São Paulo, 5 de junho de 2024 — A OpenAI comprometeu-se a investir cerca de US$ 1,4 trilhão na construção e no aluguel de capacidade computacional ao longo dos próximos anos. O montante, firmado em contratos com Oracle, Nvidia, Microsoft, AMD, Broadcom, CoreWeave e Amazon, supera em dezenas de vezes a receita anual estimada da empresa — projetada em US$ 20 bilhões para 2024 — e levanta dúvidas sobre a capacidade de pagamento da desenvolvedora do ChatGPT.
Compromissos ultrapassam escala atual de receitas
De acordo com projeção do investidor Tomasz Tunguz, sócio da Theory Ventures, a OpenAI precisaria elevar seu faturamento para aproximadamente US$ 577 bilhões até 2029 para cobrir todos os contratos assinados. O valor é quase equivalente ao que o Google registrou em 2023 e representaria um salto de cerca de 2 900% frente às estimativas de receita da startup para 2025.
A pressão por infraestrutura resulta da estratégia do CEO Sam Altman de aumentar massivamente a potência de cálculo disponível para treinar modelos de inteligência artificial cada vez maiores. Segundo o executivo, “o risco de não ter poder computacional suficiente é maior do que o de ter capacidade em excesso”. Nos acordos já anunciados, destacam-se:
- Oracle e Microsoft Azure: hospedagem de supercomputadores dedicados à IA.
- Nvidia, AMD e Broadcom: fornecimento de chips GPU e ASIC de alto desempenho.
- Amazon Web Services: parceria avaliada em US$ 38 bilhões para infraestrutura de nuvem.
- CoreWeave: contratos que somam US$ 22,4 bilhões, com cláusulas de rescisão por justa causa.
Renegociação é caminho provável, afirmam analistas
Especialistas em mercado de data centers observam que contratos de longo prazo costumam conter salvaguardas para reajustes de volume, preço e prazos de entrega. De acordo com o analista Gil Luria, da DA Davidson, provedores como Amazon, Oracle e Microsoft tendem a preferir uma revisão de condições a enfrentar a inadimplência da principal cliente. “Eles não querem que a OpenAI declare falência; por isso, o incentivo é renegociar”, afirma.
Daniel Golding, consultor na área de colocation, ressalta que os valores divulgados pelas empresas frequentemente incluem componentes condicionais, como metas de desempenho tecnológico, custo de construção e disponibilidade energética. Dessa forma, o desembolso efetivo costuma ser inferior ao total anunciado.
Também pesa o fator escassez. Restrições no fornecimento de chips avançados e no acesso a energia criam a possibilidade de fornecedores não conseguirem entregar tudo dentro do cronograma inicial, abrindo brecha para repactuações ou cancelamentos parciais.
Estrutura societária protege Sam Altman de perdas diretas
Embora negocie cifras trilionárias, Sam Altman não detém participação acionária na OpenAI, que funciona como empresa de “benefício público” controlada por uma organização sem fins lucrativos. Para Jo-Ellen Pozner, professora da Universidade de Santa Clara, o modelo dilui a responsabilidade do executivo: “Permite-se que líderes considerados inovadores tomem decisões arriscadas sem exposição pessoal proporcional”.
A companhia possui uma linha de crédito rotativa de US$ 4 bilhões com nove bancos, mas não divulgou outras dívidas formais. Caso viesse a solicitar proteção contra falência, credores seriam pagos antes de investidores, e a Microsoft — detentora de 27% do capital — seria prioridade entre os acionistas, conforme avaliam analistas do setor.
Gigantes de tecnologia apostam na continuidade
Empresas que anunciaram parcerias com a OpenAI tiveram ganhos expressivos de mercado nos dias seguintes. Segundo levantamentos de corretoras, Oracle, Nvidia, AMD e Broadcom somaram US$ 636 bilhões em valor de mercado após tornarem-se fornecedoras de infraestrutura para a desenvolvedora de IA. No acordo com a Amazon, as ações da varejista subiram 4%, adicionando US$ 10 bilhões ao patrimônio de Jeff Bezos.
Imagem: Internet
Além de fornecer hardware e nuvem, a Microsoft fechou compromisso de vender até US$ 250 bilhões em serviços Azure para a OpenAI, com participação bilateral na receita de aplicações futuras. Em setembro, a Nvidia se dispôs a comprar capacidade ociosa da CoreWeave, o que pode incluir blocos inicialmente reservados pela OpenAI, fortalecendo a rede de proteção cruzada entre as companhias.
O que muda para o mercado e para o usuário final
Se os contratos se mantiverem, a OpenAI pode acelerar a chegada de modelos de IA mais capazes, ampliando a oferta de ferramentas de produtividade, tradução, programação automática e, possivelmente, dispositivos de consumo conectados. Caso a empresa renegocie ou reduza sua exposição, fornecedores podem redirecionar chips e energia para outras iniciativas de inteligência artificial, influenciando preços de GPU e prazos de entrega em todo o setor.
Para o usuário, o principal impacto está na velocidade com que novos serviços de IA alcançarão estabilidade e preços acessíveis. Segundo especialistas, a disponibilidade de data centers é hoje o maior gargalo para democratizar recursos de linguagem natural e visão computacional em grande escala.
Curiosidade
Na década de 1990, a construção de grandes data centers era avaliada em centenas de milhões de dólares; hoje, o comprometimento de US$ 1,4 trilhão pela OpenAI representa o maior pacote de infraestrutura tecnológica já anunciado por uma única empresa privada. A cifra equivale a cerca de 5% do PIB anual do Brasil e supera o investimento total feito pela indústria mundial de semicondutores em 2023, indicando a dimensão da corrida por poder computacional na era da IA generativa.
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