James Watson morre aos 97 anos e deixa legado na descoberta do DNA

Ciência

James Dewey Watson, um dos responsáveis por desvendar a estrutura em dupla hélice do DNA, morreu na quinta-feira (6), em East Northport, Nova York, aos 97 anos. A informação foi confirmada por seu filho, Duncan Watson, que relatou a internação recente do cientista, seguida de cuidados paliativos em um hospício. A causa da morte foi uma infecção.

Trajetória científica e Prêmio Nobel

Nascido em Chicago em 6 de abril de 1928, Watson ingressou na Universidade de Chicago aos 15 anos e concluiu o doutorado em genética na Universidade de Indiana. Em 1951, mudou-se para Cambridge, no Reino Unido, onde conheceu Francis Crick no Laboratório Cavendish. Dois anos depois, ambos publicaram na revista Nature o modelo que revelou o DNA como uma hélice dupla composta por duas cadeias complementares de nucleotídeos.

Segundo especialistas em história da ciência, a descoberta representou um marco comparável à teoria da evolução de Darwin, porque explicou de que forma a informação genética se replica de geração para geração. Em 1962, Watson, Crick e Maurice Wilkins receberam o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina pelo trabalho. A contribuição de Rosalind Franklin, cujas imagens de difração de raios-X foram fundamentais, só viria a ser reconhecida amplamente décadas depois.

Direção de centros de pesquisa e Projeto Genoma Humano

Watson assumiu a direção do Cold Spring Harbor Laboratory, em Long Island, em 1968. Relatórios indicam que sua gestão transformou o local em um dos principais polos de microbiologia do mundo, com programas de formação e conferências internacionais. Ainda na década de 1980, Watson foi convidado a liderar o início do Projeto Genoma Humano pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos.

Durante o planejamento do projeto, ele insistiu na criação de uma linha orçamentária dedicada a estudar as implicações éticas e sociais do sequenciamento genético. Em 1992, deixou a coordenação após discordar de políticas de patenteamento de genes – posição mais tarde respaldada pela Suprema Corte dos EUA, que decidiu que produtos naturais não podem ser patenteados.

Publicações e influência na educação científica

Além de artigos acadêmicos, Watson escreveu em 1968 o livro The Double Helix, relato pessoal sobre a descoberta do DNA que se tornou referência na literatura científica. O texto causou controvérsia por atribuir pouco crédito a colaboradores, mas foi incluído pela Biblioteca do Congresso na lista das 100 obras literárias mais significativas dos Estados Unidos.

Em 1965, publicou Molecular Biology of the Gene, manual adotado em cursos de biologia molecular em várias universidades. De acordo com dados de citações acadêmicas, essas obras contribuíram para a formação de gerações de pesquisadores em genética, biotecnologia e medicina.

Declarações polêmicas e afastamento

A carreira de Watson também foi marcada por comentários considerados racistas, misóginos e homofóbicos. Em 2007, o cientista declarou ao jornal britânico The Sunday Times que pessoas negras teriam menor inteligência média, afirmação rejeitada pela comunidade científica. A repercussão levou à suspensão de suas funções no Cold Spring Harbor Laboratory e à retirada de títulos honorários.

Mesmo após retratações parciais, Watson repetiu a alegação em documentário exibido pela PBS em 2019, consolidando seu afastamento de círculos acadêmicos. Segundo associações científicas, as declarações prejudicaram o debate público sobre genética e diversidade, embora não revoguem o impacto de sua contribuição original.

James Watson morre aos 97 anos e deixa legado na descoberta do DNA - Imagem do artigo original

Imagem: Laboratório de Biologia Molecular do MRC

Patrimônio, família e últimos anos

Em 1968, Watson casou-se com Elizabeth Lewis, então estudante em Harvard, com quem teve dois filhos. Um deles, Rufus, vive com transtorno mental grave, condição que motivou o pai a defender investimentos em pesquisa genômica. Em 2014, Watson leiloou sua medalha do Nobel por US$ 4,1 milhões, alegando necessidade de recursos para a família e para apoiar a ciência; o comprador, bilionário russo, devolveu-lhe o prêmio.

Watson foi ainda um dos primeiros seres humanos a ter o genoma completo sequenciado, feito que, segundo pesquisadores, ajudou a divulgar a viabilidade de testes genéticos em larga escala. Nos últimos anos, manteve a residência em Long Island e participava esporadicamente de eventos científicos até a piora de saúde que culminou em sua morte.

Impacto para o leitor

Para o público em geral, a trajetória de Watson mostra como descobertas científicas podem influenciar a medicina, a agricultura e até a criminalística, áreas que hoje utilizam técnicas de DNA desenvolvidas a partir de seu trabalho. A controvérsia em torno de suas declarações também evidencia a importância da responsabilidade ética na divulgação de resultados e opiniões no campo científico.

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Curiosidade

Embora Watson tenha se tornado célebre pela dupla hélice, ele mesmo relatou em entrevistas que era “péssimo” em química estrutural. Segundo biógrafos, a habilidade de combinar dados de colegas e montar modelos tridimensionais compensou essa lacuna. O episódio mostra como a colaboração interdisciplinar – entre químicos, físicos e biólogos – foi decisiva para um dos maiores achados da ciência moderna.

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