Quem depende de cobertura móvel em regiões isoladas ganhou uma alternativa direta do espaço. A SpaceX começou a operar o Direct to Cell, serviço da Starlink que conecta smartphones 4G e 5G aos satélites de órbita baixa, permitindo envio de mensagens, localização e, em futuro próximo, chamadas de voz e dados.
Como a tecnologia funciona
O Direct to Cell transforma cada satélite da constelação Starlink em uma “torre de celular espacial”. Equipados com modems eNodeB e antenas de beamforming, esses artefatos captam sinais de aparelhos convencionais e os encaminham à rede terrestre da própria Starlink, que por sua vez se integra às operadoras móveis existentes.
Segundo engenheiros envolvidos no projeto, o uso de órbita baixa (LEO) diminui a latência em comparação a satélites geoestacionários. O foco dos feixes de sinal garante que até transmissões fracas de celulares sejam captadas. Com isso, um usuário pode permanecer conectado em embarcações, rodovias, florestas ou regiões desertas, sem a presença de torres terrestres.
A compatibilidade cobre boa parte dos modelos lançados nos últimos anos. iPhone 14 em diante, Google Pixel 9, linhas Galaxy S21, Galaxy A53 e superiores, além dos novos Motorola Edge e Razr, já constam na lista divulgada pela empresa. O requisito principal é suporte a LTE ou 5G; não há necessidade de antena externa.
Disponibilidade e parcerias globais
A expansão do serviço depende de acordos espectrais com reguladores e de parcerias comerciais com operadoras locais. Em mercados como Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia, as primeiras mensagens de texto via satélite foram transmitidas em fase de testes no começo deste ano.
No Brasil, a chegada ainda aguarda aval da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e definição de faixas de frequência. Operadoras nacionais também precisam firmar contratos de interconexão para que o tráfego seja roteado de forma transparente ao usuário. Executivos da empresa afirmam que as negociações estão em andamento, mas não estabeleceram cronograma.
A SpaceX destaca que o Direct to Cell foi concebido para complementar — e não substituir — a infraestrutura terrestre. O modelo de negócios prevê compartilhar receita com as operadoras, que ganham cobertura estendida em áreas onde o investimento em torres não se justifica.
Vantagens e limitações apontadas
Relatórios internos da companhia listam vários benefícios imediatos. A cobertura praticamente global elimina “zonas mortas” em rotas marítimas, trilhas de montanhismo e comunidades rurais. Equipes de resgate passam a contar com canal redundante em situações de desastre natural, quando torres locais podem falhar.
A acessibilidade também se sobressai: como os aparelhos já suportam LTE, não há custo adicional de hardware para o consumidor. Para veículos, navios e aeronaves, a promessa é de conexão estável em movimento, algo difícil de obter com torres terrestres.

Imagem: Vitor Pádua
Por outro lado, a própria Starlink reconhece entraves. No lançamento, o serviço limita-se ao tráfego de mensagens de texto e pequenos pacotes de dados. A comunicação por satélite exige maior potência de transmissão, o que acelera o consumo de bateria dos celulares. Obstáculos físicos — árvores densas, relevo acidentado e interiores de construções — podem bloquear o sinal. Chuvas intensas e neve também reduzem a qualidade.
Em áreas com grande concentração de dispositivos, a largura de banda disponível por feixe tende a cair, provocando lentidão ou quedas temporárias. Além disso, astrônomos alertam para o aumento de poluição luminosa e risco de lixo espacial decorrente do lançamento de milhares de satélites adicionais.
Impacto para usuários brasileiros
Embora ainda sem data oficial, a introdução do Direct to Cell no Brasil pode alterar rotinas de agricultores, comunidades ribeirinhas e transportadoras que cruzam regiões sem cobertura terrestre. Segundo especialistas em telecom, a conectividade por satélite tende a baratear operações logísticas, melhorar monitoramento ambiental e ampliar a inclusão digital em escolas rurais.
Para o consumidor urbano, o efeito imediato será sentir-se conectado mesmo em viagens a parques nacionais ou estradas afastadas. À medida que o serviço evoluir para voz e dados, a diferença entre cobertura urbana e rural tende a diminuir, criando um cenário de concorrência adicional para provedores regionais.
Curiosidade
Nem sempre satélites foram pensados para falar direto com celulares. Quando o primeiro Starlink foi lançado, em 2019, a meta era fornecer internet fixa via antena parabólica. A adaptação dos satélites para operar como estações base móveis exigiu redesenho de hardware e inclusão de modems compatíveis com o padrão 3GPP. Esse salto técnico abre caminho para o conceito Direct-to-Device, que no futuro poderá conectar relógios inteligentes, sensores agrícolas e até equipamentos médicos diretamente ao espaço.
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