Maior simulação do Universo já criada apoia missão Euclid na caça à matéria escura

Tecnologia

A Agência Espacial Europeia (ESA) apresentou o Flagship 2, considerado o maior modelo sintético do cosmos produzido até hoje. O conjunto de dados, desenvolvido para dar suporte à missão Euclid, reúne 3,4 bilhões de galáxias, cada uma descrita por 400 propriedades distintas, como brilho, posição, velocidade e formato. A iniciativa busca oferecer uma referência de alta precisão para interpretar as observações do telescópio, lançado em 2022 com o propósito de investigar a composição e a evolução do chamado “Universo escuro”.

Recursos computacionais e metodologia

O projeto foi conduzido pelo astrofísico Joachim Stadel, da Universidade de Zurique (UZH), que utilizou o supercomputador Piz Daint, instalado no Centro Nacional Suíço de Supercomputação em Lugano. Segundo a equipe, foram rastreadas as interações gravitacionais de quatro trilhões de partículas em uma única execução, tarefa que exigiu centenas de milhares de horas de processamento. Na etapa seguinte, algoritmos populados com dados astronômicos reais preencheram essas estruturas com galáxias que correspondem ao campo de visão do Euclid.

Para garantir consistência científica, especialistas compararam os resultados com levantamentos observacionais prévios, ajustando parâmetros de luminosidade, distribuição de massa e taxas de formação estelar. De acordo com relatórios técnicos, o nível de detalhe permite identificar distorções mínimas geradas por lentes gravitacionais — fenômeno essencial para mapear a matéria escura, que não emite luz e permanece invisível aos instrumentos ópticos tradicionais.

Avanço sobre modelos anteriores

O Flagship 2 supera em escala e resolução todas as simulações cosmológicas disponíveis até então. Projetos recentes, como o IllustrisTNG ou o Millennium, contavam com algumas centenas de milhões de galáxias representadas. Agora, o número saltou para bilhões, ampliando a janela temporal que pode ser investigada em até 10 bilhões de anos-luz no passado, segundo documentos oficiais. Essa abrangência fornece uma amostra estatística suficiente para avaliar se a constante de expansão do Universo realmente permaneceu estável ao longo das eras cósmicas.

Julian Adamek, também da UZH e colaborador da pesquisa, afirma que testes iniciais indicam boa concordância entre o modelo e os primeiros dados do Euclid. “Será empolgante verificar se esses resultados se mantêm à medida que a missão acumular observações de maior precisão”, pontua o astrofísico. Caso surjam discrepâncias significativas, cientistas poderão revisar teorias sobre energia escura ou buscar explicações alternativas para a formação de grandes estruturas cósmicas.

Aplicações práticas para a missão e a comunidade científica

A ESA planeja comparar diariamente as imagens captadas pelo Euclid com porções equivalentes do Flagship 2. Esse procedimento ajuda a calibrar instrumentos, corrigir vieses estatísticos e reduzir incertezas em medições de distâncias. A estratégia também acelera a identificação de eventos raros, como colisões de galáxias ou sinais de buracos negros supermassivos em crescimento.

Ao tornar o banco de dados público, o consórcio Euclid — composto por mais de 2 000 pesquisadores de 300 institutos — pretende atrair contribuições da comunidade global. Especialistas em ciência de dados, por exemplo, podem treinar algoritmos de aprendizado de máquina para detectar anomalias que escapem a métodos convencionais. Já grupos dedicados a simulações hidrodinâmicas podem sobrepor seus próprios modelos de formação estelar ao Flagship 2, testando hipóteses em ambiente controlado.

Além disso, a disponibilidade de um catálogo tão extenso favorece estudos sobre a distribuição de massa nas primeiras épocas do Universo e o papel da matéria escura na evolução de galáxias espirais. Pesquisadores esperam derivar relações mais robustas entre a densidade de matéria e a curvatura do espaço-tempo, o que poderá refinar previsões sobre o futuro da expansão cósmica.

Impacto potencial para o leitor

Embora pareçam temas distantes do cotidiano, iniciativas como o Flagship 2 ajudam a aprimorar técnicas de processamento de big data e otimização de algoritmos que, mais tarde, chegam a setores como finanças, saúde e telecomunicações. Ao exigir sistemas capazes de analisar trilhões de dados em questão de horas, a astronomia impulsiona o desenvolvimento de hardware especializado, redes de alta velocidade e ferramentas de inteligência artificial que acabam incorporadas em aplicativos e serviços usados diariamente.

Segundo analistas, investimentos em missões científicas espaciais frequentemente retornam em forma de inovação tecnológica e oportunidades de mercado. Para pessoas interessadas em carreiras futuras, a integração entre física, ciência da computação e engenharia de dados representa uma área em rápida expansão.

Se você deseja acompanhar outras transformações tecnológicas que influenciam o dia a dia, vale conferir as publicações recentes na seção de tecnologia do nosso site: clique aqui e saiba mais.

Curiosidade

Embora o Flagship 2 seja gigantesco, ele ocupa menos de 15 terabytes — volume que caberia em um único disco rígido profissional. O segredo está na compressão inteligente dos dados, que armazena apenas parâmetros essenciais e gera detalhes extras sob demanda. Em outras palavras, quando um cientista aproxima o “zoom” em uma galáxia virtual, novos cálculos refinam a imagem em tempo real, economizando espaço sem sacrificar qualidade. O mesmo princípio é usado em jogos e visualizações 3D para rodar cenários complexos em computadores domésticos.

Para mais informações e atualizações sobre tecnologia e ciência, consulte também:

Quando você efetua suas compras por meio dos links disponíveis aqui no RN Tecnologia, podemos receber uma comissão de afiliado, sem que isso acarrete nenhum custo adicional para você!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *