O Telescópio Espacial James Webb (JWST) identificou, pela primeira vez, a composição química detalhada de um disco de gás e poeira que circunda CT Cha b, objeto jovem com massa estimada em 17 vezes a de Júpiter. As medições apontam a presença de moléculas ricas em carbono, fornecendo indícios de que o material pode estar em pleno processo de originar satélites naturais. O corpo celeste está a 625 anos-luz da Terra, na constelação de Camaleão, e orbita uma estrela com apenas dois milhões de anos.
Observações inéditas com instrumento de infravermelho médio
Para chegar aos resultados, a equipe liderada por Sierra Grant, do Carnegie Institution for Science, e por Gabriele Cugno, da Universidade de Zurique, utilizou o espectrógrafo de média resolução do instrumento MIRI (infravermelho médio) do Webb. A análise espectral permitiu catalogar acetileno, benzeno, dióxido de carbono, diacetileno, etano, cianeto de hidrogênio e propino – compostos considerados fundamentais para a formação de grãos sólidos que podem aglutinar-se em futuras luas. Segundo especialistas consultados pela NASA, a variedade molecular supera o que já havia sido medido em discos similares.
CT Cha b foi descoberta em 2006 pelo Very Large Telescope (VLT), no Chile, por meio de imagem direta. Desde então, o objeto vem sendo classificado ora como planeta gigante, ora como anã marrom de baixa massa, porque sua posição está próxima ao limite que separa as duas categorias. Modelagens recentes apontam que o corpo desloca-se em torno de sua estrela a 440 unidades astronômicas (cerca de 65 bilhões de quilômetros), distância quase 15 vezes maior que a órbita de Netuno em relação ao Sol.
Evolução química independente
Relatórios indicam que a composição do disco em torno de CT Cha b difere significativamente daquela verificada no disco circumestelar que envolve a própria estrela anfitriã. A hipótese dos pesquisadores é que os processos químicos ocorreram de forma autônoma nos últimos dois milhões de anos, levando à abundância de carbono agora confirmada. “As medições mostram o material que está sendo incorporado ao planeta e, possivelmente, às luas em formação”, afirmou Cugno em comunicado oficial.
A detecção reforça a tese de que a diversidade de satélites em sistemas planetários pode ser maior do que a de planetas propriamente ditos. Júpiter e Saturno, apenas dentro do Sistema Solar, contabilizam 95 e 274 luas confirmadas, respectivamente. A extrapolação desses números para sistemas extrasolares sugere um universo repleto de corpos menores que orbitam gigantes gasosos.
Impacto para a pesquisa de exoluas
Apesar de ainda não haver confirmação direta de exoluas, alguns candidatos vêm sendo analisados por telescópios espaciais nos últimos anos. A possibilidade de o Webb acompanhar em tempo real o “nascimento” desses satélites oferece um meio de validar modelos de formação que, até então, dependiam de simulações. De acordo com dados oficiais da NASA, o nível de detalhe obtido pelo infravermelho médio permite estimar temperaturas, pressões e densidades no interior do disco protoplanetário.
A próxima etapa do projeto inclui a observação prolongada de CT Cha b em diferentes comprimentos de onda, a fim de mapear regiões específicas onde grãos de gelo e poeira começam a coagular. Paralelamente, o consórcio pretende comparar esse objeto com outros discos suspeitos de gerar luas, buscando padrões que expliquem por que determinados sistemas retêm maior abundância de carbono. Segundo especialistas em astrofísica, a resposta pode ajudar a esclarecer como se formaram satélites como Io, Europa e Titã.
O que muda para o público e para a indústria espacial
Para o leitor, a pesquisa amplia o entendimento sobre a origem de corpos celestes que, no futuro, poderão ser alvos de exploração científica ou, eventualmente, de missões tripuladas. Já para a indústria espacial, o avanço demonstra que instrumentos de última geração, como o JWST, são capazes de fornecer dados de alta precisão sobre sistemas ainda em formação, abrindo caminho para novos contratos de observação, desenvolvimento de sensores aprimorados e parcerias internacionais em ciência planetária.

Imagem: Shutterstock
Interessados em acompanhar a evolução do estudo podem visitar a publicação dos resultados na revista The Astrophysical Journal Letters. A comunidade astronômica aguarda agora a confirmação de eventuais aglomerações de material que indiquem o surgimento das primeiras exoluas ao redor de CT Cha b.
Se você gosta de acompanhar investigações sobre discos protoplanetários e formação de satélites, vale a pena conferir outras descobertas recentes da missão Webb sobre atmosferas de exoplanetas, disponíveis na seção de tecnologia do nosso site. Para continuar lendo conteúdos similares, acesse a categoria Tecnologia e mantenha-se informado.
Este é mais um marco que evidencia como o James Webb vem revolucionando a observação do cosmos. Continue acompanhando nossas publicações para não perder as próximas etapas desse e de outros projetos de fronteira na astronomia.
Curiosidade
Você sabia que o primeiro indício de um disco formador de luas fora do Sistema Solar foi sugerido apenas em 2017? Na época, o telescópio Alma identificou estruturas ao redor do objeto PDS 70c, mas a resolução não permitiu confirmar a composição. O Webb, com espelho de 6,5 metros, oferece sensibilidade 100 vezes maior no infravermelho, tornando viável estudar com detalhes a química desses ambientes. Esse avanço abre a possibilidade de detectar sinais de processos similares aos que originaram as mais de 400 luas conhecidas entre Júpiter e Saturno.
Para mais informações e atualizações sobre tecnologia e ciência, consulte também:
Quando você efetua suas compras por meio dos links disponíveis aqui no RN Tecnologia, podemos receber uma comissão de afiliado, sem que isso acarrete nenhum custo adicional para você!

