WASHINGTON — A Blue Origin solicitou à Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) uma dispensa das novas restrições que limitam lançamentos comerciais ao período entre 22h e 6h (horário local). A medida, editada em 6 de novembro, pode impedir a janela de contingência prevista para 10 de novembro para o foguete New Glenn, encarregado de colocar no espaço a missão ESCAPADE da NASA com destino a Marte.
Restrição entra em vigor durante crise no controle de tráfego aéreo
O voo NG-2 está programado para decolar às 14h45 (horário da Costa Leste) de 9 de novembro, a partir de Cabo Canaveral, Flórida. Segundo a própria companhia, a revisão de prontidão de lançamento foi concluída em 8 de novembro, com previsão de 65% de condições climáticas favoráveis. Caso a decolagem seja adiada, a oportunidade seguinte seria em 10 de novembro às 14h40, mas essa data conflita com a nova ordem da FAA.
O órgão adotou a restrição após a paralisação do governo norte-americano iniciada em 1º de outubro, que deixou controladores de tráfego aéreo sem remuneração por mais de um mês. A crescente ausência desses profissionais levou a agência a reduzir atividades que possam pressionar o Sistema Nacional do Espaço Aéreo, incluindo lançamentos de foguetes fora do intervalo noturno.
Blue Origin busca exceção para cumprir cronograma da NASA
Em nota divulgada em 7 de novembro, a Blue Origin afirmou estar “trabalhando em estreita colaboração com a FAA para garantir que o lançamento do New Glenn com a missão ESCAPADE possa prosseguir”. Laura Maginnis, vice-presidente de gestão de missões do veículo, reiterou o empenho em “honrar as exigências de segurança do espaço aéreo” enquanto procura alternativas para não comprometer os objetivos da NASA e da empresa.
Maginnis explicou que conversas com a FAA e com a própria agência espacial seguem “pelos canais governamentais adequados” e incluem a possibilidade de exceções específicas, dependendo dos eventos do dia 9. Segundo especialistas do setor, pedidos de isenção costumam ser analisados caso a caso, considerando risco à navegação aérea e relevância científica ou comercial da missão.
Lançamentos de outras empresas também podem ser afetados
A ordem da FAA alcança todo o segmento de lançamentos licenciados. Uma missão Falcon 9 da SpaceX, inicialmente agendada para 10 de novembro às 17h12, foi postergada para não antes das 22h do mesmo dia, dentro do limite estabelecido. Outro Falcon 9, o voo compartilhado Transporter-15 a partir da Base da Força Espacial de Vandenberg, Califórnia, também teve o cronograma ajustado e, por requisitos orbitais, não pode simplesmente ser deslocado para horário posterior no mesmo dia.
De acordo com dados oficiais, os Estados Unidos registram em média mais de 100 lançamentos comerciais anuais, número que exige coordenação intensa com a aviação civil. A atual restrição, se mantida por longo período, pode atrasar cronogramas e aumentar custos, já que cada janela perdida envolve reposicionamento de equipes, satélites e embarcações de recuperação.
Objetivos científicos da missão ESCAPADE
O New Glenn transportará duas espaçonaves idênticas que irão primeiro ao ponto de equilíbrio gravitacional Terra-Sol L2, onde permanecerão cerca de um ano. Depois, seguirão para Marte, com chegada prevista para 2027. O par de sondas estudará como o vento solar interage com a magnetosfera e a atmosfera marciana, tema considerado crucial para compreender a evolução climática do planeta e a viabilidade de futuras missões tripuladas.
Trinta e três minutos após a separação dos satélites, a Blue Origin ativará um segundo experimento acoplado ao estágio superior: um demonstrador de comunicações da Viasat que integra o Projeto de Serviços de Comunicações da NASA. O objetivo é testar redes comerciais como alternativa aos tradicionais sistemas de retransmissão operados pela agência.
Imagem: Blue Origin
Retorno operacional do New Glenn e mudanças no propulsor
Esse será o segundo voo do New Glenn. No lançamento inaugural, em janeiro, o foguete alcançou a órbita, mas não conseguiu pousar o primeiro estágio devido a uma falha na reativação do motor. Para aumentar a probabilidade de recuperação nesta missão, a Blue Origin implementou ajustes no sistema de gerenciamento de propelente e alterações pontuais em hardware. “Não houve achados significativos no primeiro voo; ficamos satisfeitos com o desempenho”, destacou Maginnis.
Impacto para o mercado e para o público
Para o setor espacial, a decisão da FAA evidencia como questões administrativas — neste caso, um shutdown governamental — podem repercutir diretamente na agenda de lançamentos e, por extensão, em contratos, empregos e pesquisa científica. Para o público, a eventual postergação de missões afeta prazos de serviços que dependem de satélites, como comunicação e observação da Terra. Segundo analistas, atrasos prolongados podem até refletir em custos repassados a clientes finais.
Se a Blue Origin obtiver a isenção, o cenário reforça a flexibilidade regulatória quando a segurança aérea é mantida. Caso contrário, a empresa terá de ajustar o cronograma ou aguardar nova janela compatível, o que pode deslocar a missão para além do período de alinhamento orbital ideal com Marte.
Curiosidade
Você sabia que o ponto Lagrange L2, onde as sondas ESCAPADE ficarão estacionadas antes de partir para Marte, é o mesmo utilizado pelo telescópio espacial James Webb? Nessa região, a gravidade combinada da Terra e do Sol cria uma “bolsa gravitacional” que minimiza o gasto de propulsão para manter a posição. A estratégia de usar o L2 como etapa intermediária permite economizar combustível e ajustar a trajetória com mais precisão.
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