Estudo aponta falha em Zoom e Teams que expõe localização dos usuários

Tecnologia

Pesquisadores da Southern Methodist University (SMU), nos Estados Unidos, demonstraram que é possível descobrir onde uma pessoa está durante uma videoconferência em plataformas como Zoom e Microsoft Teams mesmo quando a câmera permanece desligada e um fundo virtual é utilizado. O trabalho, apresentado no Simpósio IEEE sobre Segurança e Privacidade de 2025, descreve um método que combina breves sons injetados na chamada com análise de ecos para inferir o ambiente físico do participante. Nos testes, a técnica atingiu 88 % de precisão.

Como funciona o sensoriamento acústico remoto

O procedimento, batizado de “sensoriamento acústico remoto”, depende da capacidade de qualquer participante inserir impulsos sonoros muito curtos — por vezes de apenas 100 milissegundos — no canal de áudio bidirecional. Segundo os autores, esses sinais quase imperceptíveis se misturam à conversa e retornam como ecos refletidos em paredes, móveis e demais objetos presentes no cômodo.

Ao processar os padrões de eco com algoritmos de inteligência artificial, o invasor obtém informações que permitem identificar o tipo de ambiente (escritório, quarto, sala de estar) ou mesmo associar a pessoa a um local específico, caso existam gravações de referência. Diferentemente de ataques tradicionais, não há necessidade de instalar malware nem de comprometer o servidor da plataforma: basta participar da reunião.

Os pesquisadores detalham dois vetores principais. O primeiro, chamado “ataque de eco no canal”, injeta sons que escapam do cancelamento de eco nativo do aplicativo. O segundo, “fora do canal”, utiliza ruídos cotidianos, como alertas de sistema ou notificações, para mascarar a sondagem e reduzir a chance de detecção.

Riscos para a privacidade e possíveis contramedidas

Chen Wang, principal autor do estudo, alerta que “qualquer participante de uma videoconferência poderia violar a privacidade de localização do outro facilmente”. A preocupação aumenta em cenários onde saber a posição física de um usuário traz vantagens competitivas ou ameaça a segurança pessoal, como em negociações sensíveis, consultas médicas remotas ou reuniões envolvendo denúncias.

Parte considerável do risco vem do comportamento natural da conversa. Pausas curtas e a própria fala geram ecos adicionais que reforçam a estimativa do ambiente, dificultando a proteção apenas com boas práticas de uso. Silenciar o microfone reduz mas não elimina a exposição, pois o método pode explorar momentos em que o usuário volta a falar ou emite qualquer som.

A equipe da SMU afirma estar desenvolvendo algoritmos que rodariam nos servidores das plataformas para identificar e filtrar sinais de sondagem antes de encaminhar o áudio aos participantes. Até que soluções comerciais sejam implementadas, especialistas sugerem cautela: usar fones de ouvido com microfone direcional, evitar compartilhar informações sensíveis em videoconferências e, quando possível, recorrer a canais de comunicação sem áudio.

Impacto para usuários e mercado de videoconferências

Desde a pandemia de Covid-19, ferramentas de videoconferência se tornaram essenciais para trabalho, ensino e contato social. De acordo com dados oficiais, serviços do tipo registraram crescimento de uso superior a 400 % entre 2020 e 2022. A descoberta de métodos capazes de mapear a localização dos participantes adiciona uma camada extra de preocupação a um setor já pressionado por debates sobre proteção de dados.

Relatórios anteriores já haviam apontado fragilidades em criptografia, gravação automática e compartilhamento de metadados. Agora, a possibilidade de rastreio acústico sugere que mesmo configurações como câmera desligada e fundo virtual — opções frequentemente indicadas como barreiras de privacidade — não são suficientes. Empresas desenvolvedoras podem ser levadas a rever mecanismos de cancelamento de eco e detecção de tráfego anômalo, enquanto órgãos reguladores devem acompanhar a evolução das contramedidas.

Para o usuário comum, o principal efeito imediato é a compreensão de que a localização pode ser deduzida por terceiros mesmo sem violação aparente dos dispositivos. Organizações que dependem de sigilo geográfico, como grupos de pesquisa sensível ou ONGs em regiões de conflito, precisarão avaliar rotinas de segurança adicionais.

Curiosidade

O uso de ecos para reconhecer ambientes não é exclusivo do universo digital. Morcegos e golfinhos empregam a ecolocalização há milhões de anos para detectar obstáculos e presas. A pesquisa da SMU adapta princípios semelhantes, mas direcionados ao ambiente urbano e mediado por software. Esse paralelo reforça como técnicas biológicas inspiram avanços — e desafios — na segurança digital.

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