O setor musical brasileiro gerou R$ 116 bilhões em 2024, impulsionado principalmente por shows ao vivo. O dado integra o estudo “O PIB da Música no Brasil”, divulgado pela Associação Nacional da Indústria da Música (Anafima) e apresentado no evento Conecta + Música e Mercado, em São Paulo, na última quinta-feira, 18.
Shows respondem por mais de 80% da receita total
De acordo com o levantamento, apresentações ao vivo movimentaram R$ 94 bilhões, o equivalente a 81% de toda a receita do setor no ano passado. Em seguida aparecem a compra e venda de equipamentos de áudio (R$ 13,9 bilhões), gravação e distribuição de música gravada, que inclui streaming e discos (R$ 3,4 bilhões), incentivos públicos (R$ 2,6 bilhões) e arrecadação de direitos autorais (R$ 1,8 bilhão).
Para Daniel A. Neves, presidente da Anafima, os números comprovam a relevância econômica da música. Ele afirma que o mercado “ainda recebe muito pouco investimento em relação ao PIB” e defende a ampliação de mecanismos de incentivo fiscal. Especialistas do setor apontam que políticas de fomento podem acelerar a profissionalização de artistas e empresas, além de reduzir a dependência de eventos presenciais, hoje responsáveis pela maior parte da receita.
Streaming domina música gravada, mas compositores ficam com pequena fatia
Dentro do segmento de música gravada, 87% dos R$ 3,4 bilhões vieram de plataformas de streaming. Dados divulgados no estudo indicam que o Spotify detém 60,7% de participação nesse mercado, consolidando o Brasil entre os dez maiores consumidores de streaming do mundo.
Apesar do avanço dos serviços digitais, apenas R$ 250 milhões — cerca de 7% do total gerado pelo segmento — foram repassados a compositores em forma de direitos autorais. Segundo Daniel A. Neves, esse desequilíbrio reforça que “o artista, o compositor ou o intérprete não é recompensado como deveria”. Organizações de gestão coletiva de direitos argumentam que revisões contratuais e maior transparência nas plataformas são caminhos para ampliar a remuneração dos criadores.
Relatórios do mercado fonográfico mostram tendência de crescimento acelerado do streaming nos próximos anos, mas alertam para a necessidade de modelos de pagamento mais justos. Caso não haja mudanças, parte da cadeia de valor corre o risco de estagnação, o que pode afetar a diversidade de repertório e a sustentabilidade de novos talentos.
Sudeste concentra mais de metade das empresas do setor
O estudo também traçou a distribuição geográfica da indústria fonográfica. O Sudeste abriga 53% das empresas, seguido pelo Sul (17,4%), Nordeste (17,2%), Centro-Oeste (8,6%) e Norte (4%). De acordo com especialistas, a concentração reflete infraestrutura mais robusta, maior poder aquisitivo e presença de grandes centros urbanos, responsáveis por atrair investimentos e grandes turnês.

Imagem: Kristy Sparow
Entidades regionais defendem políticas específicas para descentralizar o mercado, como linhas de crédito orientadas a microempresas de produção cultural fora do eixo Rio-São Paulo. A adoção desses mecanismos pode ampliar a oferta de empregos e diversificar a cena musical, potencializando o consumo local e nacional.
Impactos para profissionais e consumidores
Para quem atua na cadeia musical, o crescimento de 2024 sinaliza oportunidades em áreas como produção de eventos, marketing digital e venda de equipamentos de áudio. Já o público tende a encontrar maior oferta de shows e festivais, além de catálogos de streaming cada vez mais extensos. No entanto, a baixa remuneração dos compositores coloca em evidência um ponto de atenção: se a distribuição de receitas não se tornar mais equilibrada, a inovação artística pode ser comprometida.
Para entender como outros segmentos do entretenimento também vêm evoluindo, confira mais análises em nossa seção de Entretenimento.
Curiosidade
Você sabia que a primeira gravação de som no Brasil ocorreu em 1902, com o lundu “Isto é Bom”, de Xisto Bahia? Desde então, o setor presenciou saltos tecnológicos que desembocam hoje no domínio do streaming — justamente o formato que, segundo o estudo da Anafima, concentra quase 90% da receita de música gravada no país.
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