Starlink ultrapassa 7 000 satélites e acende sinal amarelo para colisões e poluição espacial

Tecnologia

O serviço de internet via satélite Starlink, da SpaceX, alcançou a marca de quase 7 000 unidades em órbita desde o primeiro lançamento em 2019. A empresa de Elon Musk pretende chegar a 42 000 satélites nos próximos anos para ampliar a cobertura global, sobretudo em áreas rurais onde a infraestrutura de fibra óptica é escassa ou financeiramente inviável. Enquanto moradores dessas regiões registram avanços significativos na conectividade, astrônomos e especialistas em segurança orbital apontam riscos crescentes de colisões, geração de detritos e impactos ambientais.

Internet rápida chega a áreas isoladas, mas a um custo elevado

Nos Estados Unidos, a Starlink reúne 4,6 milhões de assinantes, o dobro do verificado em 2023, ainda que represente apenas 1 % das conexões nacionais. O equipamento custa US$ 349 e a mensalidade parte de US$ 120. Uma pesquisa do Pew Research Center mostra que o preço continua sendo o principal obstáculo para 20 % dos lares sem internet fixa.

Mesmo assim, programas estaduais tentam contornar o problema. O Maine distribui antenas gratuitamente a nove mil residências classificadas como “sem serviço”, enquanto o projeto SOAR, no leste do Kentucky, financiou um ano de Starlink para 90 famílias de baixa renda. Mais de 95 % dessas casas mantiveram a assinatura após o subsídio inicial.

Nos testes da Ookla, a rede registrou média de 65 Mbps de download, 10 Mbps de upload e latência em torno de 58 ms em 2023. Esses valores ficam abaixo do padrão mínimo de 100/20 Mbps adotado pela Comissão Federal de Comunicações (FCC) para programas de subsídio. Analistas atribuem a queda de velocidade ao rápido crescimento de usuários sem expansão proporcional de capacidade.

Congestionamento orbital e risco de efeito cascata

Com cerca de três quartos de todos os objetos em baixa órbita pertencendo à Starlink, o congestionamento tornou-se rotina. Dados citados por Hugh Lewis, professor da Universidade de Southampton, indicam 100 050 manobras de desvio executadas pela constelação em apenas 12 meses — uma a cada cinco minutos. Se o número total previsto de 30 000 satélites se confirmar, esse volume pode chegar a vários milhões de manobras anuais, elevando a probabilidade de colisões e o chamado “síndrome de Kessler”, cenário em que detritos geram sucessivos impactos até inviabilizar novas missões.

Para minimizar riscos, a SpaceX reduziu o limiar de manobras obrigatórias: agora, qualquer probabilidade de choque acima de 1 em 1 000 000 exige mudança de rota. Especialistas reconhecem a responsabilidade da empresa na operação, mas alertam que outras constelações, como o Project Kuiper (Amazon) e iniciativas chinesas, podem assumir critérios menos rigorosos.

Falha do Starship expõe desafios na expansão

A ambição da SpaceX depende do foguete reutilizável Starship, capaz de levar 60 satélites de terceira geração por lançamento. Em 16 de janeiro, porém, um protótipo explodiu durante a subida, forçando a Administração Federal de Aviação (FAA) a suspender novos voos até a conclusão da investigação. Sem o Starship em operação regular, o envio dos modelos V3 — que prometem 1 Tbps de capacidade cada — fica comprometido, agravando a pressão sobre a rede atual e prolongando áreas de congestionamento.

Partículas metálicas e ameaça à camada de ozônio

A vida útil média de cinco anos significa que milhares de satélites serão desorbitados anualmente. Pesquisadores da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) identificaram partículas de alumínio proveniente de satélites queimados representando até 10 % dos aerossóis estratosféricos em 2023. Estudos projetam aumento para 50 % caso o ritmo de lançamentos se mantenha, com potenciais efeitos sobre a camada de ozônio e, consequentemente, sobre a saúde humana e a agricultura.

Preocupação também na astronomia

Desde o primeiro lote, astrônomos relatam traços luminosos das naves em observações científicas. A SpaceX aplicou pintura menos refletiva e ajustes de inclinação para reduzir o brilho, atingindo algum sucesso. Contudo, o número crescente de satélites mantém a ameaça de interferência em telescópios terrestres e a possibilidade, levantada por pesquisadores, de haver em breve mais pontos artificiais do que estrelas visíveis a olho nu.

Para acompanhar outras novidades sobre conectividade, confira os artigos do nosso caderno de Tecnologia.

Em resumo, a constelação Starlink amplia o acesso à internet onde cabos não chegam, mas impõe novos desafios à segurança espacial, ao meio ambiente e à pesquisa científica. A discussão sobre limites, regras internacionais e modelos de mitigação ganha urgência à medida que o céu se torna cada vez mais povoado. De que lado você está nessa equação? Compartilhe a sua opinião nos comentários.

Curiosidade

Se todos os 42 000 satélites previstos pela Starlink estiverem ativos, cada centímetro quadrado da superfície terrestre ficará a, no máximo, 30 km de um equipamento da rede. A densidade permitiria latências próximas às das redes de fibra, mas também exigiria a reentrada de cerca de 8 000 satélites por ano. Para os especialistas, nunca se queimou tanto metal na atmosfera em tão pouco tempo.

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