Cassini detecta fósforo em Encélado e reforça busca por vida fora da Terra

Tecnologia

Dados inéditos da missão Cassini, encerrada em 2017, revelam a presença de fósforo – elemento indispensável aos processos biológicos – em grãos de gelo ejetados pela lua Encélado, de Saturno. É a primeira detecção confirmada desse ingrediente essencial em um oceano extraterrestre, ampliando as perspectivas de habitabilidade no Sistema Solar.

Detectando o elemento que faltava

Durante os 13 anos em que orbitou Saturno, a sonda Cassini atravessou diversas vezes a pluma de partículas congeladas expelidas pelas fissuras do polo sul de Encélado. O instrumento Cosmic Dust Analyzer (CDA) registrou a composição química de milhares de grãos de gelo presentes nessa pluma e no anel E de Saturno, formado justamente pelo material proveniente da lua.

Pesquisadores de universidades na Alemanha, Estados Unidos, Japão e Europa reexaminaram esses dados, disponíveis no arquivo Planetary Data System da NASA. A revisão identificou fosfatos de sódio em concentrações significativas, indicando a existência de fósforo dissolvido no oceano subsuperficial de Encélado. Experimentos de laboratório confirmaram que os sinais obtidos pelo CDA correspondem a sais de fósforo em estado solúvel, condição fundamental para processos bioquímicos.

Segundo o estudo publicado na revista Nature, os níveis de fosfato podem ser até 100 vezes superiores aos encontrados nos oceanos da Terra. Modelos geoquímicos sugerem que a interação entre a água rica em carbonato e rochas no leito oceânico da lua é capaz de liberar grandes quantidades do elemento.

O que a descoberta significa para a astrobiologia

Até agora, os cientistas já haviam confirmado a presença de compostos orgânicos, sódio, potássio e carbonatos em Encélado, mas o fósforo permanecia ausente. Como parte estrutural do DNA, das membranas celulares e das moléculas que armazenam energia em organismos terrestres, esse elemento é considerado o “elo que faltava” para avaliar o potencial de vida em mundos oceânicos gelados.

Christopher Glein, geoquímico do Southwest Research Institute, destaca que “os componentes básicos estão todos presentes; a questão é se as condições permitem que a vida surja”. Embora não haja evidência direta de organismos, a abundância de fosfato reforça a hipótese de que Encélado possui um ambiente quimicamente favorável à biogênese.

Modelagens realizadas pela equipe indicam que processos semelhantes podem ocorrer em outras luas congeladas, como Europa (Júpiter) ou Titan (Saturno), desde que o gelo original contenha dióxido de carbono e a água líquida tenha acesso às rochas do interior. Assim, o achado amplia o campo de investigação para futuras missões dedicadas à astrobiologia.

Novas missões no horizonte

Após o “mergulho final” da Cassini em Saturno, em 2017, a NASA e a ESA planejam sondas que poderão analisar com mais precisão as plumas de Encélado. Entre as propostas em avaliação estão orbitadores equipados com espectrômetros de massa avançados, capazes de coletar amostras dos jatos de água sem pousar na superfície. Especialistas apontam que um módulo de descida, embora tecnicamente complexo, permitiria investigar diretamente a crosta gelada e até depositar instrumentos no oceano.

De acordo com relatórios de planejamento, a presença confirmada de fósforo deve influenciar a prioridade científica desses projetos. A meta passa a incluir a busca por moléculas mais complexas – como aminoácidos ou lipídios – e, se possível, por bioassinaturas que indiquem metabolismo ativo.

Impacto para o leitor e para a exploração espacial

Para o público em geral, a descoberta reforça a possibilidade de que a vida não seja exclusividade terrestre. Se confirmada a habitabilidade de Encélado, o conceito de “zona habitável” dependerá menos da distância ao Sol e mais da existência de energia interna e química favorável. No mercado aeroespacial, empresas privadas que desenvolvem propulsão de baixo custo podem ver novas oportunidades em missões de médio porte a luas geladas, enquanto instituições de pesquisa tendem a receber mais recursos para instrumentação sensível a fosfatos e compostos orgânicos.

Segundo especialistas em ciência planetária, o avanço também influencia debates sobre proteção planetária, pois qualquer missão de pouso precisará evitar contaminação biológica que interfira em potenciais ecossistemas nativos.

Curiosidade

Quando a Cassini foi concebida, na década de 1990, o principal objetivo era estudar os anéis de Saturno, e Encélado nem figurava entre as prioridades científicas. Os surpreendentes jatos de água foram detectados apenas em 2005, dois anos após a chegada da sonda ao sistema saturniano. A partir daí, os engenheiros replanejaram várias órbitas para investigar a lua de perto, mostrando como a exploração espacial frequentemente obtém grandes descobertas de forma inesperada.

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