A Agência Espacial Europeia (ESA) trabalha nos ajustes finais de um conjunto de programas avaliado em 22 milhões de euros para os próximos três anos. A proposta será submetida aos 22 Estados-membros durante a conferência ministerial marcada para 26 e 27 de novembro, em Bremen, na Alemanha.
Pacote de três anos entra na reta final
Após reunião do Conselho da ESA em 23 de outubro, o diretor-geral Josef Aschbacher informou que o valor global do pacote permanece “mais ou menos inalterado” em torno de 22 bilhões de euros. Um novo encontro do Conselho está previsto para 7 de novembro, quando os representantes nacionais deverão fechar os últimos pontos antes de apresentar a proposta aos ministros.
Segundo o executivo, a maior parte dos programas já recebeu aval técnico e financeiro, mas nem todos alcançarão o nível de investimento originalmente pretendido. Estatisticamente, entre 93% e 95% dos recursos solicitados costumam ser aprovados nas conferências ministeriais, de acordo com histórico da própria ESA.
Para aumentar a robustez do portfólio, cada projeto passou por revisões independentes conduzidas pela Inspetoria-Geral da agência. As análises resultaram em cerca de 400 recomendações implementadas antes do encontro de Bremen, medida que, segundo Aschbacher, reduz riscos de atrasos e estouros de orçamento.
Reformulação de missões e incertezas externas
A principal alteração anunciada foi a retirada da missão de observação da Terra TRUTHS (Traceable Radiometry Underpinning Terrestrial- and Helio-Studies). Concebida para calibrar modelos climáticos com medições precisas da radiação solar, a iniciativa perdeu viabilidade financeira após o Reino Unido, seu maior apoiador, recuar na participação durante revisão de gastos domésticos.
Além da exclusão de TRUTHS, a ESA monitora o cenário orçamentário dos Estados Unidos. A proposta de orçamento fiscal de 2026 da NASA, apresentada em maio, prevê cancelamentos relevantes, como o programa lunar Gateway, o módulo de serviço Orion após a missão Artemis III e o retorno de amostras de Marte (Mars Sample Return). Essas ações afetam diretamente compromissos conjuntos, entre eles o desenvolvimento europeu do Earth Return Orbiter e os sistemas críticos para o rover Rosalind Franklin.
Apesar da indefinição, o diretor-geral afirmou que a ESA “segue em frente” com o módulo de serviço Orion e com a contribuição europeia ao Gateway. Já para o Mars Sample Return, a agência trabalha em um plano B que transformaria o Earth Return Orbiter em uma missão marciana autônoma, caso o projeto seja oficialmente interrompido nos EUA.
Desafios internos de financiamento
Entre os países membros, a França—tradicionalmente um dos maiores contribuintes—ainda não concluiu seu próprio orçamento nacional devido a rearranjos políticos internos. Aschbacher relatou que o governo francês está “fazendo todo esforço” para manter os níveis de investimento, mas a definição final só deverá ocorrer a poucas semanas da conferência.
Especialistas lembram que atrasos na confirmação das contribuições podem obrigar a ESA a escalonar ou redimensionar projetos. Na prática, missões consideradas menos estratégicas tendem a sofrer cortes, enquanto iniciativas alinhadas a políticas de competitividade e segurança europeia ganham prioridade.
Project Bromo reposiciona indústria espacial europeia
Horas antes da reunião do Conselho, Airbus, Leonardo e Thales anunciaram a criação de uma joint venture provisoriamente chamada Project Bromo. O consórcio, que reunirá 25 mil empregados e faturamento anual estimado em 6,5 bilhões de euros, unirá grande parte das atividades espaciais das três companhias.

Imagem: Internet
Como Airbus Defence and Space e Thales Alenia Space são fornecedores centrais da ESA, a fusão deve diminuir a concorrência em futuras licitações. Aschbacher reconheceu o impacto, mas declarou não ver motivo de preocupação imediata: “A agência se adapta continuamente ao ecossistema e adotará medidas para que empresas grandes, médias ou pequenas continuem competindo e prosperando.”
De acordo com analistas de mercado, um grupo industrial mais concentrado pode acelerar prazos de entrega, mas também exige mecanismos de governança para evitar dependência excessiva de um único fornecedor. A avaliação detalhada do Projeto Bromo pela ESA ocorrerá somente após a conferência ministerial, para não interferir nas negociações orçamentárias em curso.
O que muda para o setor e para o público
A definição do pacote de 22 bilhões de euros vai orientar a atividade espacial europeia até 2027, abrangendo missões científicas, observação da Terra, telecomunicações e exploração lunar. Para empresas, universidades e centros de pesquisa, a sinalização é crucial para planejar investimentos e equipes. Para o cidadão, os programas de climatologia, navegação e conectividade poderão gerar serviços avançados de previsão do tempo, internet via satélite e monitoramento ambiental.
Curiosidade
Embora tenha sido retirada do plano atual, a missão TRUTHS contava com um instrumento inovador para comparar, com altíssima precisão, a luz que chega do Sol e a refletida pela Terra. Essa “balança de radiação” permitiria estabelecer um padrão global de calibração, reduzindo discrepâncias entre satélites de diferentes países e proporcionando dados climáticos mais confiáveis para pesquisadores de todo o mundo.
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Este texto resumiu as principais decisões da ESA às vésperas da conferência de Bremen. Continue nos acompanhando para saber como cada voto ministerial poderá moldar o futuro da exploração espacial europeia.
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