Sonda Solar Orbiter revela estrutura inédita do campo magnético nos polos do Sol

Ciência

A Agência Espacial Europeia (ESA) divulgou novas medições da Solar Orbiter que oferecem a visão mais detalhada já obtida do campo magnético no polo sul do Sol. Entre 16 e 24 de março, a nave registrou a dinâmica das chamadas supergranulações — células de plasma gigantes que transportam linhas de campo magnético — e identificou que esse fluxo se desloca rumo aos polos a velocidades de 10 a 20 m/s, ritmo superior ao estimado por observações anteriores.

Nova trajetória amplia visão dos polos solares

Desde fevereiro de 2020, a Solar Orbiter percorre órbitas elípticas em torno da estrela. Em março deste ano, a sonda deixou o plano em que a maioria das missões se mantém e inclinou sua trajetória em 17 graus. Esse ajuste permitiu observar diretamente regiões polares que, até então, permaneciam fora do alcance de instrumentos convencionais. De acordo com o estudo publicado na revista Astrophysical Journal Letters, a manobra resultou na primeira imagem completa da rede magnética solar nessa latitude.

Segundo especialistas envolvidos no projeto, o Sol passa por ciclos de atividade de cerca de 11 anos, alternando períodos de máximo e mínimo solar. Durante o máximo, a quantidade de erupções e tempestades geomagnéticas aumenta significativamente. Conhecer a circulação de campo magnético entre o equador e os polos é fundamental para explicar como esses ciclos se iniciam e evoluem. Até o momento, a limitação visual nas regiões polares impedia medições diretas consistentes.

Supergranulações revelam “teia” magnética

As imagens mostram supergrânulos com diâmetros de duas a três vezes o da Terra. Esses bolsões de plasma quente deslocam-se horizontalmente na superfície, conduzindo as linhas de campo magnético até as bordas das células. O processo forma uma “teia” que, vista de cima, se assemelha a um mosaico. Relatórios indicam que a velocidade medida pela Solar Orbiter — entre 10 e 20 m/s — supera as estimativas obtidas por telescópios terrestres, que sugeriam valores menores próximo aos polos.

Para comparar, estudos anteriores baseados em dados de baixa inclinação orbital apontavam possível desaceleração do fluxo magnético à medida que se aproximava das latitudes extremas. Os novos números, portanto, levantam perguntas sobre se a desaceleração ocorre em pontos ainda mais próximos do polo ou se modelos de transporte precisam ser revistos.

Cooperação internacional e impacto para previsões de clima espacial

A Solar Orbiter opera em sinergia com a Parker Solar Probe, missão da NASA que realiza passagens rasantes sobre a coroa solar. Enquanto a Parker colhe amostras diretas do vento solar, a Solar Orbiter fornece contexto visual e magnetométrico. Segundo dados oficiais das duas agências, essa abordagem complementa as informações necessárias para prever erupções solares e proteger satélites, redes elétricas e sistemas de comunicação na Terra.

Especialistas em clima espacial explicam que conhecer a origem e a trajetória dos fluxos magnéticos ajuda a antecipar a formação de manchas solares, precursoras de ejeções de massa coronal. Ao refinar modelos de transporte de plasma rumo aos polos, pesquisadores poderão calcular com maior precisão quando o Sol atingirá o próximo máximo de atividade, previsto para meados desta década.

Avanços na instrumentação e próximos passos

A precisão das medições se deve a sensores como o Polarimetric and Helioseismic Imager (PHI) e o Extreme Ultraviolet Imager (EUI), capazes de mapear variações no campo magnético e na temperatura do plasma. Os dados coletados em março representam apenas a primeira campanha de observações em inclinações superiores a 15 graus. A ESA planeja elevar gradualmente o ângulo orbital da Solar Orbiter até cerca de 33 graus na próxima década, o que deverá oferecer uma visão ainda mais completa dos dois polos.

De acordo com a equipe científica, os resultados iniciais sugerem que o transporte magnético pode ser mais eficiente do que se pensava. Caso novas passagens confirmem essa velocidade, modelos teóricos que relacionam rotação diferencial, convecção e geração de campo magnético precisarão ser ajustados. Tal revisão impactaria previsões de longo prazo sobre tempestades solares severas.

O que muda para o leitor

Para o público em geral, compreender melhor o comportamento do Sol significa receber alertas mais precisos sobre possíveis falhas em GPS, interrupções de rádio ou flutuações em redes elétricas. Empresas de telecomunicações, operadoras de satélites e gestores de infraestrutura crítica poderão planejar operações preventivas com antecedência maior. Além disso, avanços em modelagem do ciclo solar são essenciais para futuras missões tripuladas que pretendem deixar a órbita terrestre, pois permitem definir janelas de menor exposição a radiação.

Curiosidade

Um fato pouco conhecido é que a primeira missão a observar diretamente os polos solares foi a Ulysses, lançada em 1990, mas ela orbitou o Sol a distâncias muito maiores. A Solar Orbiter, por sua vez, aproxima-se até 0,28 unidades astronômicas, cerca de um quarto da distância média Terra-Sol, oferecendo detalhamento sem precedentes. Esse salto tecnológico mostra como órbitas inclinadas próximas à estrela podem revelar fenômenos que passaram despercebidos por mais de três décadas de pesquisas.

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