Senado dos EUA trava disputa sobre transferência do ônibus espacial Discovery

Tecnologia

Uma cláusula do orçamento federal dos Estados Unidos liberou US$ 85 milhões para viabilizar a mudança de um ônibus espacial do Museu Nacional do Ar e Espaço, em Virgínia, para o Space Center Houston, no Texas. O dispositivo, incluído no budget reconciliation bill H.R. 1, foi entendido por parlamentares como um direcionamento para levar o Discovery, hoje exposto no Centro Udvar-Hazy do Smithsonian, à cidade texana. Desde então, o tema mobiliza senadores de ambos os partidos, o Smithsonian Institution e a própria NASA.

Disputa política e institucional

Em 5 de agosto, a NASA informou ter cumprido a exigência legal de selecionar um veículo para transferência, sem revelar qual. Horas depois, o senador John Cornyn (Republicano-Texas) divulgou nota afirmando que o órgão escolhera o Discovery e que a intenção do Congresso era clara ao destinar recursos para essa operação.

A reação veio no fim de setembro. Quatro senadores democratas — Mark Warner e Tim Kaine (Virgínia), Dick Durbin (Illinois) e Mark Kelly (Arizona) — encaminharam carta aos presidentes do Comitê de Apropriações pedindo a inclusão de linguagem que impeça novos gastos federais na remoção do ônibus espacial. Kelly, ex-astronauta que voou duas vezes no Discovery, argumentou que a verba aprovada é insuficiente e que o traslado ameaça a integridade do artefato.

Segundo o grupo, alocar “centenas de milhões de dólares dos contribuintes” para deslocar uma peça já preservada em “instalação de classe mundial” seria ineficiente e injustificável. Eles também alertaram para riscos de segurança: desmontar o veículo, disseram, comprometeria irreversivelmente seu valor histórico.

Custos divergentes e propriedade contestada

Em documento enviado aos comitês do Congresso e divulgado por defensores da permanência do Discovery na Virgínia, o Smithsonian estimou entre US$ 120 milhões e US$ 150 milhões o custo total de transporte — sem contar a construção de um novo pavilhão em Houston. O texto menciona que, devido ao porte e ao peso do ônibus, seria necessária “desmontagem significativa”, processo que afetaria componentes originais.

O instituto também reafirmou que o Discovery deixou de pertencer à NASA quando foi repassado ao museu, há mais de uma década, o que tornaria a transferência uma decisão exclusivamente do Smithsonian.

Em 6 de outubro, Cornyn e o senador Ted Cruz (Republicano-Texas) enviaram carta paralela defendendo a manutenção dos recursos e repudiando qualquer bloqueio legislativo. Para eles, o museu estaria fazendo “lobby” para impedir a execução da lei, prática que poderia violar o Anti-Lobbying Act. Os republicanos ainda contestam os números apresentados: segundo eles, orçamentos obtidos com empresas de logística especializadas seriam “dez vezes menores”, embora sem detalhar os fornecedores nem a metodologia.

Impacto financeiro e cultural

Relatórios da própria NASA indicam que o Discovery é o ônibus espacial mais intacto do programa, característica que aumenta sua relevância histórica. Especialistas em patrimônio aeroespacial alertam que o transporte de artefatos desse porte exige planejamento de engenharia, autorização de agências de transporte e adequação rigorosa a normas de preservação, fatores que elevam custos e prazos.

De acordo com dados oficiais, a frota de ônibus espaciais aposentados foi distribuída em 2011 após licitação pública. Na época, o Government Accountability Office verificou o processo e não encontrou influência política direta. Ainda assim, parlamentares texanos afirmam que Houston — considerada “casa” do controle de missão da NASA — foi preterida por critérios que extrapolaram questões técnicas.

Próximos passos no Congresso

A discussão deve avançar durante a negociação da lei orçamentária de 2026. Se os senadores democratas obtiverem apoio para vetar recursos adicionais, o texto final poderá impedir a mudança. Caso contrário, a NASA terá financiamento para elaborar o estudo de engenharia e iniciar o transporte. Fontes legislativas estimam que a definição ocorra ainda no primeiro semestre do próximo ano fiscal.

Para o público, segundo analistas de museologia, o resultado pode determinar onde estarão concentrados dados educacionais sobre o programa Shuttle. A permanência em Virgínia mantém o Discovery no principal complexo aeroespacial do Smithsonian, visitado por cerca de 1,3 milhão de pessoas por ano. Já a transferência para Houston reforçaria o turismo espacial no Texas e ampliaria a oferta de exposições interativas no Johnson Space Center.

Independentemente da decisão, a controvérsia evidencia o desafio de equilibrar preservação histórica, acesso público e interesses regionais em torno de artefatos emblemáticos. Para o leitor, isso significa que visitar o Discovery nos próximos anos pode requerer uma viagem diferente — ou não — dependendo do desfecho no Capitólio.

Curiosidade

O Discovery detém o recorde de missões realizadas entre os cinco ônibus espaciais da NASA: foram 39 voos entre 1984 e 2011, incluindo a colocação do Telescópio Espacial Hubble em órbita. Caso a aeronave seja de fato desmontada para transporte, seria a primeira vez desde sua aposentadoria que partes estruturais seriam removidas, um processo que não ocorria desde as manutenções operacionais em solo durante o programa Shuttle.

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