Escovar os dentes e usar fio dental fazem parte da rotina humana para manter o hálito agradável. No reino animal, porém, a ausência de higiene bucal, aliada a dietas extremas, cria verdadeiras “bombas de mau cheiro” capazes de afastar predadores – e pessoas – a vários metros de distância. A seguir, veja quais espécies figuram no topo dessa nada honrosa lista e entenda por que o odor proveniente de suas bocas se tornou lendário.
Baleia-jubarte transforma krill em névoa de odor intenso
A baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae) é conhecida por saltos acrobáticos e cantos complexos, mas quem chega perto também descobre outro traço marcante: o hálito. Quando o animal expira pelo espiráculo, libera ar quente misturado a restos de krill semidigerido. Especialistas explicam que, durante a alimentação, a jubarte engole grandes volumes desses crustáceos, que fermentam em um estômago multicavitário. Ao retornar à superfície para respirar, a pressão expele vapores que carregam partículas do processo digestivo, produzindo uma nuvem descrita como combinação de peixe em decomposição e gases intestinais.
Apesar do desconforto olfativo, esse fenômeno não prejudica a baleia. Pelo contrário, a dieta rica em krill sustenta a camada de gordura essencial para longas migrações. Pesquisadores usam amostras desse sopro para estudar hormônios e indicadores de saúde, mostrando que até o mau hálito pode oferecer dados valiosos à ciência marinha.
Leões-marinhos e um cardápio que “derruba” o olfato
Na costa de diversos continentes, leões-marinhos costumam descansar em grandes colônias. Quando bocejam, liberam um odor que, segundo biólogos que trabalham em reservas, é forte o suficiente para causar náuseas em visitantes desavisados. O motivo está na dieta predominantemente piscívora: peixe digerido parcialmente permanece na boca junto a fragmentos de escamas e espinhas, criando ambiente ideal para bactérias produtoras de compostos sulfurados – responsáveis pelo cheiro acre.
Esse hálito marcante não prejudica as interações entre os animais, pois o olfato dos pinnípedes é menos aguçado que o humano. Para pesquisadores, o maior desafio é lidar com o odor durante tratamentos veterinários ou coleta de amostras, quando a proximidade se torna inevitável.
Abutres: carne putrefata e vômito como defesa química
Abutres ocupam o topo da cadeia de carniceiros e desenvolveram mecanismos fisiológicos para digerir tecidos em decomposição. O pH extremamente baixo do estômago neutraliza micróbios letais para a maioria dos animais. Contudo, o processo libera gases com cheiro de carniça, que se acumulam no trato digestivo e alcançam a cavidade bucal. Em situação de ameaça, essas aves regurgitam o conteúdo parcialmente digerido, criando uma defesa dupla: distraem predadores e projetam um hálito descrito por observadores como “coquetel de decomposição e ácido”.
Dados de organizações de conservação indicam que esse comportamento aumenta a taxa de sobrevivência, pois poucos predadores arriscam contato após o “ataque”. Além disso, o papel ecológico dos abutres é essencial: ao remover carcaças, reduzem a propagação de doenças, mesmo que isso custe um odor que poucos suportam.
Diabo-da-Tasmânia soma odor almíscarado e dieta de carniça
O maior marsupial carnívoro atual, o diabo-da-Tasmânia (Sarcophilus harrisii), já é famoso por vocalizações estridentes. O hálito, porém, completa o pacote intimidador. A espécie consome carne em decomposição sem desperdiçar ossos ou peles, deixando resíduos presos entre os dentes. Bactérias alimentadas por essas sobras liberam gases voláteis que se acumulam na boca. Quando o animal se sente acuado, ainda excreta um cheiro almíscarado pelas glândulas, criando combinação olfativa difícil de ignorar.

Imagem: Peoples.com Yuri A
Pesquisas sobre o comportamento do diabo-da-Tasmânia apontam que o odor forte ajuda a evitar confrontos físicos desnecessários, poupando energia e reduzindo riscos de ferimentos. Para os ecologistas, entender essas interações é crucial, já que a espécie enfrenta ameaça de extinção devido a um câncer facial transmissível.
Impacto para o leitor: o que o “bafo animal” ensina sobre saúde e ambiente
Embora curioso, o tema traz lições práticas. Primeiro, mostra o papel da higiene bucal: sem ela, bactérias se multiplicam rapidamente e produzem compostos responsáveis pelo mau cheiro. Em segundo lugar, evidencia como a dieta interfere na microbiota da boca – tanto em humanos quanto em animais. Por fim, ressalta a importância ecológica de cada espécie, mesmo quando associada a odores desagradáveis. Relatórios de conservação reforçam que baleias, abutres e outros “mestres da halitose” prestam serviços ambientais insubstituíveis, como reciclagem de nutrientes e controle de patógenos.
Curiosidade
Você sabia que alguns pesquisadores utilizam cães farejadores para detectar populações de baleias-jubarte a quilômetros de distância? O faro canino é treinado para identificar compostos orgânicos presentes justamente no sopro malcheiroso expelido pelo espiráculo. Essa técnica não invasiva auxilia no monitoramento de espécies ameaçadas e demonstra, mais uma vez, como até o mau hálito pode virar aliado da ciência.
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