ESA detalha megaprograma para reforçar segurança espacial da Europa

Ciência

A Agência Espacial Europeia (ESA) apresentou novos pormenores do European Resilience from Space (ERS), iniciativa de 1,2 bilhão de euros voltada a fortalecer a capacidade de defesa, resposta a crises e autonomia estratégica do continente. O pacote será submetido aos Estados-membros durante a conferência ministerial marcada para 26 e 27 de novembro, em Bremen, na Alemanha.

Três pilares: observação da Terra, navegação e comunicações

Segundo informações oficiais divulgadas na conferência “European Resilience from Space”, em Bruxelas, o ERS articula três linhas de atuação:

1. Observação da Terra: orçamento inicial de 750 milhões de euros para desenvolver uma constelação de satélites ópticos e de radar. A etapa começa com a integração de sistemas já operados por países europeus, aproveitando a capacidade ociosa—avaliada em até 60 %—para fornecer imagens adicionais a parceiros. A meta, de acordo com a ESA, é evoluir para monitoramento quase em tempo real, com revisitas de até 30 minutos a um mesmo ponto.

2. LEO PNT: 250 milhões de euros serão destinados à criação de uma rede em órbita baixa dedicada a posicionamento, navegação e tempo (PNT). O conjunto atuará como complemento ao Galileo, aumentando a resiliência contra interferências e oferecendo redundância em caso de falhas do sistema principal.

3. Comunicações seguras: a agência prevê 50 milhões de euros para estudos preliminares e outros 150 milhões para missões de demonstração que darão sequência ao projeto IRIS², considerado o “backbone” de conectividade de alta segurança para missões de observação e PNT.

Motivação geopolítica e necessidade de coordenação

O diretor-geral da ESA, Josef Aschbacher, destacou que ameaças crescentes, principalmente a partir da guerra na Ucrânia, evidenciam a urgência de um sistema europeu robusto e menos dependente de fornecedores externos. “Ainda somos demasiado fragmentados para garantir uma verdadeira resiliência espacial europeia”, afirmou em discurso preparado.

Documentos internos apontam que vários Estados utilizam hoje satélites nacionais de forma isolada, o que resulta em sobreposições de investimento e cobertura desigual. O ERS busca harmonizar essas capacidades, evitando duplicações e alcançando economias de escala.

Calendário e próximos passos

Se aprovado, o programa seguirá o modelo de parcerias anteriores entre ESA e Comissão Europeia, como Galileo e Copernicus. A ESA ficaria responsável pelo desenvolvimento tecnológico e pela integração de sistemas, enquanto a Comissão assumiria a fase operacional. O cronograma prevê o lançamento dos primeiros satélites de demonstração até 2028.

A agência ressalta que os 1,2 bilhão de euros representam apenas a etapa inicial. Futuros aportes poderão vir do próximo Quadro Financeiro Plurianual da União Europeia, cujo esboço inclui um Fundo de Competitividade para defesa e espaço estimado em 13 bilhões de euros.

Integração com programas existentes

Especialistas observam que o ERS poderá complementar o Copernicus—referência mundial em monitoramento ambiental—com foco explícito em segurança e defesa. Já o módulo de PNT em órbita baixa funcionará como camada adicional ao Galileo, parecido com as constelações norte-americanas que utilizam satélites em diferentes altitudes para maior robustez do sinal. No campo de comunicações, o IRIS² deverá fornecer enlace criptografado entre unidades terrestres, aeronaves, drones e embarcações, aumentando a proteção contra tentativas de bloqueio ou espionagem.

Desafios técnicos e limitações

Questionado sobre a possibilidade de os satélites serem completamente livres de componentes sujeitos à legislação norte-americana ITAR, Aschbacher reconheceu: “É altamente desejável, mas ainda distante da realidade.” A dependência de fornecedores não europeus, sobretudo em semicondutores avançados, continua sendo um obstáculo para uma autonomia plena.

Outro desafio será integrar dados ópticos, de radar, infravermelho e radiofrequência num fluxo único, exigindo avançados sistemas de computação de borda e enlaces intersatélite a laser. A ESA pretende validar essas tecnologias nas missões-piloto, reduzindo riscos antes da fabricação em série.

Impacto potencial para governos, indústria e cidadãos

Em termos práticos, um sistema de observação com revisita de 30 minutos permitirá responder mais rápido a incêndios florestais, enchentes e acidentes ambientais. Governos obterão maior consciência situacional para missões de busca e salvamento, enquanto infraestruturas críticas—como redes elétricas e oleodutos—poderão ser monitoradas continuamente contra sabotagem. Do ponto de vista econômico, relatórios da ESA indicam que cada euro investido em programas espaciais retorna múltiplos em contratos industriais, patentes e criação de empregos altamente qualificados.

Para o público em geral, a camada adicional de PNT pode traduzir-se em serviços de navegação mais precisos em áreas urbanas densas, além de proteção contra sinais falsos (spoofing) que afetam aplicativos de transporte, agricultura de precisão e operações financeiras.

Curiosidade

O conceito de “resiliência espacial” ganhou força depois que detritos orbitais de um teste antisatélite russo, em 2021, obrigaram a tripulação da Estação Espacial Internacional a procurar abrigo. O incidente evidenciou como atividades de defesa podem afetar todos os utilizadores do espaço e impulsionou debates sobre monitoramento constante e rotas de evasão, temas diretamente relacionados aos objetivos do ERS.

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O projeto ERS mostra como a Europa pretende ampliar sua autonomia e segurança em um cenário internacional volátil. Se aprovado, o programa não só garantirá monitoramento mais frequente do território europeu como também abrirá oportunidades para empresas de tecnologia participarem de contratos de alto valor. Acompanhe outras iniciativas que podem transformar o setor espacial acessando a seção de tecnologia do nosso portal em Remanso Notícias.

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