Um grupo da Universidade de Washington (UW), nos Estados Unidos, desenvolveu um compósito elástico que combina polímero reciclável e gotículas de uma liga metálica líquida à base de gálio. O material conduz eletricidade, pode ser cortado e reconectado com calor e pressão e permite recuperar até 94 % do metal utilizado. A inovação surge como alternativa às tradicionais placas de circuito rígidas, difíceis de reaproveitar e responsáveis por parte crescente do lixo eletrônico mundial.
Como o novo compósito funciona
De acordo com os pesquisadores, o segredo está na dispersão de microgotas de metal líquido dentro de um polímero também reciclável. Quando o usuário introduz pequenos sulcos na superfície, as gotículas se unem, formando trilhas condutoras que substituem as pistas de cobre presentes nos circuitos convencionais. O restante da peça permanece isolante, reduzindo o risco de curto-circuitos e evitando desperdício de material.
A fabricação é descrita como simples: basta preparar a mistura, moldá-la e, em seguida, inscrever o circuito com leve pressão. O resultado é um dispositivo flexível, leve e capaz de dobrar ou esticar sem perder funcionalidade elétrica. Caso ocorra dano mecânico, o material pode ser aquecido e comprimido, restabelecendo a continuidade do circuito graças à fluidez da liga metálica.
Reciclagem quase total e menor impacto ambiental
O mesmo processo que possibilita a autorreparação favorece a recuperação dos componentes ao fim da vida útil. Em testes de laboratório, a equipe separou química e mecanicamente 94 % do metal líquido original, índice considerado alto por especialistas em gerenciamento de resíduos. Segundo dados do estudo, a meta é alcançar taxas superiores a 95 % com ajustes no método de extração.
Estimativas da UW, citadas no artigo, apontam que até 2030 o planeta poderá gerar 60 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano. Grande parte desse volume inclui placas de fibra de vidro e resina impregnadas de chumbo, mercúrio e outros metais tóxicos. Ao permitir o reaproveitamento quase integral dos circuitos, o novo material tende a reduzir a necessidade de mineração, o risco ocupacional em linhas de desmontagem e o descarte inadequado em aterros.
Aplicações previstas e etapas futuras
Os autores mencionam usos que vão além de eletrônicos de consumo, como:
- Dispositivos vestíveis – roupas ou pulseiras inteligentes que exigem flexibilidade;
- Robôs macios – sistemas que se adaptam a ambientes irregulares;
- Componentes médicos – sensores implantáveis que acompanham movimentos do corpo;
- Módulos modulares – peças que podem ser rearranjadas sem solda.
No curto prazo, a equipe pretende otimizar a composição do polímero para ampliar a resistência térmica e mecânica. Também estão previstos ensaios de longa duração, a fim de avaliar desempenho elétrico depois de centenas de ciclos de dobra e reparo.
Segundo especialistas consultados pelo estudo, o avanço se diferencia de alternativas anteriores porque integra três características raramente combinadas: condutividade elétrica elevada, capacidade de autorreparo e reciclabilidade efetiva. Relatórios de mercado indicam que soluções desse tipo podem impulsionar uma geração de produtos mais duráveis e fáceis de consertar, alinhadas às políticas de economia circular.

Imagem: Y. Han
O que muda para o consumidor e para a indústria
Para usuários finais, essa tecnologia pode resultar em dispositivos eletrônicos que sobrevivem a quedas e deformações sem precisar de troca imediata. Já fabricantes podem reduzir custos de produção, uma vez que a criação de circuitos não exige fornos de alta temperatura nem processos químicos complexos. A tendência, apontam analistas, é a formação de cadeias de valor mais sustentáveis, com menor dependência de matérias-primas críticas e maior facilidade de reciclagem.
Se confirmadas as estimativas de escalonamento industrial, a presença de metal líquido autorreparável em placas flexíveis poderá influenciar políticas públicas que incentivam design ecológico e logística reversa. Consumidores, por sua vez, podem esperar garantia estendida e serviços de manutenção simplificados, pois a correção de falhas mecânicas não requer substituição completa do produto.
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Curiosidade
O gálio, base da liga metálica usada no estudo, derrete a apenas 29,8 °C, temperatura próxima do calor corporal. Isso significa que um pequeno bloco de gálio pode literalmente derreter na palma da mão, fenômeno que fascinou químicos desde o século XIX. Ao ser combinado em ligas eutéticas, esse metal mantém baixa toxicidade e alta condutividade, características fundamentais para o desenvolvimento de circuitos flexíveis como o apresentado pela Universidade de Washington.
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