SANTO ANTÔNIO DO TAUÁ (PA) — A Natura e a Siemens iniciaram, em novembro, um programa de digitalização de processos produtivos em comunidades amazônicas, combinando automação industrial, simulação computacional e análise de dados em tempo real. Batizado de Moiru — palavra tupi que significa “ajuda mútua” — o projeto estreou na Cooperativa de Campo Limpo, onde produtores extraem óleos essenciais de espécies nativas.
Gêmeo digital otimiza extração de óleos essenciais
A fase piloto começou com a criação de um gêmeo digital da dorna de extração. Técnicos da Siemens mapearam o comportamento físico e químico do processo por meio de modelagem CFD (Computational Fluid Dynamics). Em seguida, sensores e válvulas inteligentes passaram a medir temperatura, pressão e volume em tempo real, permitindo ajustes automáticos pelo operador.
Segundo engenheiros envolvidos, a aplicação dessa arquitetura reduziu perdas de matéria-prima, diminuiu o consumo de energia e água e elevou a estabilidade da produção. Embora os números exatos não tenham sido divulgados, a Natura informa que a eficiência cresceu a ponto de gerar “maior rentabilidade” para a comunidade.
Com dados transmitidos continuamente, os cientistas da empresa de cosméticos analisam variáveis de qualidade e criam novos parâmetros de formulação. “As informações capturadas hoje servirão de base para bioingredientes com pegada ambiental menor amanhã”, relatam pesquisadores internos.
Modelo replicável de Indústria 4.0 na floresta
O Moiru integra a plataforma Tech4Amazonia, iniciativa global da Siemens que direciona tecnologias de automação para soluções ambientais. Ao mesmo tempo, reforça a estratégia da Natura de consolidar um ecossistema de inovação na região rumo ao futuro Centro de Inovação em Benevides (PA), previsto para operar como polo de P&D da bioeconomia.
Especialistas em cadeias de suprimentos afirmam que o uso de soluções típicas da Indústria 4.0 em contextos sociobiodiversos marca um avanço na tentativa de conciliar produtividade e conservação. “A coleta de dados precisa e a simulação virtual aumentam a previsibilidade, o que atrai investimentos e reduz risco operacional”, explica um consultor da área de sustentabilidade corporativa.
Além de otimizar a extração, o modelo pode ser copiado por outras cooperativas. Relatórios internos da Siemens indicam que a plataforma é modular, suportando diferentes escalas de produção e tipos de biomassa. Isso abre caminho para ampliar o portfólio de bioativos amazônicos, fundamental em segmentos de cosméticos, alimentos e medicamentos.
Impacto ambiental e social
De acordo com dados oficiais do governo federal, o desmatamento na Amazônia caiu 48% entre janeiro e novembro deste ano em relação a 2022. A combinação de políticas de controle com projetos de geração de renda, como o Moiru, tende a fortalecer esse movimento. “Quando a comunidade ganha mais ao manter a floresta em pé, existe incentivo econômico direto para conservar”, pondera um pesquisador de políticas públicas.
No nível local, os operadores relatam ganhos práticos imediatos. A automação reduziu trabalho manual, enquanto a interface digital simplificou o monitoramento de variáveis críticas. Paralelamente, oficinas de capacitação técnica foram promovidas para que os próprios moradores realizem manutenção básica nos sensores.
Já no âmbito global, a Natura enxerga o projeto como preparação para a COP30, que será sediada em Belém em 2025. A empresa planeja apresentar resultados consolidados da digitalização como evidência de que bioeconomia e tecnologia podem caminhar juntas.

Imagem: Getty
Tendências e próximos passos
Os dados gerados pelo Moiru alimentam algoritmos de inteligência artificial que buscam correlações entre condições ambientais e rendimento de óleo. A expectativa é ajustar a colheita de forma preditiva, reduzindo desperdícios. A Siemens estuda ainda implementar realidade aumentada para assistência remota, diminuindo deslocamentos de técnicos até áreas de difícil acesso.
Caso o ritmo de expansão se mantenha, o projeto poderá favorecer parcerias com fundos de investimento de impacto, ampliando o alcance para outros estados da região Norte. Governos locais, por sua vez, consideram oferecer incentivos fiscais a iniciativas que comprovem redução significativa de emissões.
Análise de impacto para o leitor: a introdução de gêmeos digitais e sensores em cooperativas rurais sinaliza que tecnologias antes restritas a grandes plantas industriais estão chegando a pequenas produções. Para o consumidor final, isso pode representar produtos de origem vegetal com menor custo ambiental e rastreabilidade garantida, algo cada vez mais valorizado no mercado.
Curiosidade
O termo “dorna” usado na extração de óleos essenciais vem da engenharia naval e designa um grande recipiente cilíndrico originalmente empregado no processamento de peixes. Adaptado à realidade amazônica, o equipamento agora recebe monitoramento digital e algoritmos de IA, demonstrando como elementos tradicionais podem se beneficiar das mesmas soluções que controlam linhas de montagem automotivas.
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