Sondas da NASA e ESA alinham rota para estudar o cometa interestelar 3I/ATLAS

Ciência

A sonda Europa Clipper, da NASA, e a Hera, da Agência Espacial Europeia (ESA), seguirão trajetórias que as colocarão dentro da cauda iônica do cometa 3I/ATLAS nas próximas semanas. O encontro, previsto para o fim de outubro, ocorrerá enquanto cada nave ruma a destinos distintos: a Europa Clipper voará rumo a Júpiter para investigar a lua Europa, e a Hera se dirige ao asteroide binário Didymos-Dimorphos para analisar os impactos do teste de defesa planetária DART. A coincidência de alinhamento abre uma rara oportunidade de coletar dados diretos de um visitante interestelar, o terceiro já identificado no Sistema Solar.

Janelas de observação entre 25 de outubro e 6 de novembro

De acordo com artigo aceito pela revista Research Notes of the American Astronomical Society, as duas espaçonaves atravessarão a região estimada da cauda iônica do 3I/ATLAS durante o pico de atividade do cometa. A Hera deverá chegar primeiro, entre 25 de outubro e 1º de novembro. Já a Europa Clipper ingressará na mesma zona entre 30 de outubro e 6 de novembro, se as condições do vento solar forem favoráveis.

O 3I/ATLAS não se aproximará significativamente do Sol — a menor distância prevista é de 203 milhões de quilômetros —, mas estudos indicam que a atividade do cometa atingirá seu máximo justamente nesse período. Em 29 de outubro, as duas naves estarão mais alinhadas com a cauda, ponto considerado crítico para medições de partículas carregadas e compostos voláteis.

Missões em fase de cruzeiro raramente encontram objetos interestelares, o que torna o evento uma “oportunidade de alto impacto”, segundo especialistas em dinâmica de cometas. Para a ciência planetária, analisar material originado fora do Sistema Solar ajuda a comparar a composição de diferentes ambientes estelares e a entender processos de formação planetária.

Instrumentação limita e amplifica o potencial dos dados

A ESA informou que a Hera não carrega instrumentos in situ voltados à análise direta de gases ou poeira cometária. Dessa forma, a nave poderá apenas registrar variações de campo ou perturbações de navegação, sem medir a composição da cauda. Ainda assim, a agência promete monitorar possíveis anomalias e divulgar qualquer dado que contribua para caracterizar o 3I/ATLAS.

A situação difere na Europa Clipper. O orbitador dispõe de espectrômetros, analisadores de plasma e sensores de pó projetados para investigar a interação entre Júpiter e a lua Europa. Esses equipamentos podem ser reconfigurados para amostrar partículas e íons do cometa, caso o Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) autorize a mudança de plano científico. Segundo o artigo técnico, a coleta renderia medições inéditas de um objeto interestelar, complementando as poucas observações obtidas de ʻOumuamua (1I) e do 2I/Borisov.

Entretanto, o JPL não confirmou a realização do experimento. A ausência de resposta pode decorrer da recente paralisação do governo dos Estados Unidos e de um processo interno de reestruturação que resultou na demissão de 550 funcionários. Caso a aprovação não ocorra a tempo, a equipe científica ainda estuda alternativas para observar o 3I/ATLAS remotamente, utilizando telescópios de apoio.

Outras missões também monitorarão o cometa

Mesmo que Europa Clipper e Hera não consigam coletar dados diretos, outras oportunidades estão mapeadas. A missão JUICE (Jupiter Icy Moons Explorer), da ESA, deverá direcionar seus instrumentos ao cometa em 2 e 25 de novembro. Embora a distância seja maior, os sensores de imagem e espectroscopia podem fornecer informações complementares sobre a composição e a dinâmica da cauda.

Segundo relatórios da ESA, a estratégia de “aproveitamento de missões em operação” reflete uma tendência da exploração espacial contemporânea: extrair máxima ciência de plataformas já lançadas, sem a necessidade de enviar novos veículos dedicados. A prática reduz custos, otimiza recursos públicos e amplia o retorno de investimento de projetos de longa duração.

Impacto potencial para a pesquisa e o público

Para o leitor, a possibilidade de estudar um cometa interestelar a partir de sondas em rota para Júpiter e um asteroide mostra como a cooperação entre agências pode gerar descobertas fora do escopo original das missões. Caso a Europa Clipper realize medições, resultados sobre a composição química do 3I/ATLAS podem influenciar modelos de transporte de água e materiais orgânicos entre sistemas estelares, tema essencial para avaliar a origem de ambientes habitáveis. Já a Hera, mesmo sem instrumentos dedicados, servirá de plataforma de validação para futuras missões de interceptação de objetos interplanetários.

Ao acompanhar o desdobramento dessas observações, leitores e entusiastas poderão compreender melhor como dados coletados a milhões de quilômetros alimentam avanços em sensoriamento remoto, monitoramento ambiental e, indiretamente, tecnologias usadas em diagnósticos médicos e previsão climática.

Ficar atento às novidades do estudo do 3I/ATLAS ajuda a perceber como cada fragmento de informação amplia nosso conhecimento sobre a origem de cometas e a evolução de sistemas planetários. Se você se interessa por temas semelhantes, vale conferir outras notícias de exploração espacial já publicadas em nosso site, em Tecnologia.

Curiosidade

O 3I/ATLAS fará sua maior aproximação da Terra em dezembro, porém permanecerá a uma distância segura. Curiosamente, a designação “3I” indica que ele é apenas o terceiro objeto catalogado com trajetória interestelar confirmada, após 1I/ʻOumuamua e 2I/Borisov. Esse número tão baixo evidencia quão raros são tais visitantes – e mostra por que cada chance de observação é valorizada pela comunidade científica.

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