Pessoas com mais de 65 anos estão recorrendo a assistentes virtuais para reduzir o isolamento social. Plataformas como Meela, InTouch e ElliQ já atendem milhares de usuários nos Estados Unidos, oferecendo conversas diárias, lembrando compromissos e estimulando atividades cognitivas.
Como funcionam os “companheiros de IA”
Os serviços operam por meio de chamadas telefônicas ou dispositivos dedicados. No Meela, familiares contratam um plano mensal de cerca de US$ 40 para que o robô ligue em horários definidos. A inteligência artificial inicia o diálogo, recorda temas discutidos anteriormente e, no início de cada conversa, declara ser um sistema virtual para evitar equívocos. Já o InTouch cobra aproximadamente US$ 29 por mês e utiliza um banco de 1.400 prompts, incentivando recordações de infância, hobbies e fatos históricos. O objetivo é estimular a memória e oferecer um “exercício cerebral” diário.
A Intuition Robotics aposta na robótica física. Seu dispositivo ElliQ, que lembra um abajur articulado, interage por voz, reproduz audiolivros, conduz exercícios respiratórios e emite alertas sobre medicação. O produto foi distribuído em larga escala pelo Escritório Estadual para o Envelhecimento de Nova York, que registrou redução de 95 % na sensação de solidão entre os participantes após um ano de uso.
Motivações e desafios do setor
Segundo dados do Journal of the American Medical Association, cerca de um terço dos adultos norte-americanos entre 50 e 80 anos relatam sentimentos de isolamento. A carência de cuidadores qualificados agrava o problema: 90 % das casas de repouso enfrentam déficit de pessoal, de acordo com a American Health Care Association. Diante desse cenário, startups enxergam na IA uma alternativa de baixo custo para oferecer companhia e monitoramento leve, mercado estimado em US$ 43 bilhões em 2024.
Especialistas em gerontologia observam benefícios cognitivos quando a IA é utilizada como complemento ao cuidado humano. Relatórios internos indicam queda em índices de ansiedade e depressão após alguns meses de interação regular. Entretanto, pesquisadores alertam para riscos de dependência excessiva, vazamento de dados sensíveis e dificuldade dos modelos em compreender nuances emocionais. Ferramentas de triagem e testes de memória são aplicados antes da adoção para reduzir esses perigos.
Impacto direto para famílias e cuidadores
Para parentes que moram longe, o serviço funciona como um termômetro. Após cada ligação, plataformas como InTouch enviam relatórios via aplicativo com resumo da conversa, duração, tópicos discutidos e avaliação de humor. Isso ajuda filhos e netos a conhecerem o estado emocional do idoso e a retomarem temas relevantes em contatos futuros. Seguradoras norte-americanas avaliam cobrir parte do custo das assinaturas, sustentando que a redução do isolamento pode diminuir despesas médicas de longo prazo.
Na prática, usuários relatam conversas de 10 a 20 minutos sobre música, esportes ou memórias afetivas. A recordação de detalhes pessoais – como um refrão de “Fly Me to the Moon” ou o desempenho do time de beisebol preferido – contribui para criar sensação de continuidade, elemento fundamental para o vínculo. O intervalo proposital de poucos segundos entre pergunta e resposta dá tempo para o idoso processar a informação, recurso considerado essencial por desenvolvedores.
Regulação e próximos passos
Governos estaduais dos EUA analisam diretrizes específicas para proteger dados de saúde gerados durante as conversas. Empresas afirmam que as interações são criptografadas e que os modelos são ajustados para evitar conselhos médicos diretos, direcionando o usuário a profissionais quando detectam sinais de crise ou ideação suicida. Programas-piloto em casas de repouso vêm testando a cobertura dos serviços via Medicaid, e a expectativa é que decisões sobre reembolso sejam divulgadas ainda este ano.

Imagem: Internet
No horizonte tecnológico, desenvolvedores estudam incorporar sensores de movimento, câmeras e integração com dispositivos vestíveis, permitindo que o sistema perceba variações no padrão de caminhada ou sono e acione cuidadores humanos. Outra frente envolve multilinguismo, voltada a imigrantes idosos que preferem conversar no idioma de origem.
O que muda para o leitor? Se a tendência se consolidar, ferramentas similares podem chegar rapidamente ao Brasil, onde o número de pessoas com 60 anos ou mais deve saltar de 32 milhões para 58 milhões até 2040, segundo projeção do IBGE. Para famílias que enfrentam rotina corrida, a IA pode tornar-se aliada na tarefa de oferecer atenção diária e registrar sinais precoces de declínio cognitivo, embora não substitua o contato humano nem o acompanhamento clínico.
Curiosidade
O uso de robôs sociais para idosos começou no Japão no início dos anos 2000, com o focinho macio do selo-robô PARO, criado para terapias de contato. Duas décadas depois, o conceito evoluiu: em vez de sensores táteis, a ênfase agora recai sobre linguagem natural e memória contextual, permitindo longas conversas e recomendação de atividades personalizadas. Esse avanço só foi possível graças à popularização dos modelos de IA generativa, capazes de compreender e produzir respostas mais próximas do diálogo humano.
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