Um novo levantamento de dados da NASA indica que o asteroide responsável pela formação da bacia Polo Sul-Aitken, a maior cratera da Lua, atingiu o satélite em posição diferente da que a comunidade científica aceitava até agora. A revisão dos indícios desloca a origem do impacto para o sudoeste da estrutura, oferecendo um ponto estratégico para análises que serão conduzidas pela missão Artemis III, prevista para 2027.
Dados orbitais apontam concentração anômala de elementos radioativos
O trabalho, publicado na revista Nature, reexaminou medições da sonda Lunar Prospector, que orbitou a Lua entre 1998 e 1999. O equipamento registrou altos níveis de tório, componente associado ao grupo de minerais conhecido como KREEP (potássio, elementos de terras raras e fósforo). Esses elementos costumam permanecer próximos ao local de impacto inicial porque se acumulam no material expelido das camadas internas da crosta.
Até então, hipóteses populares indicavam que o asteroide, com mais de 10 vezes o tamanho do corpo que extinguiu os dinossauros na Terra, teria atingido a região oposta da cratera. Entretanto, a distribuição de tório observada é mais densa na borda sudoeste, o que, segundo especialistas envolvidos no estudo, sugere a direção real de entrada do corpo celeste há aproximadamente 4,3 bilhões de anos.
Comparação com crateras de Marte e Plutão reforça a nova tese
Para validar a reinterpretação, os pesquisadores compararam o formato da Polo Sul-Aitken com outras grandes bacias de impacto do Sistema Solar, como a Hellas, em Marte, e a Sputnik, em Plutão. Todas apresentam um contorno assimétrico: um lado mais arredondado e outro levemente pontiagudo. A ponta geralmente corresponde ao eixo de colisão.
De acordo com relatórios da equipe, a cratera lunar demonstrou a mesma assinatura geométrica, com a extremidade mais aguda justamente no setor onde se concentra o tório. Esse padrão, combinado às simulações de espalhamento de detritos, reforça a hipótese de que o epicentro do choque está na porção sudoeste da bacia, cuja extensão chega a 2.500 quilômetros de diâmetro e até 8 quilômetros de profundidade.
Missão Artemis III ganha novo foco de investigação
A NASA planeja pousar humanos na Lua com a Artemis III em 2027, marcando o retorno da exploração tripulada desde 1972. O local de descida deverá ficar próximo à borda inferior da bacia Polo Sul-Aitken, área agora considerada a mais rica em material ejetado pelo impacto primordial. Segundo a agência, acessar esses depósitos pode revelar detalhes inéditos sobre a composição do manto lunar e, por consequência, sobre a formação do próprio satélite.
Antes do pouso, a missão Artemis II enviará, no início do próximo ano, uma nave tripulada para orbitar a Lua e coletar dados adicionais. A expectativa é de que observações remotas reforcem as conclusões do estudo e auxiliem na seleção final do ponto de aterrissagem.
Impactos potenciais para a pesquisa lunar e para futuras missões
Segundo especialistas em geologia planetária, identificar corretamente o centro do impacto permite traçar com maior precisão a distribuição de minerais de alto valor científico, como terras raras e fosfatos. Esses elementos são fundamentais para reconstruir a cronologia de resfriamento da crosta e para compreender como a Lua evoluiu logo após a sua formação, há 4,5 bilhões de anos.

Imagem: NASA
Além disso, a região pode fornecer pistas sobre a presença de gelo de água em áreas permanentemente sombreadas, recurso considerado estratégico para missões sustentadas. Caso a análise confirme depósitos de voláteis, futuros programas de exploração tripulada poderão utilizar a água local para obtenção de oxigênio e combustível, reduzindo custos de lançamento da Terra.
Do ponto de vista tecnológico, fragmentos provenientes das camadas profundas do satélite oferecem um banco de amostras natural que dificilmente seria alcançado por perfurações convencionais. A coleta direta dessas rochas pode acelerar o desenvolvimento de sensores mais sensíveis, materiais resistentes a radiação e métodos de datação de impacto, beneficiando tanto a pesquisa acadêmica quanto a indústria aeroespacial.
Para o leitor, o redirecionamento da área de maior interesse científico significa que as primeiras imagens de solo lunar vistas quando a Artemis III pousar serão de uma região que reúne a história geológica mais antiga conhecida no sistema Terra-Lua. Esse material pode alterar livros didáticos e influenciar a forma como entendemos colisões planetárias, inclusive as que moldaram a própria Terra.
Curiosidade
A bacia Polo Sul-Aitken é tão extensa que, se estivesse na Terra, cobriria a distância entre São Paulo e o interior da Argentina. Ainda assim, ela é apenas a quarta maior cratera do Sistema Solar; a liderança pertence à bacia Utopia, em Marte, com mais de 3.300 quilômetros de diâmetro, lembrando que impactos cósmicos desse porte foram decisivos para remodelar superfícies planetárias e, possivelmente, para criar condições que favoreceram o surgimento da vida.
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