Uma equipe internacional de astrônomos encontrou, na Grande Nuvem de Magalhães (LMC), o maior super-remanescente de nova já catalogado. A estrutura, que circunda o sistema recorrente LMCN 1971-08a, alcança cerca de 650 anos-luz de diâmetro e torna-se apenas o quinto objeto desse tipo a ser confirmado na história da astronomia.
Descoberta expande fronteiras do estudo de novas
Os super-remanescentes de nova (NSRs) se formam quando sucessivas erupções de uma anã branca empurram o material interestelar para longe, criando conchas gigantes que podem perdurar por milhões de anos. Até o momento, apenas quatro exemplos haviam sido identificados, três deles na Via Láctea. O novo registro, apresentado em artigo no servidor de pré-impressão arXiv, é o primeiro desse porte na LMC e o maior conhecido.
As evidências surgiram a partir de dados do radiotelescópio MeerKAT, instalado na África do Sul. Segundo o estudo, a concha exibe brilho mais intenso nos quadrantes nordeste e sudeste, ligados por um limite tênue que completa a forma quase circular. Cálculos indicam que suas bordas interna e externa estão, respectivamente, a 284 e 329 anos-luz de LMCN 1971-08a, enquanto a massa do envelope externo chega a aproximadamente 4.130 massas solares.
LMCN 1971-08a é uma das quatro novas recorrentes já mapeadas na LMC. Trata-se de uma anã branca com 1,1 a 1,3 massas solares que suga matéria de uma companheira subgigante. Estudos anteriores estimavam um intervalo de 38 anos entre erupções, com a última registrada em 2009. A existência de um NSR tão extenso, porém, sugere um ritmo de explosões possivelmente mais curto, de acordo com os autores.
Características físicas impressionam especialistas
Dados derivados das observações apontam para uma concha com idade aproximada de 2,4 milhões de anos, expandindo-se a uma velocidade média de 20 km/s. Esse conjunto de parâmetros faz do objeto o maior super-remanescente de nova conhecido, superando folgadamente os registros anteriores encontrados dentro da Via Láctea.
De acordo com especialistas consultados pelo estudo, a amplitude do NSR indica que LMCN 1971-08a pode ter ejetado material mais vezes do que se pensava, ou que as detonações ocorreram em intervalos extremamente curtos ao longo de um período prolongado. Essa hipótese reforça o valor científico do achado, pois pode oferecer pistas sobre como anãs brancas acumulam massa até limites críticos que eventualmente resultam em supernovas do tipo Ia.
Observações adicionais com instrumentos ópticos e de raios X devem ajudar a confirmar a frequência das erupções e a composição química da concha. A pesquisa também abre caminho para buscas sistemáticas de outros NSRs em galáxias próximas, já que tecnologias recentes, como o MeerKAT e o futuro SKA, ampliam a sensibilidade na detecção dessas estruturas difusas.
Impacto para o estudo da evolução estelar
Os super-remanescentes de nova são considerados peças-chave para compreender a reciclagem de matéria no meio interestelar. À medida que as conchas se expandem, enriquecem o espaço com elementos mais pesados e influenciam o nascimento de novas estrelas. Relatórios indicam que analisar a massa, a velocidade e a morfologia desses objetos ajuda a calibrar modelos de evolução estelar e a estimar a taxa de ocorrência de supernovas.

Imagem: Udo Kieslich Shutterstock
No caso específico da LMC, uma galáxia satélite da Via Láctea, conhecer a distribuição de NSRs contribui para entender a história de formação estelar em ambientes de baixa metalicidade. Além disso, a correlação entre novas recorrentes e possíveis supernovas permite refinar previsões sobre eventos que podem afetar a química das galáxias ao longo de bilhões de anos.
O que muda para o leitor? O registro amplia o mapa dos fenômenos extremos no universo próximo e fortalece a ideia de que novas recorrentes podem ser mais comuns do que se pensava. Para o público geral, descobertas desse tipo ajudam a explicar de onde vêm muitos dos elementos presentes em dispositivos eletrônicos, medicamentos e até no corpo humano, reforçando o vínculo entre pesquisa astronômica e benefícios práticos.
Curiosidade
Você sabia que, apesar de “nova” significar “nova estrela” em latim, o fenômeno não cria astros inéditos? Na verdade, trata-se de uma explosão na superfície de uma anã branca já existente, que pode se repetir várias vezes. Esses surtos, acumulados ao longo de milhões de anos, formam as gigantescas conchas agora observadas na Grande Nuvem de Magalhães.
Para quem deseja continuar explorando a fronteira da ciência, vale conferir outras descobertas recentes de radioastronomia em nosso portal. Um bom ponto de partida é a cobertura sobre o avanço dos radiotelescópios de nova geração em Tecnologia.
Para mais informações e atualizações sobre tecnologia e ciência, consulte também:
Quando você efetua suas compras por meio dos links disponíveis aqui no RN Tecnologia, podemos receber uma comissão de afiliado, sem que isso acarrete nenhum custo adicional para você!

