Dupla de meteoros? Especialistas explicam “fireballs gêmeos” vistos nos céus dos EUA

Tecnologia

Imagens gravadas em 16 e 17 de outubro chamaram atenção de moradores do estado de Connecticut, nos Estados Unidos. Os vídeos mostram um brilho esverdeado intenso atravessando o céu noturno, seguido por um segundo ponto luminoso que parece acompanhar o primeiro em perfeita sincronia, antes de ambos desaparecerem próximos ao horizonte. À primeira vista, o registro sugere a ocorrência rara de dois meteoros entrando juntos na atmosfera terrestre. Contudo, análises indicam que o espetáculo provavelmente não passou de um efeito óptico causado pelo equipamento de filmagem.

Como o fenômeno foi registrado

As gravações partiram de câmeras de monitoramento do céu instaladas em North Branford, cidade de pouco mais de 14 mil habitantes na região litorânea de Connecticut. Os dispositivos, destinados à observação de meteoros, contam com lentes grande-angulares protegidas por cúpulas acrílicas transparentes, um recurso comum para evitar o acúmulo de umidade e poeira. Nos dois dias consecutivos, as câmeras captaram um fireball — termo técnico para meteoros extremamente brilhantes — com cor verde característica de objetos ricos em magnésio. Logo atrás, surgiu uma segunda luz de intensidade semelhante, reproduzindo cada movimento do objeto principal até desaparecer no mesmo instante.

O suposto “encaixe” perfeito entre os dois pontos luminosos alimentou especulações em redes sociais sobre uma possível dupla de meteoros viajando lado a lado. Comentários variaram de referências a fragmentos de um mesmo corpo celeste até teorias sobre chuvas de meteoros não relatadas por observatórios oficiais.

Explicação técnica aponta reflexo na cúpula

Segundo Robert Lunsford, analista da American Meteor Society (AMS) especializado em rastrear bólidos, a hipótese de dois meteoros idênticos surgindo e sumindo simultaneamente é pouco plausível. Em nota enviada à imprensa, ele esclareceu que a “duplicação” foi gerada por reflexos internos na própria cúpula acrílica das câmeras. “Nos modelos usados em Connecticut, eventos muito brilhantes podem criar imagens secundárias deslocadas alguns graus, mas sempre no mesmo ponto relativo da lente”, explicou.

Lunsford ressalta que a distância fixa entre a imagem real e o reflexo confirma a origem artificial do segundo ponto. Nos dois vídeos, o “meteoro duplicado” aparece com o mesmo ângulo em relação ao original, reforçando a tese de reflexo. De acordo com dados oficiais da AMS, nenhuma rede de detecção registrou dupla entrada atmosférica naquela localidade, apenas um único fireball em cada noite.

Reflexos: desafio constante na astrofotografia

Reflexões internas são problema conhecido entre astrônomos amadores e profissionais. Cúpulas acrílicas, filtros anti-embaçamento e certas configurações de lente podem multiplicar fontes de luz intensas, criando artefatos que iludem até observadores experientes. Relatórios indicam que fireballs geram picos de luminosidade até dezenas de vezes superiores às estrelas mais brilhantes, aumentando a chance de reflexos.

Para mitigar o efeito, especialistas recomendam manter a cúpula livre de micro-arranhões, utilizar revestimentos antirreflexo e revisar periodicamente o alinhamento óptico. Em observações essenciais, algumas equipes retiram a cúpula e operam em abrigos controlados, embora o procedimento eleve o custo e a manutenção do equipamento.

Impactos para a ciência cidadã e verificação de dados

O episódio evidencia a necessidade de validação cruzada em projetos de ciência cidadã que dependem de imagens abertas, como redes colaborativas de detecção de meteoros. Segundo pesquisadores do setor, a popularização de câmeras de baixo custo entrega volume de dados sem precedentes, mas impõe desafios na filtragem de eventos falsos. Sistemas automatizados que classificam fenômenos às vezes não distinguem reflexos, exigindo revisão humana ou comparação com outras estações.

Dupla de meteoros? Especialistas explicam “fireballs gêmeos” vistos nos céus dos EUA - Imagem do artigo original

Imagem: Anthy Wood published

De acordo com a Planetary Science Institute, aproximadamente 95% dos relatos iniciais de “eventos duplos” enviados ao banco de dados global são posteriormente reclassificados como reflexos, pássaros iluminados ou aviões passando em sincronia. A triagem cuidadosa evita conclusões precipitadas sobre fragmentação de asteroides ou descoberta de novas chuvas de meteoros.

O que muda para o público e para os observatórios

Para o observador casual, a orientação é manter o entusiasmo, mas buscar confirmação em fontes confiáveis antes de compartilhar possíveis “anomalias” celestes. A curto prazo, fabricantes de câmeras podem aprimorar revestimentos antirreflexo, enquanto comunidades astronômicas trabalham em algoritmos que identificam duplicações pela posição fixa em relação ao objeto luminoso principal. Caso essas tecnologias se consolidem, vídeos de fireballs exibidos em redes sociais deverão trazer indicações automáticas de reflexo, reduzindo a disseminação de equívocos e aumentando a confiança em aplicações científicas e educacionais.

Se você se interessa por astrofotografia, vale acompanhar as recomendações da American Meteor Society sobre configurações de ISO e tempo de exposição ideais para capturar fireballs sem gerar artefatos. Ajustes simples, como limpar a cúpula com solução neutra, já diminuem significativamente a chance de reflexos, permitindo registros mais fiéis do espetáculo celeste.

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Curiosidade

Você sabia que o termo “fireball” é usado quando o brilho do meteoro supera o de Vênus, o planeta mais luminoso do céu noturno? Segundo especialistas, esses eventos ocorrem diariamente em diferentes partes do mundo, mas a maioria acontece sobre oceanos ou durante o dia, passando despercebida. Quando surge à noite e próximo a áreas povoadas, o fenômeno se torna um espetáculo raro que desperta relatos entusiasmados — e, às vezes, ilusões ópticas como as vistas em Connecticut.

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