a manobra em até 90 dias. O terceiro veículo seguirá direto para a GTO, região conhecida por níveis elevados de radiação e historicamente desafiadora para sistemas de baixa massa.
Segundo executivos da K2 Space, a proposta é demonstrar que um mesmo bus — a estrutura principal do satélite — pode atender diferentes requisitos orbitais sem grandes redesigns. “Decidimos comprovar a versatilidade do nosso modelo realizando uma missão que abrange as três regiões em apenas um voo”, afirmou o cofundador e CEO Karan Kunjur.
Antecedentes: testes e apoio governamental
A Trinity sucede uma série de ensaios em órbita. No início de 2024, componentes críticos desenvolvidos internamente — computador de bordo, rodas de reação e aviônicos — foram validados num satélite de outra companhia. A K2 ainda não testou em voo seu sistema de propulsão elétrica, um propulsor Hall-effect de 20 kW, mas o equipamento já passou por disparos em solo na sede da empresa, em Torrance, Califórnia.
Antes da Trinity, a K2 Space prevê colocar em operação, em 2026, a missão Gravitas, financiada pela U.S. Space Force. Nessa ocasião, um satélite da classe Mega voará inicialmente em LEO e elevará a órbita até diferentes altitudes de MEO, carregando 12 cargas úteis de segurança nacional e comerciais — entre elas, um pathfinder para a SES, operadora de banda larga em MEO. O objetivo é avaliar a sobrevivência do veículo em ambientes de radiação intensa.
Relatórios da empresa indicam que o satélite Mega pode transportar cargas de aproximadamente 1 000 kg e é equipado com dois propulsores de 20 kW para realizar manobras prolongadas.
Modelo econômico mira redução de constelações em LEO
Com US$ 180 milhões em capital de risco e cerca de US$ 50 milhões em contratos governamentais e comerciais, a K2 Space aposta numa tese simples: elevar constelações de LEO para MEO diminui o número total de satélites necessários para cobertura global. “Se uma frota exige 150 unidades em órbita baixa, pode precisar de apenas 50 em órbita média”, explicou John Plumb, diretor de estratégia da empresa e ex-funcionário do Pentágono.
Cada plataforma Mega é anunciada por US$ 15 milhões e pode ser vendida como ônibus compartilhado para vários clientes ou dedicada a um único operador. Especialistas do setor apontam que as soluções atuais de baixo custo não foram projetadas para suportar a radiação de MEO e além; a K2 afirma preencher essa lacuna com seu desenho endurecido contra radiação.
Imagem: Internet
Demanda de clientes e espaço disponível
A companhia não divulgou a lista completa de clientes para 2027, mas confirma que os principais já estão contratados. Um deles, participante da Gravitas em 2026, adquiriu um satélite inteiro para a Trinity. Outro órgão governamental também retorna com nova carga útil. Ainda há espaço disponível para hospedagem de experimentos, detalhou Kunjur, que vê interesse crescente em missões iterativas para redução de risco tecnológico.
Impacto potencial para mercado e usuários
Se a Trinity comprovar a viabilidade de um bus único em distintas órbitas, operadoras poderão substituir grandes constelações em LEO por grupos menores em MEO ou até missões específicas em GTO, reduzindo custos de lançamento e operações. Para o consumidor final, isso pode resultar em serviços de comunicação mais estáveis e com menor latência, além de novas aplicações de monitoramento e defesa que demandem potência elétrica elevada.
Curiosidade
O nome “Trinity” remete ao conceito religioso de três entidades em um só ser, uma metáfora escolhida pela K2 Space para representar seu satélite multifuncional capaz de atuar em três ambientes orbitais distintos. Segundo historiadores do setor espacial, missões anteriores que tentaram cobrir múltiplas órbitas normalmente exigiram plataformas diferentes; caso tenha sucesso, a empresa poderá estabelecer um novo padrão de flexibilidade para veículos de médio porte.
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