A HBO estreou em 2021 uma nova versão de Cenas de um Casamento, obra dirigida pelo cineasta sueco Ingmar Bergman em 1973. A adaptação, conduzida pelo roteirista israelense Hagai Levi, traz os atores Jessica Chastain e Oscar Isaac nos papéis principais, propondo uma releitura contemporânea do clássico que investigou as dinâmicas conjugais de forma inédita para a televisão da época.
De Bergman a Levi: meio século de diferenças
Lançada originalmente na TV sueca, a minissérie de Bergman surpreendeu ao transpor um tema intimista para a televisão, então vista como veículo secundário ao cinema. O diretor baseou o roteiro em experiências ao lado da atriz Liv Ullmann, que também estrelou a produção. Um ano após a exibição, Bergman condensou o conteúdo em longa-metragem para exibição nos cinemas.
Quase cinquenta anos depois, Hagai Levi—conhecido por séries como Betipul (Em Terapia) e Our Boys)—assumiu a tarefa de atualizar a narrativa ao século XXI. Segundo especialistas em produção televisiva, a iniciativa busca dialogar com um público habituado ao streaming, ao mesmo tempo em que preserva o caráter intimista da obra original.
A principal mudança promovida por Levi ocorre na distribuição de poder entre o casal. Na nova versão, Mira (Jessica Chastain) é presidente de uma empresa de tecnologia e principal responsável pela renda familiar. Já Jonathan (Oscar Isaac), professor de filosofia, divide o tempo entre aulas, cuidados domésticos e atenções à filha do casal. Essa inversão de papéis coloca a mulher no centro de decisões profissionais e sentimentais, incluindo o caso extraconjugal que precipita a crise.
Escolhas de direção e diálogo com a pandemia
Para reforçar o contraste entre ficção e bastidor, cada episódio se inicia com uma sequência em formato de making of. Câmeras em movimento mostram técnicos, iluminação e ajustes de cenário antes do “gravando”. No capítulo final, esse recurso migra para o encerramento, selando a proposta de revelar o teatro por trás da intimidade conjugal. De acordo com relatórios de bastidores divulgados pela HBO, essas cenas são as únicas acompanhadas de trilha musical.
As gravações ocorreram em plena pandemia de Covid-19, motivo pelo qual a equipe aparece de máscara nas imagens de bastidor. A circunstância adiciona camada de interpretação: muitos casais viveram confinamento prolongado no período, testando rotinas e relacionamentos. Levi optou por registrar esse contexto sem inserir o tema no roteiro, mantendo a crise do casal no centro da história.
O texto combina momentos de grande carga dramática com diálogos densos, marcados por reflexões filosóficas sobre compromisso, desejo e responsabilidade. Críticos apontam que o resultado mantém a essência bergmaniana de expor contradições humanas, ainda que sob ritmo narrativo adequado a audiências atuais, habituadas a maratonar séries.
Elenco, representatividade e equidade de cena
Jessica Chastain e Oscar Isaac, que já haviam contracenado no cinema, aceitaram o projeto sob a condição de exibir igualdade nas cenas de nudez. Em entrevista divulgada pelo estúdio, Chastain deixou claro que não teria objeção a cenas íntimas, desde que o colega também estivesse em condição equivalente. A exigência, prontamente atendida por Levi, reflete discussões contemporâneas sobre representatividade e equilíbrio de gênero diante das câmeras.

Imagem: Internet
A escolha de Isaac para o papel do marido também permitiu a Levi inserir traços autobiográficos no personagem, como a origem em família judaica ortodoxa e o afastamento gradual da religião. Segundo dados oficiais da produção, essas referências servem para ampliar o diálogo com públicos diversos sem afastar o foco principal: a desconstrução do relacionamento de um casal.
Impacto no mercado de streaming
Ao investir na atualização de um título clássico, a HBO reforça a estratégia de oferecer conteúdos autorais e de alta qualidade para competir com outros serviços de streaming. Analistas de mercado observam que a minissérie ajuda a plataforma Max a manter o catálogo equilibrado entre estreias de franquias populares e produções de apelo crítico. Com cinco episódios de aproximadamente uma hora, Cenas de um Casamento segue a linha de dramas curtos que favorecem maratona rápida, prática valorizada pelo público.
Para o espectador, a nova versão propõe reflexão sobre modelos de família, divisão de responsabilidades e efeitos de pressões profissionais no cotidiano. A inversão de papéis entre provedora e cuidador estimula debates sobre expectativas de gênero, tornando a obra atual sem renegar a profundidade existencial que marcou o original de 1973.
Curiosidade
A primeira exibição da versão sueca em 1973 gerou aumento significativo nas taxas de divórcio na Escandinávia, segundo registros da época. Já a adaptação de 2021 foi lançada em plena pandemia, momento no qual diversos tribunais ao redor do mundo relataram crescimento nos pedidos de separação. A coincidência histórica ressalta como a narrativa continua a ecoar transformações sociais relacionadas ao casamento.
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