Firefly integra SciTec e mira protagonismo no escudo espacial dos EUA

Ciência

Firefly Aerospace usou a teleconferência de resultados do terceiro trimestre, em 12 de novembro, para reforçar a mudança de rota em direção ao setor militar norte-americano. Após concluir a compra da contratada de defesa SciTec por US$ 855 milhões, a empresa de Cedar Park, Texas, destacou que agora está posicionada para disputar contratos do Golden Dome, o ambicioso projeto de defesa antimíssil em estudo pelo Pentágono.

Aquisição da SciTec amplia foco em defesa

A fusão com a SciTec adiciona ao portfólio da Firefly um conjunto de softwares de detecção, rastreio e processamento de dados já em uso pela Força Espacial dos Estados Unidos. De acordo com o CEO Jason Kim, a nova subsidiária funciona como “multiplicador de força”, pois amplia a capacidade da companhia de concorrer em programas complexos de alerta e consciência situacional no espaço.

Com sede em Princeton, Nova Jersey, e uma instalação classificada em Boulder, Colorado, a SciTec possui grande parte da equipe com autorizações de segurança, o que facilita o acesso a projetos sensíveis. Esses ativos, combinados aos veículos de lançamento Alpha e às plataformas de satélite da Firefly, criam um conjunto de soluções do lançamento ao processamento de dados, descrito pelo executivo como “fechamento do ciclo de controle de fogo” para escudos antimísseis.

A integração, entretanto, gerou impacto imediato nas finanças. A companhia reportou receita acima do esperado no trimestre, mas registrou prejuízo líquido de cerca de US$ 140 milhões, atribuído em grande parte aos custos da operação. O resultado vem na esteira da explosão de um foguete Alpha em setembro, durante ensaio no Texas. Segundo Kim, as correções já foram implementadas, e o próximo voo está previsto para o fim deste ano ou início de 2026.

Golden Dome no centro da estratégia

O Golden Dome, estimado em US$ 175 bilhões, pretende criar uma camada orbital de satélites interceptadores voltada a ameaças de mísseis balísticos e hipersônicos. Embora o Departamento de Defesa ainda não tenha divulgado o plano de compras nem a arquitetura técnica, Firefly afirma manter diálogo constante com os “clientes do programa” e vislumbrar oportunidades que vão de testes de interceptores a lançamentos de alvos hipersônicos.

Kim repetiu diversas vezes, durante a chamada, que a combinação entre lançadores, espaçonaves e software põe a empresa entre os poucos fornecedores capazes de entregar uma cadeia completa de serviços demandada pelo projeto: “Junto com a SciTec, oferecemos capacidades ponta a ponta para o Golden Dome”. Relatórios de mercado indicam que a disputa deve atrair gigantes do setor aeroespacial, o que torna a integração recém-concluída fator decisivo para a competitividade da Firefly.

Especialistas em defesa consultados por agências norte-americanas avaliam que, caso o escudo espacial avance, haverá demanda crescente por lançamentos responsivos e análises em tempo real, nichos em que Firefly e SciTec atuam. Para o Pentágono, a velocidade de resposta é um diferencial frente às ameaças hipersônicas emergentes, que podem atingir alvos em minutos.

Avanços em teste hipersônico e parcerias internacionais

Paralelamente ao foco nos EUA, a Firefly informou ter assinado contrato – mantido em confidencialidade – para testes hipersônicos utilizando o foguete Alpha. Capaz de levar até uma tonelada à órbita baixa ou duas toneladas em trajetórias suborbitais, o veículo se encaixa em campanhas de validação de armas e interceptores, segmento que o Departamento de Defesa tenta acelerar diante de um acúmulo de programas na fila de ensaios.

A companhia também busca ampliar presença global em alinhamento com prioridades de segurança dos Estados Unidos. Uma das iniciativas envolve a Space Cotan, do Japão, no estudo de um novo espaçoporto comercial no norte do país. Para Kim, a localização oferece vantagens orbitais estratégicas, amplia a resiliência da cadeia de lançamentos e cria ligação direta com a crescente indústria de satélites asiática.

O executivo citou ainda o Space Strategic Fund japonês, dotado de US$ 6 bilhões desde 2024, e a recente formação de uma força espacial no país como indicativos de demanda aliada em expansão. Conversas com a Agência Espacial Europeia (ESA) e com os Emirados Árabes Unidos também estão em andamento, sinalizando interesse da Firefly em replicar o modelo de parcerias para serviços de lançamento, integração de carga útil e soluções de processamento de dados.

Impacto para o mercado e para o usuário final

Para investidores e para a cadeia industrial, o movimento consolida a Firefly como player de médio porte com ambições de disputar contratos antes restritos a grupos maiores. Caso a empresa converta a vantagem tecnológica em contratos do Golden Dome, pode acelerar o cronograma de desenvolvimento de satélites interceptadores e reduzir custos de lançamento, impacto que tende a repercutir em toda a indústria espacial. Na prática, ganhos de escala podem baratear o acesso de governos e empresas a missões de observação e comunicação, influenciando prazos e preços de serviços baseados em órbita.

Curiosidade

A aposta da Firefly em uma constelação defensiva retoma um conceito dos anos 1980: a Iniciativa de Defesa Estratégica, popularmente conhecida como “Guerra nas Estrelas”. Na época, o programa previa lasers e interceptadores orbitais, mas foi considerado tecnicamente inviável. Quatro décadas depois, avanços em propulsão, sensores e inteligência artificial tornaram factível aquilo que antes pertencia mais à ficção do que à engenharia, recolocando o escudo espacial no centro do debate de segurança.

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