Uma equipe de universidades federais do Rio Grande do Sul e de Santa Maria obteve tempo de observação no ALMA (Atacama Large Millimeter Array), no Chile, para estudar como ventos gerados por buracos negros supermassivos interferem no gás frio responsável pelo nascimento de estrelas em galáxias próximas.
Brasil conquista horário no telescópio mais caro do mundo
O projeto, batizado de BAH — sigla de Blowing Star Formation Away in Active Galactic Nuclei Hosts — foi selecionado para o 12º ciclo de operações do ALMA, que vai de 1.º de maio de 2024 a 30 de setembro de 2026. Os cientistas nacionais terão 7,5 horas de uso do observatório, dividido em cinco alvos:
- NGC 5695 – 212 milhões de anos-luz
- NGC 3884 – 349 milhões de anos-luz
- NGC 1048A – 534 milhões de anos-luz
- UGC 8782 – 662 milhões de anos-luz
- CGCG 012-070 – 711 milhões de anos-luz
Essas galáxias apresentam excesso de emissão de hidrogênio molecular, principal combustível para a formação estelar. Segundo os pesquisadores, a relativa proximidade dos alvos permite resolver detalhes estruturais e analisar a distribuição do gás em escalas nunca antes alcançadas por equipes brasileiras.
Mapeamento do gás frio deve completar quadro sobre evolução galáctica
Coordenado pelo astrofísico Rogemar Riffel, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o BAH investigará o monóxido de carbono (CO) como traçador do gás molecular. A escolha ocorre porque, em temperaturas próximas ao zero absoluto, o hidrogênio não emite radiação detectável, enquanto o CO libera sinal em comprimentos de onda milimétricos captados pelo ALMA.
“A intensidade dessa emissão nos permite estimar a massa de gás e inferir condições químicas e físicas das nuvens”, explica Riffel. O grupo quer compreender se os outflows — fluxos de partículas expulsas pelo disco de acreção dos buracos negros — aquecem o gás, suprimindo o nascimento de estrelas, ou se, em casos específicos, comprimem as nuvens e aumentam a taxa de formação estelar.
Entre os participantes, além da UFSM, estão pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), do Centro de Astrobiologia da Espanha, do Instituto de Física Fundamental de Madri, do Instituto de Astrofísica das Canárias e da Johns Hopkins University, nos Estados Unidos. A iniciativa conta com bolsas e equipamentos financiados por CNPq, CAPES e FAPERGS.
Impacto para a astronomia brasileira e internacional
Segundo especialistas, o acesso ao ALMA marca um avanço estratégico para o país. O radiotelescópio, composto por 66 antenas instaladas a 5 000 m de altitude no deserto do Atacama, alcança a maior resolução angular já obtida em ondas milimétricas e submilimétricas. Relatórios do Observatório Europeu do Sul indicam que apenas cerca de 20 % dos projetos submetidos são aprovados a cada ciclo, o que reforça a relevância da proposta brasileira.
O grupo já havia analisado fases gasosas mais quentes em levantamentos com o Telescópio Spitzer, o Telescópio Espacial James Webb (JWST) e o observatório Gemini. A nova etapa, focada no gás molecular frio, completa a sequência de estudos e fornece dados observacionais para alimentar modelos cosmológicos de evolução galáctica. De acordo com dados oficiais, incluir todas as fases do meio interestelar aumenta a precisão das simulações que descrevem como o Universo se estrutura ao longo de bilhões de anos.

Imagem: B. Tafreshi ESO
Para o leitor, a pesquisa pode transformar a compreensão sobre o ciclo de vida das galáxias e, no longo prazo, influenciar tecnologias de sensoriamento remoto, processamento de dados astronômicos e formação de recursos humanos em áreas de alta complexidade computacional.
Curiosidade
Apesar do ALMA ser reconhecido pelo Guinness Book como o telescópio terrestre mais caro da história, o Brasil não contribui financeiramente para sua operação. Ainda assim, projetos brasileiros competem em igualdade com instituições de países mantenedores — um exemplo de como a ciência aberta e colaborativa permite que grupos sem grande orçamento acessem infraestrutura de ponta e impulsionem descobertas sobre o cosmos.
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