Um novo estudo publicado na revista Nature alerta para um perigo geológico pouco conhecido: ravinas urbanas de grandes proporções que já desalojaram milhares de pessoas e colocam milhões em risco em diversos países do Sul Global. A pesquisa analisou 26 cidades da República Democrática do Congo (RDC) e identificou 2.922 trincheiras de erosão — algumas capazes de engolir casas e vias inteiras.
Crescimento acelerado das ravinas
De acordo com o levantamento, entre 2010 e 2023 o número de habitantes que vivem em áreas ameaçadas por essas fissuras dobrou de 1,6 milhão para 3,2 milhões. No período de 2004 a 2023, pelo menos 118.600 pessoas foram forçadas a abandonar seus domicílios em razão da progressão das erosões.
As ravinas, conhecidas como “gullies”, formam-se quando a água da chuva escoa sobre solos instáveis sem infraestrutura de drenagem adequada. Em Kinshasa, Bukavu e Kikwit, imagens de satélite mostram taludes profundos que se alargam com o tempo, criando verdadeiros desfiladeiros em áreas densamente povoadas.
Causas ligadas à urbanização e ao clima
Os autores atribuem o avanço das fendas a um conjunto de fatores. O primeiro é a urbanização rápida e desordenada presente em muitas cidades da RDC. Construções sem planejamento, ausência de sistemas de drenagem e ocupação de encostas tornam o terreno mais suscetível a enxurradas.
Outro elemento apontado é a mudança climática. Modelos citados no estudo indicam que a intensidade das chuvas na África tropical pode aumentar entre 10% e 15% nas próximas décadas. Como eventos pluviométricos extremos são o motor principal da formação de ravinas, a projeção é de que as taxas de expansão possam dobrar, caso nenhum outro fator seja modificado.
Impacto social e custos de mitigação
O impacto humano já é expressivo: bairros inteiros sofrem com desmoronamentos de solo, perda de infraestrutura e deslocamento compulsório de famílias. A estabilização de ravinas existentes, segundo os pesquisadores, é cara e complexa. Entre as soluções propostas, estão a construção de valas rasas, canais de infiltração e a orientação do fluxo de água para locais menos vulneráveis.
Medidas preventivas custam menos que obras de contenção de grande porte. Intervenções simples, como barreiras vegetadas e manutenção de calhas pluviais, ajudam a reduzir o volume de água em declive e evitam a formação de novos sulcos.

Imagem: GarethBargate
Risco além da República Democrática do Congo
Embora o estudo se concentre na RDC, os autores destacam que o problema provavelmente se repete em outros países da África Subsaariana, além de regiões da América do Sul e do Sudeste Asiático. O denominador comum é o crescimento populacional acelerado em áreas urbanas sem infraestrutura proporcional.
Nessas localidades, a combinação de solos frágeis, chuvas intensas e ausência de planejamento urbano cria um cenário propício para a proliferação de ravinas. Portanto, a equipe recomenda que governos, agências de desenvolvimento e comunidades adotem políticas de prevenção enquanto os custos ainda são administráveis.
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O estudo reforça a necessidade de políticas públicas que contemplem tanto o planejamento urbano quanto a adaptação climática. Sem medidas estruturais e preventivas, as ravinas podem se tornar um dos principais riscos geológicos das metrópoles do Sul Global.
Curiosidade
Mesmo em países com infraestrutura consolidada, processos erosivos semelhantes podem ocorrer em taludes rodoviários e áreas costeiras. A diferença é que, onde há sistema de drenagem eficiente, a formação de ravinas costuma ser contida antes de atingir grandes proporções. O monitoramento por satélite, cada vez mais acessível, facilita a identificação precoce desses pontos críticos. Técnicas de bioengenharia, que usam vegetação para estabilizar solos, surgem como alternativa sustentável para reduzir o avanço dessas fissuras.
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