Em 1930, o então desconhecido John Wayne chegou perto de ser dispensado de “The Big Trail”, produção que marcaria sua primeira atuação como protagonista em Hollywood. A ameaça de demissão ocorreu após uma forte infecção gastrointestinal que manteve o ator fora do set por três semanas e colocou em risco o cronograma do longa.
Produção ambiciosa e riscos financeiros
Dirigido por Raoul Walsh, “The Big Trail” foi concebido para celebrar o centenário da Trilha do Oregon. O estúdio investiu em uma tecnologia inédita na época: o formato de 70 mm batizado de Fox Grandeur. Segundo dados oficiais da Fox Film Corporation, o projeto mobilizou filmagens em sete estados norte-americanos, utilizou cerca de 700 figurantes indígenas e contou com cinco elencos diferentes para versões em inglês, espanhol, italiano, francês e alemão.
A aposta em um novo padrão de exibição demandou salas equipadas com projetores especiais, algo raro durante a Grande Depressão. Relatórios da época indicam que poucos cinemas estavam preparados para receber o sistema, o que comprometeu a bilheteria e aumentou a pressão sobre o elenco para cumprir prazos e evitar custos adicionais.
Doença, perda de peso e ameaça de substituição
Durante as gravações em Yuma, Arizona, Wayne – registrado como Marion Robert Morrison – contraiu uma infecção conhecida popularmente como “Montezuma’s Revenge”. Em entrevista publicada em 1971, ele relatou ter perdido 18 libras (cerca de 8 kg) e ficado “deitado por três semanas, vomitando e com febre”. A prolongada ausência levou a equipe a cogitar a troca do protagonista para não atrasar a caravana de mais de 20 wagons que cruzava desertos e cânions em cena.
Quando finalmente retornou, o ator foi lançado diretamente em sequências físicas. A primeira exigia que ele carregasse o veterano Tully Marshall nos ombros enquanto atravessava o set. Wayne revelou que, ainda debilitado, precisou beber uísque verdadeiro usado como adereço em cena. “Eu estava há dias sem comer direito e fui obrigado a engolir bebidas fortes; terminei o plano, mas quase desmaiei em seguida”, recordou.
Impacto na carreira do ator e no gênero western
A despeito do fracasso comercial inicial, “The Big Trail” é hoje considerado um marco técnico e artístico. O longa detém 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, embora baseado em um número restrito de críticas modernas. Especialistas em cinema apontam que a experiência acumulada por Wayne nas filmagens – superando doenças, clima extremo e cenas arriscadas – moldou sua imagem de resiliência, explorada em sucessos posteriores como “Stagecoach” (1939) e “The Searchers” (1956).
Para o gênero western, o filme abriu caminho para o uso de formatos panorâmicos que décadas depois se tornariam padrão em épicos de Hollywood. Historiadores afirmam que, apesar das limitações técnicas da época, a profundidade de campo e os planos abertos de “The Big Trail” influenciaram produções como “How the West Was Won” (1962) e “Lawrence of Arabia” (1962), ambas reconhecidas pela fotografia em grande escala.

Imagem: Internet
O que muda para o público de hoje
A redescoberta de “The Big Trail” demonstra como inovações tecnológicas podem ser subestimadas em um primeiro momento, mas se tornam referência décadas depois. Para o espectador contemporâneo, versões restauradas em alta resolução permitem apreciar detalhes de cenografia, figurinos e paisagens que passaram despercebidos em exibições originais. Além disso, a história de bastidores ressalta a importância de condições de trabalho adequadas em produções que exigem deslocamentos longos e equipes numerosas.
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Curiosidade
Embora fosse um épico de grande orçamento, “The Big Trail” foi lançado simultaneamente em versões de 35 mm e 70 mm. A duplicidade era uma estratégia para garantir exibição em todos os cinemas, mas acabou diluindo a receita, pois muitos espectadores optaram pela cópia convencional mais barata. Ironicamente, as raras cópias em 70 mm preservadas hoje são as mais valiosas para estudiosos de restauração.
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