São Paulo, 24 jun. 2024 — A Omnia, plataforma de infraestrutura digital do fundo Patria Investimentos, confirmou participação no desenvolvimento de um mega data center no Porto do Pecém, no Ceará. O empreendimento, avaliado em mais de R$ 50 bilhões, terá a Casa dos Ventos como fornecedora de energia renovável e deve atender à ByteDance, controladora do TikTok, segundo informações divulgadas pelas empresas.
Maior instalação para cliente único no País
Com previsão de consumo elétrico de 300 megawatts, o projeto será, em 2027, o maior data center dedicado a um único cliente no Brasil. O complexo ficará instalado dentro da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Ceará, condição que recebeu autorização federal para a prestação de serviços de exportação de dados. A fase de obras está programada para começar em 2025, após a obtenção da licença de instalação pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace).
Dos R$ 50 bilhões estimados, cerca de R$ 12 bilhões serão direcionados à construção da infraestrutura física, responsabilidade da Omnia. A parcela restante cobrirá equipamentos de tecnologia da informação, como servidores e sistemas de armazenamento, custeados pelo cliente final. Para alimentar a estrutura, a Casa dos Ventos investirá R$ 3,5 bilhões em novos parques eólicos localizados no Ceará ou no Piauí.
Retorno do Patria ao segmento de data centers
O Patria Investimentos já atuou no setor com a criação da Odata, posteriormente vendida à norte-americana Aligned Data Centers. O compromisso em Pecém marca o retorno do grupo ao mercado, agora por meio da recém-lançada Omnia. Segundo o CEO da plataforma, Rodrigo Abreu, o empreendimento inaugura o modelo de exportação de dados em larga escala no país, apoiado na combinação de energia renovável, posição geográfica favorável e alta conectividade internacional de fibra óptica.
Relatórios do Ministério das Comunicações indicam que, até 2033, o Brasil poderá atrair R$ 2 trilhões em novos data centers se ampliar incentivos fiscais e ampliar redes de transmissão. Especialistas do setor apontam que a localização de Pecém, próxima a cabos submarinos que ligam América do Sul, América do Norte e Europa, reduz latência e custos operacionais, tornando o porto um hub estratégico.
Infraestrutura verde e uso eficiente de recursos
Além de consumir exclusivamente energia produzida por fontes eólicas, o data center adotará tecnologias de reuso de água nos sistemas de resfriamento. Estudos da Agência Nacional de Águas mostram que instalações tradicionais podem demandar até 5 litros de água por kWh processado; com circuitos fechados e reaproveitamento, esse índice cai drasticamente, contribuindo para metas de sustentabilidade corporativa.
Segundo o diretor-executivo da Casa dos Ventos, Lucas Araripe, a empresa assinou contratos de conexão que somam 1,5 gigawatt para futuros projetos em Pecém. “Estamos observando um dos maiores investimentos privados do país. A demanda crescente por processamento de dados exigirá novos parques eólicos e ampliará a cadeia de fornecedores locais”, afirmou.
Impactos potenciais na economia regional
De acordo com estimativas do governo do Ceará, a construção do complexo deve gerar mais de 8 mil empregos diretos e indiretos durante a fase de obras. Na operação, serão necessários profissionais de TI, engenharia e manutenção, além de incentivar cursos técnicos e universitários na região. Especialistas avaliam que, ao consolidar um polo de data centers, o Estado fortalece a arrecadação de impostos, diversifica a matriz econômica e estimula a inovação em setores como inteligência artificial e computação em nuvem.
Para as empresas brasileiras que utilizam serviços globais de nuvem, a entrada de um grande player com infraestrutura local tende a reduzir latência e custos de tráfego de dados internacionais. Analistas de mercado destacam que consumidores finais podem perceber melhorias em aplicativos de vídeo, redes sociais e e-commerce, à medida que o processamento se aproxima do usuário.
Imagem: Sergio Perez/Reuters
Próximos passos e desafios regulatórios
Antes do início das obras civis, o consórcio precisa obter a licença de instalação ambiental da Semace, documento que exige estudos detalhados sobre impacto costeiro e rotas de transmissão. O projeto também depende de obras de reforço na Rede Básica de energia, já aprovadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Executivos afirmam que o cronograma prevê a conclusão desses trâmites até o primeiro semestre de 2025.
Embora a ByteDance não tenha comentado oficialmente, autoridades brasileiras consideram a participação da companhia uma oportunidade para atrair outros gigantes de tecnologia. Dados da consultoria IDC apontam crescimento médio de 23 % ao ano no mercado latino-americano de colocation entre 2023 e 2027, impulsionado por demandas de inteligência artificial generativa.
O que muda para o leitor: caso o cronograma seja cumprido, usuários finais poderão ter acesso mais rápido a vídeos, jogos on-line e aplicações de IA que exigem baixa latência. Para profissionais de tecnologia, o projeto abre vagas em engenharia de dados, cibersegurança e manutenção de hardware de ponta. Para investidores, o empreendimento confirma a atratividade do Nordeste como destino de capitais em infraestrutura digital.
Curiosidade
Você sabia que um data center de 300 MW pode consumir energia equivalente à de uma cidade de 250 mil habitantes? A diferença é que, no caso de Pecém, toda essa demanda virá de parques eólicos, reduzindo emissões de carbono e servindo de vitrine para outras iniciativas de computação verde no Brasil.
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