Autoridades militares do Reino Unido afirmam que satélites do país estão a ser alvo de interferências semanais por parte da Rússia. A declaração partiu do chefe do UK Space Command, major-general Paul Tedman, em entrevista à BBC. Segundo ele, artefatos russos “acompanham” as naves britânicas em órbita para perturbar comunicações ou captar informações estratégicas.
Táticas de interferência em órbita
O chamado “shadowing” consiste em posicionar um satélite a curta distância do alvo, alinhando a trajetória para facilitar ações hostis. De acordo com Tedman, os satélites russos carregam cargas úteis capazes de monitorar, interceptar sinais e provocar o chamado jamming. Nessas situações, emissores enviam ondas na mesma frequência do sistema britânico, saturando o canal e interrompendo a transmissão de dados.
Especialistas explicam que o jamming não danifica fisicamente as naves; basta cessar o sinal invasor para retomar a operação. No entanto, outras técnicas podem causar consequências mais graves. Entre elas estão:
- Laser de deslumbramento: fere sensores ópticos e causa perda temporária de capacidade;
 - Mísseis de ascensão direta: lançados de terra, mar ou ar para destruir alvos em órbita, produzindo destroços;
 - Ciberataques: invasão de softwares de controle, permitindo reprogramar trajetórias ou desligar componentes;
 - Ataques a estações terrestres: comprometem o comando dos satélites e impactam serviços para usuários finais.
 
Em 2022, por exemplo, um ataque cibernético contra a rede Ka-Sat, da Viasat, interrompeu o acesso à internet de milhares de usuários na Europa no mesmo dia da invasão russa à Ucrânia. Relatórios indicam que a intenção era derrubar o serviço e não necessariamente roubar dados.
Escalada global de ameaças espaciais
A preocupação britânica não é isolada. Em setembro, o comandante do espaço francês, major-general Vincent Chusseau, relatou aumento de “atividade hostil” desde o início da guerra na Ucrânia. Já o general Christopher Horner, da divisão espacial do Canadá, contabilizou mais de 200 armas antissatélite já em órbita, número que considera alarmante para a segurança de ativos aliados.
A comunidade internacional teme sobretudo os testes de mísseis antissatélite. Quando uma nave é destruída, a nuvem de detritos pode permanecer por anos, ameaçando constelações comerciais e sistemas de navegação global. A fragmentação de um único satélite pode originar centenas de objetos capazes de perfurar fuselagens a velocidades superiores a 25 000 km/h.
Medidas de defesa e novos investimentos
Frente às ações russas, o governo britânico anunciou uma série de iniciativas. Entre elas está um fundo de 500 mil libras para desenvolver sistemas de proteção contra lasers, além da plataforma Borealis, destinada a monitorar ameaças em tempo real. Paralelamente, Londres investiu 163 milhões de libras na operadora francesa Eutelsat, reforçando redundância de serviços caso redes privadas – como a Starlink, de Elon Musk – fiquem indisponíveis.
Segundo especialistas em segurança espacial, o reforço da criptografia, o uso de antenas direcionais e a adoção de técnicas de anti-jamming são passos fundamentais. Eles também recomendam diversificar fornecedores de comunicação para evitar dependência excessiva de uma única constelação. O primeiro teste conjunto de manobra entre Reino Unido e Estados Unidos, no qual um satélite americano inspecionou um satélite britânico, ilustra esforços de cooperação para verificar rapidamente danos após eventuais agressões.

Imagem: Jessie Hamill
Impacto para governos, empresas e usuários
A escalada de hostilidades no espaço afeta desde operações militares até serviços civis. Sistemas de internet via satélite, geolocalização, previsão meteorológica e monitoramento ambiental dependem de infraestrutura em órbita. Para empresas, a instabilidade eleva custos de seguro e exige novos projetos de resiliência. Já para o cidadão comum, interrupções podem refletir em falhas de GPS, atrasos logísticos e perda temporária de comunicação em áreas remotas.
Segundo analistas do setor, a tendência é que governos e iniciativa privada acelerem investimentos em segurança cibernética, satélites menores com capacidade de reposição rápida e protocolos de compartilhamento de inteligência. O objetivo é garantir que ataques isolados não causem apagões prolongados – um fator crítico em ambientes de conflito ou em resposta a desastres naturais.
Curiosidade
O primeiro registro oficial de “sombra” deliberada entre satélites data de 2015, quando um artefato russo aproximou-se de um satélite comercial europeu a menos de 10 km de distância. Embora pareça distante, essa separação equivale a dois carros trafegando lado a lado a milhares de quilômetros por hora. O episódio motivou revisões nas normas de trânsito orbital e reforçou a necessidade de sensores capazes de detectar aproximações suspeitas com antecedência.
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