Os Estados Unidos acumulam hoje cerca de 635 milhões de quilos de queijo em depósitos subterrâneos adaptados em antigas minas de calcário. A prática, pouco conhecida fora do país, surgiu como resposta a crises de mercado nas décadas de 1970 e 1980 e permanece até hoje como política de proteção à indústria de laticínios.
Origem de um estoque bilionário
Durante a segunda metade dos anos 1970, a economia norte-americana enfrentou inflação elevada e escassez de laticínios. Para conter a alta de preços e apoiar produtores, o então presidente Jimmy Carter aprovou subsídios que garantiam a compra, pelo governo federal, de toda a produção excedente de leite e seus derivados.
Segundo registros oficiais da época, a medida elevou rapidamente a oferta nacional. Em 1981, o Departamento de Agricultura (USDA) já havia adquirido aproximadamente 227 milhões de quilos de queijo. Sem mercado para tanto produto, os lotes foram distribuídos por mais de 150 armazéns públicos em diferentes estados.
A estratégia, porém, gerou problemas de armazenamento. O queijo começou a deteriorar e parte do estoque tornou-se inadequada para consumo, enquanto famílias em situação de vulnerabilidade reclamavam da dificuldade de acesso ao alimento. Em 1983, o presidente Ronald Reagan autorizou a distribuição gratuita dos lotes a entidades de assistência social, encerrando aquela primeira fase de acúmulo.
Como funcionam as “cavernas de queijo”
Apesar da redistribuição no início dos anos 1980, a superprodução não foi resolvida. Picos sazonais de leite e um consumo por vezes inferior à oferta obrigaram o governo a retomar compras para estabilizar preços pagos aos pecuaristas. Dessa vez, técnicos do USDA escolheram antigas minas de calcário em estados como Missouri e Kansas para guardar o excedente.
As jazidas oferecem temperaturas naturais em torno de 4 °C a 10 °C, ambiente considerado ideal para conservar laticínios por longos períodos com gasto energético reduzido. Especialistas explicam que a umidade controlada nas galerias subterrâneas ajuda a evitar mofo e prolonga a vida útil do produto.
Atualmente, relatórios do governo apontam que os EUA mantêm cerca de 635 milhões de quilos de queijo nesses depósitos. A quantidade equivale a quase quatro quilos por habitante e representa o maior estoque já registrado no país.
Custos e críticas ao modelo
Manter esse volume estocado envolve despesas significativas. De acordo com dados do Serviço de Pesquisa do Congresso, a manutenção das instalações, a logística de transporte e a rotação de estoques consomem milhões de dólares anualmente do orçamento federal.
Organizações ambientais contestam o incentivo à produção intensa de laticínios, setor que responde por emissões relevantes de metano, um dos gases responsáveis pelo aquecimento global. Especialistas em clima argumentam que a política de compra governamental perpetua a superoferta e freia iniciativas de transição para sistemas alimentares menos emissores.

Imagem: Yellowj
Representantes do setor, por outro lado, sustentam que o programa evita flutuações bruscas de preços, protege empregos rurais e garante reservas estratégicas de alimentos em cenários de crise. Segundo a Federação Nacional dos Produtores de Leite dos EUA, a existência de estoques minimiza riscos de desabastecimento em situações de desastres naturais ou conflitos geopolíticos.
Impacto para consumidores e mercado
Para o público, a manutenção de grandes reservas pode influenciar no preço final do queijo. Quando a oferta doméstica aperta, o governo libera parte do estoque, evitando repasses elevados ao consumidor. Em contrapartida, quando a produção cresce acima da demanda, novos lotes entram nas cavernas, reduzindo a pressão de queda na remuneração dos produtores.
Economistas do setor de alimentos avaliam que o modelo cria um colchão de segurança para a cadeia leiteira, mas pode retardar ajustes naturais do mercado, como investimentos em eficiência ou mudança de perfil de consumo. Ainda assim, o país segue líder global em exportação de queijo, comercializando cerca de 417 mil toneladas em 2023, segundo o USDA.
Curiosidade
Embora as “cavernas de queijo” sejam uma peculiaridade norte-americana, depósitos subterrâneos para alimentos não são novidade. Vinhos franceses, presuntos espanhóis e até batatas britânicas já foram tradicionalmente maturados ou armazenados em galerias sob a terra, aproveitando as condições térmicas estáveis para conservar sabor e qualidade.
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Esse estoque colossal mostra como políticas agrícolas podem influenciar não apenas preços, mas também práticas de produção e impacto ambiental. Acompanhe nossas atualizações para saber como medidas semelhantes podem chegar a outros setores e afetar o dia a dia do consumidor.
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