Plataforma estratosférica da Sceye recebe verba da NASA para monitorar a Terra em tempo real

Ciência

A Sceye, empresa sediada no Novo México, obteve um financiamento de US$ 850 mil da NASA para demonstrar um sensor hiperespectral de monitoramento ambiental a partir da estratosfera. O recurso foi concedido por meio da Fase 2 do programa Small Business Innovation Research (SBIR) e envolve parceria com a Spectral Sciences, responsável pelo desenvolvimento do equipamento óptico. O voo de teste está previsto para ocorrer entre o fim de 2026 e o início de 2027, utilizando a plataforma de alta altitude (HAPS) da Sceye.

Sensor hiperespectral promete vigilância contínua

O principal objetivo do projeto é validar um sensor capaz de captar centenas de bandas espectrais, gerando dados detalhados sobre vegetação, qualidade do ar e emissão de poluentes. De acordo com a vice-presidente de operações da Spectral Sciences, Marsha Fox, o acesso contínuo a informações de alta qualidade “transformará a forma como entendemos e protegemos o meio ambiente”. A executiva acrescenta que alertas antecipados poderão orientar ações pontuais em lavouras, recursos naturais e áreas suscetíveis a eventos vulcânicos.

Atualmente, satélites em órbita baixa oferecem revisitas diárias, enquanto drones têm alcance e autonomia limitados. O HAPS da Sceye, por permanecer a cerca de 20 km de altitude durante semanas ou meses, busca preencher a lacuna entre essas duas soluções. Segundo especialistas em sensoriamento remoto, a operação estacionária sobre uma mesma região facilita análises temporais contínuas, difíceis de obter com constelações convencionais.

Mikkel Vestergaard Frandsen, fundador e diretor-executivo da Sceye, explica que a plataforma foi projetada para voar utilizando energia solar no período diurno e baterias à noite. O formato aerodinâmico e o balão mais leve que o ar permitem que o veículo permaneça posicionado sobre um raio específico, fornecendo observação persistente sobre locais estratégicos. “Em comparação com satélites, ficamos no mesmo ponto; em relação a drones, ficamos no ar por muito mais tempo”, resume o executivo.

Estratégia da Sceye para telecomunicações e observação da Terra

Embora o monitoramento ambiental seja o foco do contrato com a NASA, a Sceye tem como principal mercado inicial a conectividade de telecomunicações. Segundo a companhia, grandes operadoras globais enxergam a estratosfera como elo intermediário entre torres terrestres e satélites, capaz de oferecer infraestrutura emergencial após desastres naturais ou cobertura em regiões rurais onde o número de usuários não justifica redes fixas.

Em junho deste ano, a japonesa SoftBank realizou um investimento — valor não revelado — que inaugura a rodada Series C da Sceye. O acordo inclui a compra de um voo pré-comercial no Japão em 2026, período que coincide com a campanha do sensor da NASA. Relatórios apontam que a empresa vem ampliando gradualmente a autonomia do veículo: primeiro alcançou a altitude desejada, depois partiu para testes de permanência prolongada e, agora, busca estabelecer uma linha de base de desempenho que permita evoluir de semanas para meses de operação contínua.

Além de telecomunicações e sensoriamento, a Sceye avalia aplicações em computação de borda para apoiar frotas de drones e em distribuição de chaves quânticas, tecnologia vista como caminho promissor para segurança de dados. Especialistas do setor defendem que a versatilidade do HAPS pode acelerar a adoção de novos modelos de negócio na indústria aeroespacial, unindo serviços de alto valor agregado em uma mesma plataforma.

Próximos passos e impacto para o mercado

O cronograma da empresa prevê voos piloto comerciais em 2026, seguidos de operações regulares logo depois. Segundo analistas de mercado, o segmento de plataformas estratosféricas movimenta atualmente dezenas de milhões de dólares, mas pode ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão na próxima década, impulsionado por demandas de conectividade e por exigências regulatórias de monitoramento climático.

Para órgãos ambientais, a possibilidade de vigiar emissões de metano em tempo quase real representa ganho operacional significativo. “Um balão estratosférico estacionário consegue apontar a taxa de emissão e rastrear a pluma, oferecendo dados acionáveis para equipes em solo”, diz Frandsen. Agências de agricultura também veem vantagem em acompanhar ciclos de cultivo sem lacunas temporais, reduzindo perdas e otimizando irrigação.

Do ponto de vista do usuário final, a tecnologia pode ampliar a cobertura de internet em áreas remotas, melhorar alertas de desastres naturais e fornecer dados ambientais mais precisos a aplicativos móveis. Caso os testes confirmem a viabilidade econômica, o HAPS da Sceye pode se tornar alternativa intermediária entre redes terrestres e constelações via satélite, influenciando modelos de precificação e padrões regulatórios.

A expansão desse tipo de serviço depende, porém, de avaliações de segurança de voo, acordos para uso do espectro de frequência e comprovação de que o custo por gigabyte ou por quilômetro quadrado monitorado seja competitivo. Segundo dados oficiais da Federal Aviation Administration (FAA), o tráfego estratosférico ainda é baixo, mas requer coordenação com rotas de aeronaves tripuladas e veículos suborbitais.

Para o leitor, a adoção de plataformas estratosféricas pode significar conexões mais estáveis em regiões hoje sem cobertura e acesso a informações ambientais quase em tempo real, favorecendo agricultura de precisão, turismo seguro e até mesmo a gestão de cidades inteligentes.

Curiosidade

Embora a ideia de balões estratosféricos pareça recente, o conceito remonta à década de 1950, quando missões militares usavam plataformas de grande altitude para reconhecimento fotográfico. A principal diferença é que, naquela época, o material de cobertura durava poucos dias, enquanto os envelopes modernos empregam filmes compostos que resistem por meses sob radiação ultravioleta intensa. A evolução dos painéis solares e das baterias de estado sólido também foi decisiva para transformar projetos experimentais em soluções comerciais.

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