Sateliot realiza primeira conexão IoT via 5G padrão entre satélite em órbita baixa e dispositivo comercial

Tecnologia

A startup espanhola Sateliot confirmou ter efetuado, em 7 de outubro, a primeira transmissão de dados entre um satélite de órbita terrestre baixa (LEO) e um dispositivo de Internet das Coisas (IoT) compatível com o 3GPP Release 17, a versão do padrão 5G que contempla redes não terrestres. O feito utilizou um módulo celular nRF9151, da norueguesa Nordic Semiconductor, sem qualquer alteração de hardware.

Conexão padrão 5G em órbita baixa

De acordo com a Sateliot, a mensagem percorreu toda a cadeia de comunicação – do sensor em solo ao satélite e de volta à estação terrestre – usando exatamente os mesmos protocolos de uma rede móvel convencional. O teste contou com suporte de software da dinamarquesa Gatehouse Satcom e marcou a primeira vez que um satélite operacional sob Release 17 se conecta diretamente a um dispositivo comercial.

Para o diretor de tecnologia da companhia, Marco Guadalupi, o resultado representa “a consolidação de anos de trabalho” no desenvolvimento de satélites próprios e na participação de grupos de padronização do setor. Segundo ele, a principal vantagem do modelo é a interoperabilidade total com redes celulares já existentes, permitindo roaming global entre infraestrutura terrestre e espacial sem necessidade de soluções proprietárias.

Esse posicionamento contrasta, por exemplo, com a estratégia adotada pela SpaceX, que busca conectar smartphones comuns por meio da rede Starlink e acordos específicos com operadoras como a T-Mobile, usando protocolos fechados. Já a Sateliot aposta na adesão aos requisitos técnicos do 3GPP para facilitar a adoção em larga escala.

Próximos passos da constelação

A empresa conta atualmente com quatro satélites operacionais. Em parceria com um fornecedor não divulgado, mais cinco unidades estão em desenvolvimento e têm lançamento previsto para outubro de 2026. Planos adicionais preveem o envio de 16 satélites em 2027, com a meta de formar, a longo prazo, uma constelação composta por centenas de artefatos.

Paralelamente, a Sateliot pretende distribuir os módulos nRF9151 a participantes de seu programa de early adopters a partir de 2025. Até o momento, a companhia afirma ter firmado contratos recorrentes avaliados em 250 milhões de euros com mais de 450 clientes em mais de 50 países. A meta é alcançar 1 bilhão de euros em receita anual até 2030.

Para sustentar a expansão, a startup sediada em Barcelona levantou 70 milhões de euros em rodada Série B concluída neste ano. O aporte incluiu recursos da Sociedad Española para la Transformación Tecnológica (SETT), fundo estatal dedicado a tecnologias estratégicas.

Impacto para o mercado de IoT

Especialistas do setor avaliam que o uso do Release 17 em órbita abre caminho para a cobertura global de sensores de forma economicamente viável, eliminando lacunas em regiões remotas sem infraestrutura celular. Áreas como logística, agricultura, monitoramento ambiental e energia devem ser beneficiadas, uma vez que dispositivos de baixo consumo poderão alternar entre redes terrestres e satelitais de forma automática.

Relatórios de consultorias internacionais indicam que o mercado de conectividade IoT via satélite deve crescer acima de 20 % ao ano até 2030, impulsionado pela demanda de rastreamento em tempo real e por requisitos regulatórios de segurança. A adoção de um padrão aberto tende a reduzir custos de integração e acelerar a homologação de equipamentos.

Para usuários finais e empresas, a novidade pode significar sensores mais baratos e com maior autonomia, já que o módulo nRF9151 é projetado para operação de baixa potência. Além disso, contratos de roaming unificados devem simplificar a gestão de assinaturas e o faturamento das linhas móveis.

Na prática, segundo analistas, a consolidação de constelações compatíveis com 5G NTN deverá alterar a dinâmica competitiva entre operadoras, fabricantes de chipsets e integradores de sistemas. A interoperabilidade reduz barreiras de entrada e pode estimular novos modelos de negócios, como planos de dados globais pay-as-you-go voltados a frotas de dispositivos.

O avanço da Sateliot insere-se em um cenário de intensas iniciativas para integrar redes celulares e satelitais. Organizações como a 3GPP seguem refinando especificações que permitam comunicação direta entre smartphones convencionais e satélites, bem como novas bandas de frequência para serviços de emergência.

Para o leitor, a evolução significa a possibilidade de conectividade perene em aplicações críticas — de cargas sensíveis em trânsito a sistemas de irrigação inteligentes —, mesmo em áreas onde o sinal de celular tradicional inexiste ou é instável.

Curiosidade

O padrão 3GPP Release 17, utilizado no teste da Sateliot, começou a ser desenvolvido em 2020 e incorporou pela primeira vez especificações formais para redes não terrestres (NTN). Antes dele, a comunicação direta entre satélites de órbita baixa e dispositivos IoT dependia de soluções proprietárias, limitando a escala global. Com a nova norma, fabricantes podem produzir hardware interoperável, reduzindo custos e acelerando a adoção de serviços de cobertura total do planeta.

Para continuar acompanhando novidades sobre conectividade espacial e 5G, visite também a seção de tecnologia em
remansonoticias.com.br/category/tecnologia.

Para mais informações e atualizações sobre tecnologia e ciência, consulte também:

Quando você efetua suas compras por meio dos links disponíveis aqui no RN Tecnologia, podemos receber uma comissão de afiliado, sem que isso acarrete nenhum custo adicional para você!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *