A Netflix contratou o banco de investimentos Moelis & Co. para avaliar a aquisição de parte dos ativos da Warner Bros Discovery, um dos conglomerados mais tradicionais de Hollywood. A possível operação, revelada pela agência Reuters, inclui os estúdios de cinema e televisão, além dos serviços de streaming HBO e HBO Max, que concentram franquias de grande alcance, como Harry Potter e Batman.
Movimento sinaliza nova fase de consolidação no streaming
De acordo com fontes próximas às negociações, a Netflix já teve acesso aos dados financeiros da Warner Bros Discovery, etapa considerada avançada nos processos de due diligence que antecedem uma oferta formal. Caso o negócio prossiga, marcará uma mudança relevante na trajetória da empresa comandada por Ted Sarandos, historicamente focada em crescimento orgânico.
O setor de mídia passa por uma reconfiguração acelerada. A queda da audiência da TV linear e o aumento da competição entre plataformas digitais levaram grandes grupos a buscar fusões para ganhar escala e diluir custos de produção. Segundo especialistas em entretenimento consultados pelo mercado financeiro, a entrada da Netflix nesse jogo indica que até líderes consolidados percebem a consolidação como caminho inevitável para sustentar rentabilidade.
O que está na mesa: estúdios e streaming, mas não canais de TV a cabo
A proposta em estudo contempla apenas os estúdios de cinema e televisão da Warner Bros Discovery e as operações de streaming vinculadas à marca HBO. Canais de TV por assinatura, como CNN, TNT, Food Network e Animal Planet, ficariam de fora do pacote. O próprio co-CEO Ted Sarandos reiterou em apresentação recente a investidores que a companhia não planeja investir em mídia tradicional, concentrando esforços em conteúdo sob demanda e distribuição digital.
Relatórios internos indicam que o núcleo de franquias consagradas da Warner é visto como o principal atrativo. Títulos baseados no universo bruxo criado por J. K. Rowling e a série de filmes do Cavaleiro das Trevas poderiam ampliar de forma imediata o alcance do catálogo global, oferecendo benefícios tanto em aquisição de assinantes quanto em retenção.
Reestruturação da Warner abre brecha para ofertas
Desde o início de 2024, a Warner Bros Discovery avalia alternativas estratégicas para reduzir endividamento e destravar valor para acionistas. O conselho recebeu pelo menos três propostas não solicitadas, entre elas uma da Skydance Media, controlada por David Ellison. Os conselheiros discutem dois caminhos principais: vender ativos selecionados ou promover uma cisão que separe a divisão de estúdios e streaming dos canais lineares.
Segundo dados oficiais divulgados no balanço mais recente, a empresa carrega dívidas superiores a US$ 45 bilhões. Analistas de mercado afirmam que a venda parcial dos estúdios poderia aliviar a pressão financeira, além de destravar sinergias para o comprador.
Potenciais impactos para a indústria e para o consumidor
Se confirmada, a transação realinharia forças no entretenimento. A Netflix adicionaria franquias de forte apelo comercial, enquanto a Warner focaria recursos em propriedades remanescentes ou em investimentos de nicho. Para produtores independentes, o movimento levanta preocupações sobre concentração de mercado, cenário que costuma reduzir oportunidades de distribuição e negociação de direitos.
O Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos (WGA) já se manifestou contra a possibilidade de fusão, classificando-a como prejudicial à diversidade criativa. Em nota pública, a entidade argumenta que conglomerados com presença dominante tendem a padronizar conteúdo e impor condições menos favoráveis a roteiristas e estúdios menores.
Como o negócio avançaria
Com apoio do Moelis & Co., a Netflix está analisando receitas, custos operacionais e projeções de sinergia, processo que envolve modelos de integração de equipes, catálogo e tecnologia de streaming. Executivos avaliam ainda a compatibilidade de contratos de licenciamento existentes, especialmente nos mercados europeu e asiático, onde a Warner mantém acordos vigentes com terceiros.
Embora nenhuma oferta oficial tenha sido apresentada, o acesso a informações contábeis sugere que a negociação superou a fase preliminar de sondagem. O próximo passo seria a definição de um valor indicativo, seguido de negociações exclusivas ou de um leilão competitivo, caso outros interessados se apresentem.

Imagem: Walter Cicchetti
Riscos regulatórios entram na conta
Autoridades antitruste dos Estados Unidos e da União Europeia monitoram de perto movimentos de consolidação no setor. Casos recentes, como a aquisição da 20th Century Fox pela Disney e o acordo MGM–Amazon, enfrentaram escrutínio sobre impacto na concorrência. Especialistas em regulação lembram que a Netflix já detém posição dominante em streaming por assinatura, o que pode aumentar exigências de desinvestimentos ou compromissos de distribuição.
O que muda para o assinante
Para o público, a eventual união significaria acesso a um portfólio mais amplo em um único ambiente de assinatura. Consumidores poderiam encontrar sagas completas, séries da HBO e filmes de super-heróis na mesma plataforma, reduzindo a fragmentação de serviços. Por outro lado, a diminuição do número de concorrentes pode limitar promoções de preço e desacelerar investimentos em produções originais de menor escala.
Segundo consultorias de mercado, conteúdos exclusivos continuam sendo o principal fator de adesão e fidelização. Caso a Netflix incorpore as franquias da Warner, o diferencial competitivo das rivais Paramount+, Disney+ e Prime Video tende a diminuir, pressionando ajustes estratégicos em 2025.
Em resumo, a operação em estudo promete redefinir o mapa do entretenimento digital. A consolidação pode facilitar a vida de quem busca conveniência, mas também acende debate sobre pluralidade de vozes e equilíbrio de poder na indústria criativa.
Curiosidade
Quando a Netflix foi fundada, em 1997, seu catálogo era composto por menos de mil DVDs enviados pelo correio. Caso o acordo com a Warner Bros Discovery avance, a empresa passará a controlar algumas das franquias mais lucrativas da história do cinema, um salto que reflete a transformação do consumo de mídia em pouco mais de duas décadas.
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