São Paulo — Mais da metade das crianças e adolescentes brasileiros já recorre a ferramentas de inteligência artificial generativa, revelam dados da TIC Kids Online Brasil 2025. O estudo aponta que 65% dos jovens de 9 a 17 anos utilizaram algum recurso de IA recentemente, seja para tarefas escolares, busca de informações ou até para conversar sobre sentimentos.
Maioria procura a IA para estudos e dúvidas rápidas
Segundo o levantamento, realizado entre março e setembro de 2025 com 2.370 participantes em todo o país, o principal motivo para usar IA é complementar a aprendizagem. Entre os entrevistados, 59% recorreram a chatbots ou aplicativos semelhantes para pesquisas escolares ou estudo individual. Outros 42% disseram utilizar esses sistemas para procurar informações gerais, como dados históricos ou explicações de conceitos.
A produção de conteúdo também desponta. Aproximadamente 21% relataram empregar geradores de texto ou imagem para criar trabalhos, ilustrações ou roteiros. Já 10% afirmaram ter buscado apoio sobre questões pessoais ou emocionais, transformando a IA em uma espécie de “ouvidor virtual”.
Perfil socioeconômico e etário revela diferenças de uso
O segmento de 13 a 17 anos das classes A e B lidera o uso geral das ferramentas, conforme o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), responsável pelo relatório. Contudo, quando o assunto é conversa íntima, a prevalência muda: o grupo de 13 a 14 anos registra a maior proporção (16%) de jovens que relatam recorrer à IA para tratar de sentimentos ou problemas privados.
Para Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, o dado reforça a necessidade de políticas que considerem a etapa de desenvolvimento desses adolescentes. “Incluímos um indicador específico para mapear o uso da IA e entender o impacto no bem-estar, na privacidade e na formação digital dessa população”, explica o executivo.
Conectividade continua alta, mas uso na escola recua
A pesquisa confirma a ampla presença da internet na vida dos brasileiros nascidos entre 2008 e 2016. Dos 24,5 milhões de jovens nessa faixa etária, 92% são usuários ativos. O celular permanece como principal porta de entrada (96%), seguido pela televisão conectada (35%) e pelo computador (8%).
Entre as redes sociais, WhatsApp ocupa a primeira posição (53%), enquanto YouTube e Instagram dividem o segundo lugar (48% cada). TikTok aparece logo depois, com 46% dos usuários. Apesar da facilidade de acesso, o consumo digital dentro de ambientes escolares encolheu. A proporção de estudantes que afirmaram ter utilizado plataformas online na escola caiu de 51% em 2024 para 37% em 2025.
De acordo com o núcleo responsável pela pesquisa, a retração se relaciona diretamente à Lei nº 15.100/2025, sancionada em janeiro, que impõe restrições ao uso de dispositivos móveis nas instituições de ensino. Especialistas em educação afirmam que a medida busca reduzir distrações, mas pode limitar iniciativas pedagógicas que envolvem tecnologia.
Desafios para proteção de dados e alfabetização digital
O avanço rápido da IA entre menores de 18 anos levanta alertas sobre privacidade e saúde mental. Organizações que atuam na defesa dos direitos digitais apontam a necessidade de transparência nos algoritmos e de mecanismos de verificação de idade. Ao mesmo tempo, educadores enfatizam programas de alfabetização digital para ensinar como questionar respostas geradas e reconhecer informações imprecisas.

Imagem: Getty
Relatórios internacionais indicam que a combinação de curiosidade típica dessa faixa etária com a disponibilidade de chatbots 24 horas cria novos hábitos de pesquisa. Enquanto isso, reguladores discutem parâmetros de segurança, sobretudo para evitar exposição a conteúdos inadequados ou coleta excessiva de dados pessoais.
O que muda para pais, escolas e mercado de tecnologia
Para as famílias, a popularização da IA representa mais uma ferramenta de suporte ao estudo, mas também exige acompanhamento próximo. Especialistas recomendam acordos claros sobre horários, finalidades e limites de privacidade. No âmbito escolar, a presença dessas soluções pode impulsionar métodos de ensino personalizados, caso as instituições encontrem formas de integrar IA às aulas sem infringir a legislação vigente.
Do lado das empresas de tecnologia, a nova geração de usuários pressiona por interfaces simples, respostas contextualizadas e filtros de segurança reforçados. Companhias que investirem em tutoriais, controle parental e certificações de conformidade tendem a ganhar vantagem competitiva. Além disso, o crescimento do uso para apoio emocional abre espaço para parcerias com psicólogos e organizações de saúde mental, ampliando a oferta de serviços.
De modo geral, os dados da TIC Kids Online Brasil 2025 mostram que a IA já se tornou parte essencial da rotina online de milhões de brasileiros em idade escolar. A tendência deve se intensificar, impulsionada pela onipresença dos smartphones e pela curiosidade dos jovens. A questão central, afirmam analistas, será equilibrar inovação e proteção, garantindo que a tecnologia contribua para o desenvolvimento integral sem comprometer a segurança.
Quer entender como a inteligência artificial influencia outras áreas do cotidiano? Confira a cobertura completa em nosso canal dedicado a IA, onde reunimos reportagens sobre ferramentas, regulamentação e impactos sociais.
Curiosidade
Você sabia que a primeira conversa registrada entre um adolescente e um programa de computador aconteceu em 1966, com o chatbot ELIZA? Na época, o sistema simulava um psicoterapeuta e impressionou pesquisadores pela capacidade de “ouvir” e responder. Mais de meio século depois, crianças brasileiras repetem a experiência, agora em escala massiva e com algoritmos que aprendem em tempo real.
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