São Paulo, 10 de junho de 2026 — A Kalshi, bolsa de derivativos de eventos fundada em 2018 pela brasileira Luana Lopes Lara e pelo norte-americano Tarek Mansour, tornou-se referência mundial em mercados preditivos ao negociar contratos baseados em acontecimentos futuros. Com autorização federal da Commodity Futures Trading Commission (CFTC), a plataforma oferece instrumentos que permitem tanto especulação quanto proteção contra riscos cotidianos, atraindo investidores institucionais e usuários de varejo.
Como a plataforma transforma previsões em ativos financeiros
A estrutura da Kalshi é simples e binária: cada contrato responde a uma pergunta de “sim” ou “não”. Caso o evento se concretize, o papel é liquidado a US$ 1; se a previsão falhar, vale US$ 0. O preço flutua entre US$ 0,01 e US$ 0,99, refletindo a probabilidade atribuída pelo mercado ao resultado. De acordo com dados oficiais, já existem contratos sobre inflação, eleições, decisões judiciais, mudanças climáticas, prêmios do Oscar e resultados de campeonatos esportivos.
Segundo analistas do setor financeiro, o apelo da Kalshi decorre de duas frentes. A primeira é a possibilidade de hedge, pois investidores podem se proteger de eventos como aumento de preços ou impactos legislativos. A segunda é a “sabedoria das multidões”: ao arriscar capital próprio, participantes tendem a buscar informações confiáveis, produzindo previsões que muitas vezes superam pesquisas tradicionais.
Ao adotar o modelo de bolsa — e não de casa de apostas —, a receita da startup vem de taxas de transação, e não das perdas dos usuários. Esse posicionamento, apontam especialistas em regulação, facilita parcerias com corretoras e fundos, além de diferenciar a operação de plataformas recreativas de jogo on-line.
Política, esportes e inteligência artificial impulsionam o volume negociado
Relatórios indicam que o crescimento acelerado ocorreu após a plataforma prever corretamente resultados das eleições presidenciais norte-americanas, gerando visibilidade entre investidores institucionais. A vitória obtida nos tribunais em 2024, que restabeleceu a negociação de mercados políticos, ampliou ainda mais o número de usuários interessados em contratos ligados a disputas eleitorais e controle do Congresso.
No segmento esportivo, o acordo firmado em 2025 com a corretora Robinhood introduziu contratos sobre futebol americano, basquete e beisebol diretamente nas contas de milhões de clientes. Esse fluxo constante de jogos resolveu um obstáculo histórico dos mercados preditivos — a baixa frequência de eventos políticos —, garantindo liquidez diária. Dados da própria plataforma mostram que, em poucos meses, os esportes passaram a responder por cerca de 80 % do volume negociado.
Já na tecnologia, o interesse se concentrou nos contratos que avaliam quem liderará a corrida da inteligência artificial generativa. Em agosto de 2025, ordens somando mais de US$ 7 milhões foram registradas em papéis que medem o desempenho futuro de modelos como Gemini, ChatGPT e Grok. Para consultores de mercado, essa categoria fornece uma dimensão de sentimento do público acerca das big techs e seus avanços em IA.
Debate regulatório: instrumento financeiro ou jogo de azar?
A expansão da Kalshi ocorre sob intensa análise de reguladores. A CFTC tentou suspender a listagem de contratos eleitorais, alegando riscos à integridade do pleito. Ligas esportivas, como NFL e NBA, manifestam preocupação sobre possíveis impactos na competitividade das partidas. Em resposta, a empresa reforça medidas de conformidade e coopera com auditores independentes a fim de detectar manipulações.
Imagem: Pedro Assis
Para os fundadores, os contratos são comparáveis a derivativos tradicionais de Wall Street, pois possibilitam gestão de risco diante de incertezas reais. Críticos, contudo, apontam semelhanças com apostas esportivas e alertam para lacunas na supervisão, sobretudo em estados norte-americanos que proíbem jogos de azar. Segundo especialistas em direito financeiro, a discussão tende a definir o enquadramento futuro de plataformas semelhantes, influenciando desde a cobrança de impostos até o alcance de regulamentações antifraude.
Impacto potencial para investidores e consumidores
Na prática, a consolidação dos mercados preditivos pode alterar a forma como empresas e cidadãos se preparam para acontecimentos macroeconômicos. Ao permitir hedge contra inflação, variação de juros ou decisões governamentais, contratos de eventos podem reduzir custos de gestão de risco, especialmente para pequenos investidores que antes não tinham acesso a instrumentos sofisticados. Além disso, a leitura agregada desses mercados fornece dados em tempo real sobre expectativas coletivas, auxiliando governos, pesquisadores e companhias na tomada de decisões estratégicas.
Curiosidade
Embora a Kalshi opere majoritariamente nos Estados Unidos, sua inspiração remonta a um experimento acadêmico conduzido em 1988 na Universidade de Iowa, onde estudantes negociavam resultados eleitorais com valores simbólicos. O projeto — pioneiro no conceito de “wisdom of crowds” — tornou-se um dos primeiros exemplos de mercados preditivos modernos, ajudando a moldar os princípios que hoje sustentam plataformas reguladas como a Kalshi.
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Resumo e convite: A Kalshi alia regulação federal, contratos simples e alta liquidez para popularizar a negociação de eventos futuros. Se essa modalidade prosperar, investidores de todos os perfis poderão, em poucos cliques, proteger-se de mudanças políticas, econômicas ou esportivas. Continue acompanhando nossos conteúdos para entender como essas transformações podem impactar suas decisões financeiras.
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