A Força Aérea dos Estados Unidos contratou a Blue Origin e a Anduril Industries para estudar o uso de foguetes na distribuição de cargas militares e humanitárias a qualquer ponto do planeta em menos de 60 minutos. O acordo faz parte do programa Rocket Experimentation for Global Agile Logistics (REGAL) e prevê aportes que somam US$ 2,3 milhões para as duas empresas.
Como funcionará o transporte suborbital
O conceito, chamado de rocket cargo, adapta tecnologias já usadas em lançamentos espaciais para trajetórias suborbitais ponto a ponto. A ideia é simples: foguetes reutilizáveis decolam com cápsulas de carga, voam a velocidades hipersônicas, realizam reentrada controlada e pousam verticalmente em locais previamente preparados. Dessa forma, suprimentos militares, medicamentos ou equipamentos de socorro podem ser entregues em menos tempo do que um voo convencional levaria para percorrer longas distâncias.
Segundo o comando logístico da Força Aérea, o método pode reduzir drasticamente o tempo de resposta em missões de emergência ou em cenários de conflito, quando a rapidez na entrega de material pode ser decisiva. Hoje, aviões cargueiros precisam de horas ou dias para cobrir rotas de milhares de quilômetros; o voo suborbital pretende completar o trajeto em cerca de 45 minutos, dependendo da rota.
Detalhes dos contratos e metas técnicas
A Blue Origin recebeu US$ 1,3 milhão para avaliar a adaptação do foguete New Glenn ao transporte de carga entre bases terrestres. O estudo deve indicar ajustes estruturais, sistemas de contenção e requisitos de pouso vertical em áreas remotas. Já a Anduril Industries, mais conhecida por drones e sistemas autônomos, recebeu US$ 1 milhão para desenvolver uma cápsula capaz de levar de cinco a dez toneladas, com proteção térmica que assegure a integridade da carga durante a reentrada.
De acordo com documentos oficiais do programa REGAL, as metas incluem:
- Projetar módulos de carga reutilizáveis, resistentes ao calor e a forças de desaceleração.
- Garantir pouso preciso em zonas sem infraestrutura espacial convencional.
- Reduzir custos operacionais para patamares próximos aos de aviação cargueira.
Se as etapas iniciais forem bem-sucedidas, os militares pretendem avançar para testes práticos de voo a partir de 2025.
Empresas já envolvidas e cronograma
O REGAL foi lançado em 2021 como principal canal para integrar a iniciativa privada à logística militar. Além de Blue Origin e Anduril, a Sierra Space firmou contrato em 2024 para avaliar o uso da nave não tripulada Dream Chaser, enquanto a Rocket Lab deve realizar demonstração de voo em 2025. Segundo especialistas do setor aeroespacial, o interesse do Departamento de Defesa em serviços terceirizados replica o modelo de compras da NASA, que hoje contrata empresas para abastecer a Estação Espacial Internacional.
Desafios técnicos e financeiros
O maior obstáculo é garantir que cápsulas retornem intactas após a reentrada. Materiais precisam suportar temperaturas superiores a 1.500 °C sem comprometer o conteúdo. Há ainda questões relativas a vibração e aceleração, que podem danificar equipamentos sensíveis, como dispositivos médicos ou componentes eletrônicos.
Outro ponto é a infraestrutura terrestre. Cada pouso requer área preparada, sistemas de comunicação e protocolos de segurança. Embora foguetes reutilizáveis prometam diminuir os custos por operação, lançamentos continuam caros em comparação ao transporte aéreo tradicional. Relatórios indicam que será necessário escalar a frequência de voos para diluir despesas de combustível e manutenção.

Imagem: Divulgação
Possíveis impactos para defesa e uso civil
Na ótica militar, a capacidade de entregar reforços ou suprimentos em menos de uma hora pode alterar o planejamento de campanhas e ampliar a autonomia de tropas posicionadas em regiões remotas. Para operações civis, o mesmo sistema pode levar kits de primeiros socorros, geradores ou equipamentos de telecomunicações a áreas atingidas por terremotos, furacões ou enchentes, reduzindo o tempo de recuperação de populações afetadas.
Segundo analistas de logística, o desenvolvimento de rocket cargo também tem potencial de abrir um novo segmento comercial para empresas espaciais, gerando demanda constante além do lançamento de satélites. Se o projeto ganhar escala, companhias de transporte expresso podem futuramente contratar voos suborbitais para mercadorias de alto valor ou sensíveis ao tempo de entrega.
O que muda para o leitor
Embora o foco inicial seja militar, tecnologias emergentes costumam migrar para o mercado civil após amadurecer. Caso o transporte suborbital se prove viável, indústrias farmacêuticas e de equipamentos médicos poderão enviar remessas urgentes a hospitais em outra parte do mundo em poucas horas. Para o consumidor, isso significa acesso mais rápido a produtos críticos, além de impulsionar um ecossistema de empregos em engenharia aeroespacial, logística e manutenção.
Curiosidade
Nem sempre foguetes foram pensados para logística ponto a ponto. Durante os anos 1960, a agência postal dos Estados Unidos testou a entrega de correspondências por míssil, disparando um submarino nuclear que lançou sacos de cartas em plena costa americana. A ideia nunca avançou, mas inspirou conceitos que, décadas depois, ressurgem no programa REGAL, agora com a vantagem de foguetes reutilizáveis.
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