Pesquisadores da Universidade do Colorado em Boulder demonstraram o primeiro cristal do tempo visível sem auxílio de microscópios, um avanço divulgado na revista Nature Materials na última quinta-feira (4). O experimento confirma, em escala macroscópica, um fenômeno teorizado em 2012 e observado em nível quântico apenas a partir de 2016.
Como o cristal do tempo foi criado no laboratório
A equipe liderada por Hanqing Zhao utilizou cristais líquidos – mesmo material empregado em telas de smartphones e televisores – para construir a estrutura temporal. O composto, formado por moléculas alongadas que se comportam simultaneamente como líquido e sólido, foi inserido entre duas lâminas de vidro cobertas por um corante sensível à luz.
Quando feixes luminosos específicos incidiram sobre o corante, as moléculas mudaram de orientação, gerando pressão sobre o cristal líquido. Essa força provocou dobras internas que passaram a interagir e a oscilar em ciclos regulares, repetindo o padrão por horas, ainda que condições externas de temperatura ou iluminação fossem alteradas. De acordo com os autores, o fenômeno pôde ser observado diretamente, sem necessidade de instrumentos de ampliação, graças à escala milimétrica alcançada pelas oscilações.
“Criamos um ambiente relativamente simples: colocamos o material entre vidros, acendemos a luz e todo o processo se desenrolou”, explicou Ivan Smalyukh, coautor do estudo. O caráter autossustentado das oscilações confirma a definição de cristal do tempo, cuja principal característica é apresentar periodicidade não só no espaço, como ocorre em cristais convencionais, mas também no tempo.
Do conceito teórico à confirmação experimental
O físico Frank Wilczek propôs em 2012 que determinadas estruturas poderiam repetir sua configuração em intervalos temporais contínuos, desafiando a interpretação clássica da termodinâmica. Durante quatro anos, o tema permaneceu controverso até que, em 2016, grupos independentes relataram detecções de cristais do tempo em sistemas quânticos ultrafrios.
Esses resultados, contudo, restringiam-se a escalas microscópicas, exigindo equipamentos sofisticados para observação. O experimento agora divulgado amplia o fenômeno para dimensões visíveis, o que, segundo especialistas, abre caminho para estudos experimentais mais acessíveis e aplicações práticas em diferentes setores.
Potenciais aplicações em telecomunicações e fotônica
Relatórios indicam que cristais do tempo podem melhorar a eficiência de dispositivos ópticos ao controlar a propagação da luz de forma mais estável do que estruturas estáticas. Também há expectativa de uso no desenvolvimento de relógios de precisão, sistemas de criptografia e mecanismos antifalsificação que exploram assinaturas temporais exclusivas.
No estudo de Boulder, a escolha de cristais líquidos facilita a integração com tecnologias já consolidadas na indústria de painéis e fibras ópticas. A equipe afirma que a configuração testada ainda é preliminar, mas sugere viabilidade de produção em escala, dado o baixo custo dos materiais e a simplicidade do método de montagem.
Desdobramentos e próximos passos
Segundo os pesquisadores, investigar como o padrão temporal reage a diferentes comprimentos de onda de luz e a campos elétricos pode revelar novos graus de controle do fenômeno. Há planos para testar a estabilidade do cristal do tempo sob variações mecânicas e integrar a estrutura a circuitos fotônicos, onde a oscilação periódica poderia atuar como modulador de sinal.

Imagem: Internet
Laboratórios em outros países já manifestaram interesse em reproduzir o experimento, o que deve acelerar a validação independente dos resultados. Se confirmada a robustez do método, a descoberta poderá influenciar a pesquisa em computação quântica, oferecendo plataformas alternativas para o armazenamento de informação em fases temporais.
Impacto para o leitor
Em termos práticos, a expansão dos cristais do tempo para dimensões visíveis simplifica o acesso de universidades e startups à tecnologia, reduzindo custos de pesquisa e acelerando a transição do conceito para produtos. Para o consumidor final, isso pode significar monitores com menor consumo energético, redes de comunicação mais rápidas e novos sistemas de segurança baseados em padrões de luz mutáveis.
Se as previsões se confirmarem, dispositivos domésticos poderão usar a oscilação temporal para sincronizar dados sem necessidade de servidores externos, aumentando a privacidade e diminuindo a latência dos serviços conectados.
Curiosidade
Embora a ideia de um cristal que “bate” como um relógio pareça moderna, o padrão temporal lembra os mecanismos de ressonância observados em relógios de pêndulo do século XVII. A diferença é que, nos cristais do tempo, a oscilação emerge de propriedades quânticas ou mesoscópicas do material, não da gravidade ou de engrenagens. Esse vínculo entre tecnologia contemporânea e princípios clássicos reforça como conceitos físicos podem atravessar séculos, adaptando-se a novos contextos.
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