O fundador da Amazon, Jeff Bezos, declarou que o atual entusiasmo em torno da inteligência artificial configura uma bolha, porém capaz de gerar avanços relevantes no longo prazo. A avaliação foi apresentada durante o Italian Tech Week, em Turim, reforçando a ideia de que fases de euforia podem financiar inovações decisivas mesmo quando parte do capital é perdida.
Investimento maciço e dificuldade de separar boas e más ideias
Segundo Bezos, o cenário lembra outros momentos de intensa especulação tecnológica. O empresário afirmou que “toda experiência recebe investimento” quando há otimismo generalizado, o que dificulta distinguir projetos promissores de iniciativas fadadas ao fracasso. Essa característica, explicou, leva a um fluxo de recursos para empresas em diferentes estágios de maturidade, independentemente da robustez de seus modelos de negócio.
Para exemplificar, o executivo citou o ciclo de biotecnologia dos anos 1990. À época, várias companhias desapareceram após consumir vultosos aportes, mas o período também produziu medicamentos que salvaram vidas. Na visão de Bezos, a mesma lógica se aplica à onda de IA: parte dos investimentos será desperdiçada, porém as soluções sobreviventes podem redefinir setores inteiros.
Bolha industrial versus bolha financeira
O fundador da Amazon classificou o momento como uma “bolha industrial”, distinção que, segundo ele, diferencia o fenômeno de crises estritamente financeiras. Embora a valorização excessiva de algumas empresas seja comparável ao estouro das pontocom no final dos anos 1990, Bezos argumenta que a produção de conhecimento e de ferramentas concretas tornará o saldo final positivo para a sociedade.
Relatórios indicam que organizações dedicadas à infraestrutura de IA atraem aportes bilionários antes mesmo de apresentarem produtos consolidados. A OpenAI, desenvolvedora do ChatGPT, atingiu avaliação de US$ 500 bilhões em uma recente venda secundária de ações. Na mesma direção, a BlackRock negocia a compra da Aligned Data Centers por cerca de US$ 40 bilhões, de acordo com agências de mercado.
Visões convergentes dentro do setor
Jeff Bezos não está isolado em sua percepção. Mark Zuckerberg, CEO da Meta, afirmou recentemente preferir “gastar mal” centenas de bilhões de dólares a chegar atrasado à corrida pela superinteligência artificial. Essa postura revela um consenso parcial entre líderes de big techs: o risco de não participar do movimento parece maior que o de investir em excesso.
Especialistas em capital de risco observam um deslocamento de recursos que antes se concentravam em software e projetos de blockchain para soluções de IA generativa, modelos de linguagem e fornecimento de chips especializados. De acordo com dados oficiais de consultorias, fundos globais direcionaram mais de US$ 50 bilhões para iniciativas do segmento apenas no primeiro semestre de 2024, valor superior a todo o ano anterior.
Comparação com o estouro das pontocom
A bolha das pontocom resultou no fechamento de várias empresas, mas também consolidou gigantes como Amazon, Google e eBay. Para Bezos, a história sugere que perdas financeiras não impedem o surgimento de serviços com impacto duradouro. Ele sustenta que, depois de dissipado o otimismo exagerado, os vencedores oferecerão benefícios “gigantescos” à sociedade.
Analistas lembram que a Amazon, criada durante aquele período, utilizou a liquidez da época para se expandir rapidamente. A trajetória da empresa, portanto, reforça o argumento de que a alocação de recursos, mesmo inflada por expectativas altas, pode acelerar a inovação.

Imagem: Daniel Oberhaus
Consequências práticas para investidores e consumidores
Para o mercado financeiro, o alerta de Bezos sinaliza que retornos podem demorar a se materializar, e parte das startups possivelmente não sobreviverá à consolidação. Investidores institucionais já revisam critérios de due diligence a fim de limitar exposição a projetos sem rota clara de receita.
Do ponto de vista do consumidor, a fase atual deve resultar em serviços de IA mais acessíveis e integrados ao cotidiano, como assistentes virtuais aprimorados, automação de tarefas e sistemas de recomendação personalizados. Segundo consultorias setoriais, empresas que implementarem ferramentas baseadas em IA podem ganhar até 30% em eficiência operacional nos próximos cinco anos.
Impacto potencial no ecossistema de tecnologia
O posicionamento de Bezos sugere que a concorrência por talentos em IA continuará intensa. Universidades relatam aumento na procura por cursos de ciência de dados, enquanto fabricantes de semicondutores ampliam linhas de produção para atender à demanda por processadores especializados. Se a previsão de benefícios se confirmar, novas aplicações poderão surgir em áreas como saúde, logística e educação.
Para o leitor, isso significa a possibilidade de adotar ferramentas cada vez mais inteligentes no trabalho e em casa, mas também a necessidade de acompanhar discussões sobre privacidade, regulação e responsabilidade algorítmica.
Curiosidade
A primeira menção pública de Jeff Bezos à inteligência artificial ocorreu em 1998, dois anos antes do lançamento oficial da plataforma de recomendação da Amazon que hoje influencia cerca de 35% das compras do site. O executivo já avaliava, naquela época, que algoritmos capazes de aprender com o comportamento do usuário seriam decisivos para o comércio eletrônico — projeção que se materializou duas décadas depois.
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