Uma ação conjunta da Justiça argentina desarticulou uma estrutura empresarial dedicada à distribuição de conteúdo audiovisual sem licença, responsável por serviços como My Family Cinema e TV Express. A investigação identificou escritórios completos, com cerca de cem funcionários, setores administrativos e recursos humanos, operando de forma semelhante a empresas legítimas, mas focados na oferta de streaming pirata para milhões de usuários, principalmente no Brasil.
Esquema movimentava milhões de assinaturas e montante bilionário
De acordo com dados oficiais obtidos durante as buscas, o grupo mantinha 6,2 milhões de assinantes ativos, dos quais 4,6 milhões encontravam-se em território brasileiro. Os usuários pagavam entre US$ 3 e US$ 5 ao mês — média de R$ 16 a R$ 27 — para acessar filmes, séries e transmissões esportivas sem autorização dos detentores de direitos autorais.
Relatórios indicam que o faturamento anual variava entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões, o equivalente a cerca de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão. Esse valor coloca a operação entre as maiores já descobertas na América Latina no segmento de pirataria audiovisual.
O crescimento da base de clientes coincidiu com eventos esportivos de grande audiência, como o Mundial de Clubes. Especialistas observam que transmissões ao vivo de alto apelo costumam impulsionar a busca por alternativas ilegais de baixo custo, elevando o risco para o mercado formal.
Buscas apreendem equipamentos, dinheiro e criptomoedas
O Ministério Público Fiscal de Buenos Aires coordenou mandados de busca em quatro endereços ligados ao grupo. As autoridades apreenderam 88 notebooks, 37 discos rígidos, 568 cartões de recarga, além de aproximadamente R$ 700 mil em dinheiro vivo e criptomoedas. Um dos escritórios funcionava com estrutura de call center, registrando cerca de cem funcionários sob contrato formal, inclusive com um departamento de recursos humanos.
Segundo investigadores, a existência de setores administrativos formais demonstrava a tentativa de conferir aparência de legalidade ao negócio. Contudo, servidores identificados hospedavam vasto acervo de obras protegidas por direitos autorais, distribuído sem licença por pelo menos 28 plataformas, que deverão ser desativadas até o fim de novembro.
Entre os serviços já retirados do ar constam My Family Cinema, TV Express, Eppi Cinema, Vela Cinema, Cinefly e Vexel Cinema. A lista inclui ainda Yoom Cinema, Bex TV, Jovi TV, Lumo TV, Nava TV, Samba TV e Ritmo TV.
Cooperação internacional envolve Anatel e órgãos brasileiros
No Brasil, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) acompanha o caso e informa que intensifica ações de fiscalização contra TV boxes não homologadas, dispositivos frequentemente utilizados para acessar aplicações ilegais como o My Family Cinema. A agência atua em conjunto com a Associação Brasileira de Telecomunicações (ABTA), Agência Nacional do Cinema (Ancine), Receita Federal, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Ministério da Justiça.
O processo de homologação, salienta a Anatel, é essencial para garantir a segurança cibernética e evitar interferências em redes de telecomunicações. Equipamentos irregulares podem servir de porta de entrada para ataques de negação de serviço (DDoS) ou outras ameaças, comprometendo não apenas o usuário final, mas também a infraestrutura de operadoras.

Imagem: Who is Danny
A Alianza Contra la Piratería Audiovisual, entidade que denunciou o esquema em 2024, destaca que o prejuízo ao mercado formal vai além do montante financeiro. “A pirataria afeta investimentos em produção de conteúdo, empregos no setor audiovisual e a arrecadação de tributos”, afirma a organização em nota.
Impacto para consumidores e mercado
Para o público brasileiro, a derrubada das plataformas representa perda de acesso a serviços de baixo custo, porém também reduz o risco de exposição a malwares comuns em aplicativos não oficiais. Para o setor de telecomunicações, a operação sinaliza avanço na cooperação regional e reforça a necessidade de políticas de educação digital e fiscalização contínua.
Empresas de streaming legalizadas podem se beneficiar com a migração de parte dos 4,6 milhões de usuários que dependiam dos serviços piratas. Contudo, analistas do mercado de mídia alertam que a sustentabilidade desse movimento depende de modelos de assinatura competitivos e da ampliação de ofertas gratuitas financiadas por publicidade.
Segundo especialistas, a repressão a grandes núcleos de pirataria costuma gerar retomada temporária do consumo legal, mas novos provedores ilegais tendem a surgir. Por isso, a combinação de ações judiciais, bloqueio de dispositivos e campanhas de conscientização é vista como estratégia de longo prazo.
Curiosidade
O impacto da pirataria não se limita ao entretenimento. Estudo da União Europeia mostra que, a cada euro gasto em conteúdo ilegal, até 0,27 euro deixa de circular na economia formal, afetando setores como publicidade e tecnologia de transmissão. No caso latino-americano, onde a participação de eventos esportivos é elevada, a diferença pode ser ainda maior, evidenciando como operações como a da Argentina têm reflexos que vão além das telas.
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