Pesquisas recentes sugerem que os neandertais possuíam um sistema de comunicação mais sofisticado do que se imaginava, aproximando-se da capacidade vocal dos humanos modernos. Modelagens computadorizadas do trato vocal, análises cranianas e avaliações interdisciplinares apontam para a produção de sons em frequências semelhantes às do Homo sapiens, reforçando a hipótese de que esses hominídeos, que viveram entre 400 mil e 40 mil anos atrás, utilizavam uma linguagem articulada.
Reconstruções 3D revelam alcance vocal próximo ao humano
Em 2009, uma equipe especializada em estudos da voz criou uma réplica digital completa do trato vocal de um neandertal, utilizando ossos fossilizados como base. A estrutura apresentou traços anatômicos relevantes — caixa torácica ampla, cavidade nasal extensa e crânio robusto — permitindo simular quais sons poderiam ser emitidos. O resultado indicou a possibilidade de um grito nasal agudo, diferente dos urros estereotipados retratados em produções culturais.
Avanços metodológicos posteriores ampliaram a compreensão desse alcance sonoro. Um trabalho de 2021, conduzido por antropólogos e engenheiros biomédicos, recriou o crânio de neandertal em alta resolução, demonstrando que esses hominídeos conseguiam reproduzir e perceber frequências entre 4 e 5 kHz. Segundo especialistas, esse intervalo auditivo é considerado essencial para distinguir consoantes e vogais, elementos-chave da fala articulada.
Evidências convergentes de uma linguagem estruturada
Os achados mais recentes, reunidos em 2023 por uma equipe multidisciplinar, integraram dados de anatomia, genética, cognição e cultura. O estudo, disponível em servidor de pré-impressão, comparou traços vocais de neandertais com registros de Homo sapiens contemporâneos e concluiu que as diferenças morfológicas não seriam suficientes para impedir uma comunicação verbal. De acordo com os autores, a principal distinção estaria na ressonância nasal levemente superior nos neandertais, sem impacto significativo na inteligibilidade da fala.
Relatórios indicam que a complexidade cerebral desses hominídeos também sustenta a hipótese de linguagem. A caixa craniana dos neandertais acomodava um cérebro volumoso, com regiões associadas à expressão linguística comparáveis às do ser humano atual. Segundo especialistas, esse fator, aliado a indícios de práticas artísticas e comportamentos sociais organizados, reforça uma predisposição biológica para a comunicação avançada.
Origem da linguagem humana permanece em debate
A comunidade científica ainda discute a datação exata do surgimento da linguagem no gênero Homo. Estimativas recentes oscilam entre 135 mil e 2 milhões de anos, refletindo diferentes interpretações de fósseis, artefatos e vestígios culturais. Nesse contexto, os neandertais representam uma peça crucial: se comprovada a existência de fala articulada nesse grupo, o ponto de partida da linguagem poderia recuar substancialmente no tempo evolutivo.
Ainda que o tema continue em investigação, o conjunto crescente de evidências desafia a imagem de neandertais como criaturas brutas. Estudos comparativos com Homo sapiens mostram que ambos compartilharam territórios e, possivelmente, práticas culturais durante milhares de anos. Para alguns pesquisadores, essa convivência teria favorecido a troca de conhecimento linguístico e a adoção de sistemas comunicativos mais sofisticados.
Impacto potencial para a paleoantropologia e a educação
Se confirmado que neandertais dominavam linguagem complexa, o entendimento sobre o desenvolvimento cognitivo humano deverá ser revisado. Livros didáticos, exposições em museus e recursos audiovisuais poderão adotar abordagens menos simplificadoras, destacando a proximidade cultural e biológica entre esses hominídeos e a nossa espécie. No campo acadêmico, a descoberta impulsionaria novas linhas de pesquisa sobre a evolução da fala, influenciando desde estudos de genética até investigações arqueológicas.

Imagem: RaveeCG
Para o público em geral, a revisão desse paradigma pode alterar a forma como a pré-história é percebida, estimulando maior interesse por ciência, história e linguagem. Além disso, tecnologias de síntese de voz, usadas em produções documentais ou em realidade virtual, poderão explorar reconstruções mais fidedignas do som neandertal, aproximando a experiência educacional da realidade científica.
Curiosidade
Embora neandertais e Homo sapiens tenham compartilhado a Europa por milhares de anos, estudos genéticos mostram que os dois grupos chegaram a cruzar entre si, deixando traços de DNA que ainda persistem em populações atuais. Se ambos já utilizavam linguagem articulada, o intercâmbio cultural pode ter incluído empréstimos linguísticos semelhantes ao que ocorre entre idiomas modernos — um lembrete de que a comunicação sempre esteve no centro da evolução humana.
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