Guillermo del Toro escolheu recontar “Frankenstein” sob uma ótica própria e decidiu retirar um dos elementos visuais mais conhecidos do monstro: os parafusos no pescoço. Na produção estrelada por Jacob Elordi como a criatura e Oscar Isaac no papel de Victor Frankenstein, o realizador mexicano pretende oferecer um olhar menos grotesco e mais humanizado sobre o ser costurado a partir de vários cadáveres.
Uma criatura sem parafusos, mas com propósito
Desde as primeiras adaptações cinematográficas da obra de Mary Shelley, os parafusos – ou eletrodos – no pescoço tornaram-se símbolo universal do personagem. Del Toro, no entanto, justificou a remoção desse detalhe ao jornal The New York Times: ele quer que o público enxergue a criatura como uma “alma recém-nascida”, não como resultado de um experimento malfadado. Ao dispensar o artifício, o diretor pretende marcar distância das representações populares e permitir que o espectador acompanhe a evolução do personagem, do nascimento à formação de consciência.
Segundo o cineasta, a escolha estética reforça uma abordagem quase poética. Em vez de um corpo remendado de forma mecânica, a criatura surge como obra de arte esculpida por Victor, visto aqui mais como artista do que como médico. Cada detalhe do corpo, explicou Del Toro, foi pensado para refletir esse impulso criador, beirando o divino. O resultado, nas palavras do diretor, é um Frankenstein que busca “pureza” e “translucidez”, carregando inocência antes de compreender sua própria existência.
Elenco de peso reforça a releitura
Além do protagonismo de Jacob Elordi e Oscar Isaac, a produção reúne nomes reconhecidos do cinema contemporâneo. Mia Goth, Charles Dance, Lars Mikkelsen, David Bradley, Christian Convery e Christoph Waltz completam o elenco. Essa combinação de atores experientes e talentos em ascensão indica a intenção do projeto de falar a diferentes gerações de espectadores e destacar nuances dos personagens.
Descrito pelo próprio Del Toro como “projeto dos sonhos”, o filme mantém a essência do romance publicado em 1818, mas atualiza a forma de abordá-lo. A narrativa continua centrada na tentativa humana de dominar a vida e na consequente responsabilidade por aquilo que se cria, temas que permanecem relevantes em períodos de avanço biotecnológico.
Maquiagem: dez horas diárias para 42 próteses
Para alcançar o visual pretendido, oito artistas de maquiagem trabalharam cerca de dez horas por dia na transformação de Jacob Elordi. De acordo com um vídeo de bastidores divulgado pela Netflix, foram aplicadas 42 próteses sintéticas, sendo 14 apenas no rosto, cabeça e pescoço. O processo detalhado buscava evitar a aparência “cartunesca” que muitas vezes caracteriza o monstro em adaptações anteriores.
Sem os parafusos, os profissionais precisaram enfatizar sutilezas, como texturas de pele, tonalidades e imperfeições sutis que indicassem a união de diferentes partes do corpo. Esse cuidado visual contribui para a proposta de humanizar a criatura, permitindo que o espectador perceba sentimentos complexos por trás do semblante composto.
Lançamento em dois tempos
Conforme planejamento divulgado pela Netflix, “Frankenstein” terá exibição de duas semanas em cinemas selecionados antes de chegar ao streaming em 7 de novembro. A estratégia segue o modelo adotado por produções recentes, que buscam visibilidade em salas de exibição para, depois, ampliar o alcance na plataforma on-demand. A escolha ainda oferece ao filme elegibilidade para premiações que exigem lançamento em salas comerciais.
Especialistas do setor destacam que a janela reduzida entre cinema e streaming responde a mudanças de comportamento do público, cada vez mais acostumado a ver estreias em casa. Dados oficiais indicam que, desde 2020, a proporção de longas lançados simultaneamente ou com intervalo inferior a 30 dias aumentou significativamente, impulsionada por hábitos consolidados durante a pandemia.

Imagem: Internet
Impacto para o espectador e para o gênero
A rejeição dos parafusos pode parecer detalhe menor, mas sinaliza mudança de paradigma em adaptações de clássicos. Ao optar por estética menos caricata, Del Toro reforça tendência de revisitar histórias conhecidas sob lente contemporânea, focando aspectos emocionais e filosóficos. Para o público, isso significa contato com uma versão que se afasta de estereótipos e aproxima o monstro de questões humanas, como identidade e aceitação.
No mercado, a obra pode inspirar outros estúdios a investir em releituras que transcendam a fidelidade visual e priorizem novas interpretações temáticas. Ao mesmo tempo, a produção reforça a importância dos efeitos práticos — maquiagem e próteses — em era dominada por computação gráfica, demonstrando que técnicas tradicionais ainda têm espaço quando o objetivo é transmitir textura e realismo.
Para o leitor, a principal mudança está na forma de consumir uma narrativa clássica. Ver a criatura sem seus ícones visuais mais famosos pode provocar estranhamento inicial, mas também convida à reflexão sobre como símbolos são construídos e por que certas imagens se perpetuam. Ao desconstruir o arquétipo, Del Toro coloca o foco no dilema moral de Victor e nas camadas de sofrimento e descoberta do ser criado, potencializando a discussão sobre responsabilidade científica e ética.
Curiosidade
Embora os parafusos tenham sido popularizados pelo cinema dos anos 1930, eles nunca aparecem no livro original de Mary Shelley. A inovação cinematográfica, criada para ilustrar o processo de reanimação elétrica, acabou se tornando assinatura visual do personagem. Ao removê-la, Del Toro não apenas se aproxima da obra literária como também ressalta que nem todos os elementos icônicos do cinema correspondem à fonte escrita — uma lembrança de que adaptações, por mais influentes, podem distorcer detalhes do texto original.
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