A empresa canadense GHGSat confirmou o envio de mais dois satélites de monitoramento de gases de efeito estufa, elevando de 12 para 14 a sua constelação dedicada à detecção de metano. O anúncio foi feito em 5 de novembro, poucas semanas antes da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para o Brasil.
Constelação ganha reforço para atender demanda crescente
Com a frota atual de 12 satélites, a GHGSat já monitora diariamente instalações industriais em todo o mundo. Segundo a companhia, a ampliação permitirá cobrir regiões com demanda acentuada, como a Bacia do Permiano, nos Estados Unidos, onde a produção de óleo e gás é intensa. A coleta de dados praticamente em tempo real possibilita alertar operadores sobre vazamentos em poucas horas, agilizando a mitigação das emissões.
Desde o início das operações, os sensores ópticos da empresa identificam plumas de metano em refinarias, plataformas offshore, minas de carvão e aterros sanitários. A precisão orbital é apontada como diferencial competitivo em relação a satélites de uso governamental, que costumam trabalhar em resoluções espaciais mais amplas. “Conseguimos monitorar sites industriais com cadência diária e ajudar os operadores a reduzir emissões”, declarou o fundador e CEO Stéphane Germain durante a coletiva.
Clientes de peso e resultados mensuráveis
Grandes nomes da indústria energética, entre eles Saudi Aramco, Petrobras, TotalEnergies e Chevron, utilizam a plataforma para identificar falhas em tubulações, válvulas e estações de compressão. De acordo com números divulgados pela GHGSat, as informações capturadas já contribuíram para evitar cerca de 20 milhões de toneladas de CO2 equivalente, o que corresponde a retirar 4,6 milhões de automóveis das ruas por um ano.
O impacto econômico também chama atenção. Cálculos apresentados pela empresa indicam que, somente em 2024, as emissões de metano detectadas poderiam ter gerado mais de US$ 142 milhões em receita adicional para produtores de petróleo e gás nos Estados Unidos e no Canadá, se o gás tivesse sido comercializado como produto. Na Europa, a cifra supera 35 milhões de euros. “Manter o metano dentro do duto é financeiramente vantajoso”, salientou Germain.
Expansão também contempla CO₂
Além do metano, a GHGSat opera, desde 2023, um satélite dedicado ao monitoramento de dióxido de carbono em escala pontual. Segundo a companhia, o aprendizado obtido com esse primeiro equipamento será aplicado no desenvolvimento de futuras unidades, cuja produção dependerá da demanda de mercado. O CEO frisou que a cobertura oferecida por agências nacionais, como a Agência Espacial Europeia (ESA) com a missão Copernicus CO₂M prevista para 2027, atua em resolução diferente e pode ser complementar.
Especialistas ouvidos pelo setor energético observam que a combinação de dados de alta resolução, fornecidos por empresas privadas, com programas estatais de médio alcance, tende a ampliar a transparência das emissões. Essa convergência também apoia metas corporativas de redução de carbono, cada vez mais exigidas por investidores e reguladores.
Metodologia e relevância ambiental
Os satélites da GHGSat utilizam espectrômetros hiperespectrais capazes de quantificar a concentração de metano ao refletir a luz solar na superfície terrestre. A companhia informa que a detecção alcança vazamentos a partir de 100 quilogramas por hora, patamar considerado suficiente para abranger instalações relevantes do setor de energia. Depois da coleta, algoritmos de correlação geográfica apontam a fonte mais provável da emissão, e um relatório é enviado ao operador.

Imagem: GHGSAT
Relatórios de organismos internacionais indicam que o metano possui potencial de aquecimento global até 84 vezes maior que o CO2 em um horizonte de 20 anos. A redução dessas emissões é vista como uma ação de curto prazo indispensável para cumprir as metas do Acordo de Paris. Nesse contexto, a detecção por satélite oferece escala global e custos menores do que inspeções terrestres frequentes.
O que muda para o setor e para o consumidor
Com a chegada de mais dois satélites, a tendência é de ganhos em cobertura e rapidez na identificação de vazamentos, beneficiando empresas que buscam cumprir regulamentações ambientais e reduzir perdas financeiras. Para o público em geral, a transparência nos dados de emissões pode influenciar políticas de precificação de carbono e orientar decisões de consumo de energia em curto prazo.
Segundo analistas de mercado, soluções de monitoramento remoto devem ganhar espaço em regiões produtoras de petróleo da América Latina, onde parte da infraestrutura ainda carece de sensores em campo. O avanço da GHGSat pode estimular concorrência e acelerar a adoção de tecnologias semelhantes por empresas locais.
Curiosidade
O metano, embora represente apenas cerca de 0,00018% da atmosfera, responde por aproximadamente 30% do aquecimento global observado desde a Revolução Industrial. Uma das maiores fontes naturais do gás são pântanos e áreas alagadas, onde a decomposição orgânica ocorre sem oxigênio. Monitorar emissões industriais, portanto, complementa o conhecimento sobre esse ciclo natural e ajuda a identificar onde a intervenção humana pode gerar resultados rápidos na luta contra a mudança climática.
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