Pesquisadores revelam perda genética que pode ter condenado o tigre-da-Tasmânia antes da ação humana

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Um novo estudo genômico reabre o debate sobre a extinção do tigre-da-Tasmânia (Thylacinus cynocephalus). A pesquisa indica que a perda de quatro genes essenciais, ocorrida entre 13 milhões e 1 milhão de anos atrás, pode ter comprometido a capacidade de sobrevivência da espécie muito antes de caçadores europeus e dingos chegarem ao seu habitat.

Quais genes foram perdidos e por que isso importa

Os cientistas identificaram a ausência dos genes SAMD9L, HSD17B13, CUZD1 e VWA7 no genoma do tigre-da-Tasmânia. Esses genes estão associados a funções como defesa antiviral, regulação metabólica, lactação, atividade pancreática e supressão de tumores. A perda progressiva dessas sequências teria reduzido a aptidão biológica do animal, deixando-o mais vulnerável a doenças e menos eficiente na obtenção de energia.

Para chegar a essa conclusão, a equipe utilizou dados de paleogenômica e comparou o DNA do tigre-da-Tasmânia com o de outros marsupiais, incluindo o diabo-da-Tasmânia. Ferramentas de aprendizado de máquina permitiram estimar o momento em que cada gene foi suprimido, revelando um padrão escalonado de desaparecimento que se estende por milhões de anos.

Impactos evolutivos e mudança de comportamento

O estudo sugere que, à medida que o tigre-da-Tasmânia evoluiu para um predador maior e mais carnívoro, determinadas pressões ambientais podem ter favorecido a eliminação desses genes. Isso teria fortalecido certas características, como o aumento do porte físico, mas trouxe custos em termos de saúde e imunidade.

Além da perda genética, os pesquisadores observaram a redução do lobo olfativo e a diminuição de receptores de olfato. Esse achado indica uma provável transição de um predador guiado pelo cheiro para um caçador que dependia mais de visão e audição. Com um corpo mais alto, o animal poderia enxergar presas por cima da vegetação, compensando a menor capacidade olfativa.

Extinção acelerada por múltiplos fatores

Ainda que a caça e a introdução de dingos no continente australiano tenham acelerado o desaparecimento da espécie, os autores defendem que o processo de declínio começou muito antes. A perda de genes cruciais teria diminuído a resistência do tigre-da-Tasmânia a infecções virais semelhantes à cinomose canina, além de elevar a suscetibilidade a tumores.

Modelos anteriores indicavam que doenças teriam tido papel modesto na extinção, mas os novos dados sugerem que, combinadas à baixa diversidade genética, elas podem ter sido decisivas. A pesquisa oferece, portanto, um quadro em que fatores internos e externos atuaram em conjunto para extinguir o lendário marsupial.

Metodologia e relevância para a conservação

A análise utilizou tecnologias recentes de sequenciamento de alta cobertura e algoritmos comparativos. Tal abordagem permite identificar perdas gênicas ancestrais em espécies extintas ou ameaçadas, fornecendo pistas sobre vulnerabilidades ocultas.

Os autores defendem que a mesma metodologia pode ajudar a prever riscos em animais atuais, orientando estratégias de conservação. Ao conhecer quais genes críticos foram perdidos ou alterados, é possível detectar populações em perigo antes que a diversidade genética caia a níveis irreversíveis.

Para ampliar o entendimento sobre outras pesquisas em genética e evolução, confira a nossa seção de Tecnologia.

Em síntese, a investigação aponta que mudanças genéticas profundas precederam a chegada de humanos e dingos, estabelecendo um cenário de fragilidade biológica que culminou na extinção do tigre-da-Tasmânia. A descoberta reforça a importância de integrar dados genômicos às análises de impacto humano ao avaliar o destino de espécies ameaçadas.

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Curiosidade

Registros visuais do tigre-da-Tasmânia são raros: apenas alguns minutos de filmagens em preto-e-branco feitas na década de 1930 sobrevivem até hoje. O último exemplar conhecido morreu em 1936 no zoológico de Hobart, após ter sido esquecido fora do abrigo durante uma noite fria. Mesmo extinto, o animal continua a inspirar projetos de “desextinção” que buscam recriar a espécie por meio de engenharia genética, embora especialistas ressaltem complexos desafios éticos e técnicos.

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