“Depois da Caçada”, novo longa-metragem de Luca Guadagnino, abriu a 27ª edição do Festival do Rio e já circula em salas selecionadas de São Paulo e do Rio de Janeiro antes do lançamento nacional em 16 de outubro. O filme marca a estreia da atriz Nora Garrett como roteirista e retoma o tom de tensão presente em “Rivais” e “Queer”, produções recentes do cineasta previstas para 2024.
Conflito moral coloca professora no centro da crise
A narrativa acompanha Alma Imhoff (Julia Roberts), professora universitária reconhecida por seu discurso progressista, que se vê dividida quando a melhor amiga denuncia um colega — o professor assistente Hank Gibson (Andrew Garfield) — por agressão sexual. A acusação parte da estudante Maggie Price (Ayo Edebiri), retratada como jovem negra, lésbica e filha de família abastada.
O caso ganha corpo assim que a queixa se torna pública e uma investigação interna é aberta. Sob pressão de alunos, docentes e da administração, Alma precisa equilibrar lealdade, justiça e a preservação de sua própria reputação. Segundo especialistas em cultura e gênero, o enredo reflete debates contemporâneos sobre hierarquia de poder nos campi e a dificuldade de obter consenso em denúncias de violência sexual.
Retrato geracional e ausência de respostas fáceis
Guadagnino aposta na ambiguidade ao mostrar que tanto vítima quanto acusado podem estar dizendo a verdade em parcelas distintas. De acordo com críticos que acompanharam a sessão de abertura, a escolha evita mensagens simplistas e ressalta a complexidade de casos envolvendo abuso e consentimento.
De um lado, Maggie surge como estudante promissora, porém retratada como alguém que talvez não atinja o nível acadêmico esperado por seu status socioeconômico. Do outro, Hank é descrito como homem branco, heterossexual, que teria conquistado reconhecimento profissional a partir de esforço próprio. A oposição entre privilégios sociais, identidades e méritos individuais alimenta a tensão dramática.
Nesse contexto, Alma se mostra progressista em defesa dos próprios direitos, mas reage de forma conservadora quando a acusação ameaça a estabilidade pessoal e institucional. Relatórios recentes de organizações universitárias indicam que atitudes semelhantes costumam ocorrer em casos reais, pois a ruptura do status quo implica riscos à carreira e ao tecido social das instituições.
Escolha do Festival do Rio destaca relevância do tema
O convite para abrir o Festival do Rio consolida o posicionamento de “Depois da Caçada” como obra voltada a discussões urgentes. Segundo a organização do evento, a estreia buscou trazer para o centro do debate questões sobre abuso, poder e responsabilidade, alinhadas às conversas pós-#MeToo que seguem mobilizando o mercado audiovisual.
Além da presença de Julia Roberts, Andrew Garfield e Ayo Edebiri, o elenco conta com participações de atores coadjuvantes que reforçam o ambiente acadêmico retratado. Dados oficiais do festival apontam que mais de 60% das sessões de abertura nos últimos cinco anos abordaram temáticas sociais de impacto, estratégia que aumenta o alcance das discussões levantadas.
Investigação universitária acirra tensões no campus
A divulgação da queixa faz crescer protestos, campanhas em redes sociais e disputas entre departamentos. Professores se posicionam, alunos exigem transparência e patrocinadores avaliam possíveis danos de imagem. Conforme o roteiro avança, segredos da protagonista vêm à tona, revelando contradições entre discurso e prática.
Imagem: Divulgação
Críticos afirmam que o diretor evita desfecho conclusivo. O público não recebe um veredito definitivo sobre quem fala a verdade, mas é levado a questionar os limites do sistema disciplinar universitário. Esse recurso, apontam analistas, estimula o debate fora da sala de cinema e convida o espectador a refletir sobre processos de denúncia, defesa e prova em espaços de poder.
Impacto esperado para o público e para o mercado
Para o espectador brasileiro, o filme chega em momento de aumento nas denúncias de assédio em instituições de ensino. Dados do Ministério da Educação mostram crescimento de 18% nos registros de 2022 para 2023. A obra de Guadagnino pode, portanto, ampliar a visibilidade do tema e pressionar universidades a rever protocolos.
No mercado cinematográfico, a recepção inicial positiva pode impulsionar novas produções com recorte semelhante. Distribuidoras avaliam que thrillers ancorados em dilemas éticos apresentam bom potencial comercial, pois combinam roteiro de tensão com debate social.
Para quem acompanha notícias de entretenimento e questões sociais, “Depois da Caçada” representa oportunidade de discutir como instituições lidam com acusações sensíveis e a quem cabe proteger vítimas sem comprometer investigação justa. O longa reforça que decisões individuais, mesmo de figuras progressistas, podem preservar sistemas desiguais quando interesses pessoais estão em jogo.
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Curiosidade
Durante as filmagens, Luca Guadagnino solicitou que as cenas de debate em sala de aula fossem gravadas em sequência cronológica. A estratégia, comum em peças de teatro, foi adotada para manter a tensão crescente entre elenco e figurantes, simulando a escalada real de uma crise no campus. De acordo com membros da produção, o método evitou que os atores soubessem antecipadamente o desfecho do roteiro, preservando reações genuínas e contribuindo para a atmosfera de incerteza que permeia o filme.
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