O arquipélago de Vestmannaeyjar, no sul da Islândia, vive todos os anos uma operação de resgate peculiar: moradores e voluntários recolhem filhotes de papagaio-do-mar-atlântico, conhecidos como pufflings, e os lançam de penhascos voltados para o mar. A prática, realizada entre o fim do verão e o início do outono, ocorre há décadas e ajuda a garantir que as aves encontrem o oceano com segurança.
Por que os pufflings precisam de ajuda?
Os papagaios-do-mar utilizam as encostas gramadas das ilhas para escavar tocas e reproduzir-se. Quando chegam à fase de voo, os filhotes costumam seguir a luz da Lua para localizar o mar. Porém, a iluminação artificial das vilas próximas confunde os jovens, que acabam avançando terra adentro e ficam presos em ruas, quintais ou galpões. Com asas ainda fracas para decolar do solo, eles tornam-se presas fáceis de predadores e correm risco de atropelamento.
Segundo dados locais, cerca de 830 mil pares reprodutivos se concentram anualmente no arquipélago, número que corresponde a aproximadamente 20 % da população mundial da espécie. Classificado como vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o papagaio-do-mar enfrenta declínio em diversas regiões do Atlântico Norte, o que torna cada filhote salvo particularmente valioso.
Como funciona a operação de resgate
No período de migração, equipes designadas e moradores percorrem as ilhas durante a noite munidos de lanternas e caixas de papelão. Ao localizar um puffling desorientado, o voluntário o recolhe com cuidado, cobrindo a cabeça da ave para reduzir o estresse. Em noites de pico, é comum que um único resgatista capture até dez filhotes.
Os animais passam a madrugada em caixas ventiladas. No amanhecer, famílias inteiras dirigem-se a pontos altos da costa sul, onde as falésias oferecem corrente de ar constante. Segurando o filhote com firmeza, o voluntário lança a ave para cima, permitindo que ela ganhe sustentação e siga sozinha em direção ao mar. Caso o voo não aconteça imediatamente, o puffling desliza pela encosta até a água e completa a travessia a nado.
Apesar da relativa simplicidade, a atividade envolve riscos físicos: escoriações, torções e quedas são relatadas com frequência por quem persegue as aves entre telhados, carros estacionados e até embaixo de contêineres. Ainda assim, participantes relatam satisfação ao sentir o batimento acelerado do filhote antes do lançamento e observá-lo ganhar altitude.
Resultados para a conservação
A contagem exata de filhotes salvos varia ano a ano, mas autoridades locais estimam que milhares de pufflings chegam ao oceano graças à mobilização coletiva. A intervenção humana compensa parcialmente os impactos da poluição luminosa e ajuda a estabilizar a colônia, considerada a maior do mundo para a espécie.
Imagem: Internet
Especialistas apontam que a tradição também desempenha papel educativo. Crianças envolvidas no resgate crescem conscientes da importância da preservação e da responsabilidade compartilhada sobre a fauna. Embora iniciativas de redução da iluminação pública estejam em estudo, a prática de lançamento deve continuar enquanto as luzes urbanas permanecerem obstáculo para os filhotes.
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O resgate dos pufflings em Vestmannaeyjar mostra como uma comunidade pode adaptar hábitos cotidianos para proteger uma espécie ameaçada. Ações simples, somadas ao esforço de centenas de voluntários, garantem a sobrevivência de milhares de aves a cada temporada. Compartilhe esta informação e incentive iniciativas semelhantes onde você mora.
Curiosidade
Os papagaios-do-mar são conhecidos pelo bico colorido apenas na época de reprodução; fora dela, a coloração torna-se mais discreta. Cada casal utiliza a mesma toca por vários anos, cimentando o vínculo entre os parceiros. Durante o voo, a espécie pode bater as asas até 400 vezes por minuto, atingindo velocidades próximas a 88 km/h. Embora passe a maior parte do ano em alto-mar, retorna às colônias costeiras sempre no mesmo período do calendário.
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